São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

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Análise

Fotografia de Barros é ponte para o lúdico

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ao observar em perspectiva a obra de Geraldo de Barros, temos a exata noção de como o artista man-teve uma relação absolutamente iconoclasta com o código fotográfico.
Ao diluir o referente e implodir a função tradicional da fotografia como mimese do real com a série "Fotoformas" (1948-1952), Barros foi responsável por romper no Brasil com a tradição da fotografia pictórica, que se pautava pelos ditames da pintura acadêmica, ainda em voga nos fotoclubes da época.
Trair a tradição não é fácil.
Iniciado na pintura pelos artistas Clóvis Graciano e Takaoka, Barros teve a vantagem de pensar a fotografia a partir de plataforma diferenciada em relação aos fotógrafos da sua geração. Daí a irreverência criativa com que ele aportou na fotografia após adquirir uma Rolleiflex no final dos anos 40.
Embalado pelas vanguardas européias do início do século 20, Barros ajudou a causar um terremoto na fotografia brasileira. Contra o "status quo", o experimentalismo. No lugar da fotografia documental, a abstração e o enlevo dos efeitos da luz sobre as formas. Em contraposição à ilusão ótica da perspectiva renascentista, a reafirmação da gênese bidimensional da fotografia. Em vez da imagem que denuncia um espaço-tempo único e preciso, a junção de instantes e lugares díspares. Fotografia não mais como prova inconteste do visível, e sim como ponte para o imaginário e o lúdico.
A revolução empreendida por Barros foi pautada em boa parte pela aceitação do acaso no processo criativo. "Acredito que é no "erro", na exploração e domínio do acaso que reside a criação fotográfica. Me preocupei em conhecer a técnica apenas o suficiente para me expressar, sem me deixar levar por excessivos virtuosismos", escreve o próprio artista em "Fotoformas".
O volume "Sobras" traz a produção de Barros realizada quase 30 anos após "Fotoformas". São colagens e montagens em que ele recorta pedaços das imagens e as recoloca em outros contextos. No final de sua vida, Barros viria novamente intervir no código fotográfico, desrespeitando a tradição em nome da liberdade criativa e da geração de narrativas intertemporais. Barros se antecipou à sua geração e se tornou o elo entre os vanguardistas do início do século passado e a geração photoshop de hoje.


GERALDO DE BARROS - SOBRAS + FOTOFORMAS     
Organização: Rubens Fernandes Junior
Editora: Cosacnaify
Quanto: R$ 140 ("Sobras", 204 págs.; "Fotoformas", 180 págs.)


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