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Herchcovitch e Osklen dão choque de inteligência
Construtivismo da Bauhaus e "optical art" são inspiração de estilista paulista
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A temporada inverno-2008
da SPFW, que vinha num clima
de bom gosto de salão ao longo
do dia, recebeu um choque de
inteligência com as coleções
das grifes Herchcovitch;Alexandre e Osklen.
Herchcovitch acertou do início ao fim, com um trabalho
perfeccionista, tanto nas roupas quanto no conceito geral,
que faz referências à "optical
art" de Victor Vasarely (nas estampas) e à arte construtivista
(nos volumes, citações ao vestuário do balé Bauhaus).
Na trilha sonora, a grife ressuscitou a compositora de vanguarda Laurie Anderson, em
"Home of the Brave", inclusive
a leitura que o escritor beatnik
William Burroughs faz no disco
homônimo. "A linguagem é um
vírus", cantava Anderson, enquanto as modelos desfilavam
num cenário "optical-xadrez".
"Home of the Brave" (terra
do bravo, expressão que vem do
hino nacional americano) é um
disco de 1986, uma reflexão
musical sobre os EUA no conservador governo Reagan e sobre a linguagem, na encruzilhada crítica do fim das rupturas
modernistas com a era pós-moderna e tecnológica.
A coleção de Herchcovitch
está conversando com um público antenado internacional,
particularmente americano
-ele desfila também em Nova
York, a mesma coleção, em fevereiro. Desde as últimas temporadas, o underground que está na base do trabalho do estilista vai se juntando progressivamente a um universo de referências artísticas de vanguarda,
caminho no qual ele só tem a
ganhar. A grife acabou de ser
vendida ao holding de gestão de
marcas I'M.
A coleção, curta e enxuta, se
dividiu entre uma fase escura e
mais construtiva, sobretudo
em cor preta, e uma outra, colorida, com listras e formas geométricas que criavam efeitos
visuais na linha "op art". O xadrez, uma das bases de estilo
mais antigas e marcantes no
trabalho de Herchcovitch, reapareceu com bastante força.
A silhueta ficou entre ampla,
nos "looks" soltinhos, e sofisticados vestidos ampulheta, em
que a modelagem exata fazia,
sem o auxílio de cinto, a divisão
entre os volumes do top e da
parte debaixo da roupa.
Um detalhe à parte foram os
belos e perversos sapatos, com
falsos saltos quadrados e grossos que eram, na verdade, apenas uma capa para saltos agulhas finos e altos. Sabiamente,
ele evitou (ufa!) as pesadonas
botas de couro que estavam
monopolizando o dia e não precisou de flores e mais flores nas
roupas, já que fez uso do floral
na estação passada, bem antes
que virasse lugar-comum.
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