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Análise
Fotografia de Barros é ponte para o lúdico
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ao observar em perspectiva a obra de Geraldo
de Barros, temos a exata noção de como o artista man-teve uma relação absolutamente iconoclasta com o código
fotográfico.
Ao diluir o referente e implodir a função tradicional da fotografia como mimese do real
com a série "Fotoformas"
(1948-1952), Barros foi responsável por romper no Brasil com
a tradição da fotografia pictórica, que se pautava pelos ditames da pintura acadêmica,
ainda em voga nos fotoclubes
da época.
Trair a tradição não é fácil.
Iniciado na pintura pelos artistas Clóvis Graciano e Takaoka,
Barros teve a vantagem de pensar a fotografia a partir de plataforma diferenciada em relação aos fotógrafos da sua geração. Daí a irreverência criativa
com que ele aportou na fotografia após adquirir uma Rolleiflex no final dos anos 40.
Embalado pelas vanguardas
européias do início do século
20, Barros ajudou a causar um
terremoto na fotografia brasileira. Contra o "status quo", o
experimentalismo. No lugar da
fotografia documental, a abstração e o enlevo dos efeitos da
luz sobre as formas. Em contraposição à ilusão ótica da perspectiva renascentista, a reafirmação da gênese bidimensional da fotografia. Em vez da
imagem que denuncia um espaço-tempo único e preciso, a
junção de instantes e lugares
díspares. Fotografia não mais
como prova inconteste do visível, e sim como ponte para o
imaginário e o lúdico.
A revolução empreendida
por Barros foi pautada em boa
parte pela aceitação do acaso
no processo criativo. "Acredito
que é no "erro", na exploração e
domínio do acaso que reside a
criação fotográfica. Me preocupei em conhecer a técnica apenas o suficiente para me expressar, sem me deixar levar
por excessivos virtuosismos",
escreve o próprio artista em
"Fotoformas".
O volume "Sobras" traz a
produção de Barros realizada
quase 30 anos após "Fotoformas". São colagens e montagens em que ele recorta pedaços das imagens e as recoloca
em outros contextos. No final
de sua vida, Barros viria novamente intervir no código fotográfico, desrespeitando a tradição em nome da liberdade criativa e da geração de narrativas
intertemporais. Barros se antecipou à sua geração e se tornou
o elo entre os vanguardistas do
início do século passado e a geração photoshop de hoje.
GERALDO DE BARROS - SOBRAS + FOTOFORMAS
Organização: Rubens Fernandes Junior
Editora: Cosacnaify
Quanto: R$ 140 ("Sobras", 204 págs.; "Fotoformas", 180 págs.)
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