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Revolucionário da imagem
Pioneiro da fotografia moderna no Brasil, Geraldo de Barros ganha caixa de dois livros que reúne duas séries históricas
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
"A fotografia de Geraldo de
Barros se rege por um estatuto
da ruptura." A avaliação do crítico de arte e curador Paulo
Herkenhoff resume a decisiva
obra de Geraldo de Barros
(1923-1998), que, finalmente,
ganha uma publicação que
mostra toda a importância dele
para as artes brasileiras.
A caixa que reúne duas de
suas principais séries fotográficas, "Fotoformas" e a inédita
em livro "Sobras", chega às livrarias nesta semana em lançamento da editora Cosacnaify.
As imagens de "Fotoformas"
foram feitas entre 1948 e 1952 e
representam um dos momentos de subversão da linguagem
fotográfica da época no Brasil,
dominada então pelo pictorialismo, que se pautava por regras da pintura clássica. Teve
nomes como Thomaz Farkas,
82, e German Lorca, 84, como
parceiros dessa renovação.
"Acho que a série é o primeiro grande momento consistente da modernidade na fotografia brasileira, ainda que tardia",
afirma o crítico de fotografia
Rubens Fernandes Junior, organizador dos dois livros. "Naquele momento, ela se descola
do seu habitat, que é o mundo
visível. Essa produção e as "Sobras" podem ser vistas agora como marcos históricos."
"Ele tinha uma grande vontade de inovar, era radical mesmo", conta Farkas, companheiro dele no Foto Cine Clube
Bandeirante e no laboratório
de fotografia instalado em 1949
pelos dois no Masp (Museu de
Arte de São Paulo), quando ainda estava na rua Sete de Abril,
no centro da cidade.
Barros diferencia-se de outros pioneiros modernos por
ver a fotografia como um processo, que ultrapassava o momento do clique da imagem.
Assim, fazia intervenções no
negativo, aplicava tintas e criava sobreposições, entre diversas outras experiências.
"O real era só um ponto de
partida. Ele acrescentava nanquim e guache, usava ponta-seca no negativo, cartões perfurados. Ao contrário dos seus colegas, ele fazia do negativo uma
matriz, como se fosse uma gravura", avalia Fernandes Junior.
A série "Fotoformas" foi exposta inicialmente no Masp em
1950. Depois de redescoberta
nos arquivos por sua filha Fabiana de Barros, ganhou mostra na Suíça em 1993, no Musée
de L'Elysée, e no ano seguinte
foi exibida no MIS (Museu da
Imagem e do Som), onde teve
catálogo desenhado pelo próprio artista. Esgotado, foi reproduzido integralmente no livro atual, que acrescenta textos
de críticos como Herkenhoff,
Pietro Maria Bardi (1900-1999)
e Radhá Abramo, entre outros.
Mas Geraldo de Barros, lembram seus contemporâneos,
era um revolucionário cordial.
"Era uma pessoa muito afável.
Não deixava de ser crítico, tínhamos produções diferentes,
mas nos ajudávamos muito. Ele
me faz muita falta", diz Farkas.
"Acompanhei diversas experimentações das "Fotoformas",
nelas ele mostrava muita criatividade", conta Lorca.
"Sobras"
O conjunto "Sobras", com
mais de 300 imagens, é reunido
agora em livro após ser exibido
na mostra "A(s)simetrias", na
galeria Brito Cimino, em São
Paulo. A exposição foi premiada em 2006 na categoria fotografia pela APCA (Associação
Paulista de Críticos de Arte).
A série, a última do artista, foi
realizada a partir de registros
familiares de Barros, feitos em
temporadas de férias e em viagens com amigos. Nos anos 90,
debilitado por sucessivas isquemias, tem a ajuda de uma
assistente, Ana Moraes, para
retrabalhar as imagens. "Ele
parte de fotografias mais intimistas e, inserindo zonas brancas e negras ou recortando contornos, cria obras muito sofisticadas", diz Fernandes.
A multiplicidade e o caráter
inquieto de Barros também podem ser percebidos nas produções dele como designer e pintor. Nos anos 50 e 60 ele estava
à frente da Unilabor, uma cooperativa que fabricava móveis,
até hoje lembrada como exemplo de autogestão. "A radicalidade da obra de Geraldo se refletiu na gestão comunitária de
processos produtivos e nos
seus produtos seriados", diz o
arquiteto Mauro Claro.
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