São Paulo, quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

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Herchcovitch e Osklen dão choque de inteligência

Construtivismo da Bauhaus e "optical art" são inspiração de estilista paulista

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA

VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A temporada inverno-2008 da SPFW, que vinha num clima de bom gosto de salão ao longo do dia, recebeu um choque de inteligência com as coleções das grifes Herchcovitch;Alexandre e Osklen.
Herchcovitch acertou do início ao fim, com um trabalho perfeccionista, tanto nas roupas quanto no conceito geral, que faz referências à "optical art" de Victor Vasarely (nas estampas) e à arte construtivista (nos volumes, citações ao vestuário do balé Bauhaus).
Na trilha sonora, a grife ressuscitou a compositora de vanguarda Laurie Anderson, em "Home of the Brave", inclusive a leitura que o escritor beatnik William Burroughs faz no disco homônimo. "A linguagem é um vírus", cantava Anderson, enquanto as modelos desfilavam num cenário "optical-xadrez".
"Home of the Brave" (terra do bravo, expressão que vem do hino nacional americano) é um disco de 1986, uma reflexão musical sobre os EUA no conservador governo Reagan e sobre a linguagem, na encruzilhada crítica do fim das rupturas modernistas com a era pós-moderna e tecnológica.
A coleção de Herchcovitch está conversando com um público antenado internacional, particularmente americano -ele desfila também em Nova York, a mesma coleção, em fevereiro. Desde as últimas temporadas, o underground que está na base do trabalho do estilista vai se juntando progressivamente a um universo de referências artísticas de vanguarda, caminho no qual ele só tem a ganhar. A grife acabou de ser vendida ao holding de gestão de marcas I'M.
A coleção, curta e enxuta, se dividiu entre uma fase escura e mais construtiva, sobretudo em cor preta, e uma outra, colorida, com listras e formas geométricas que criavam efeitos visuais na linha "op art". O xadrez, uma das bases de estilo mais antigas e marcantes no trabalho de Herchcovitch, reapareceu com bastante força.
A silhueta ficou entre ampla, nos "looks" soltinhos, e sofisticados vestidos ampulheta, em que a modelagem exata fazia, sem o auxílio de cinto, a divisão entre os volumes do top e da parte debaixo da roupa.
Um detalhe à parte foram os belos e perversos sapatos, com falsos saltos quadrados e grossos que eram, na verdade, apenas uma capa para saltos agulhas finos e altos. Sabiamente, ele evitou (ufa!) as pesadonas botas de couro que estavam monopolizando o dia e não precisou de flores e mais flores nas roupas, já que fez uso do floral na estação passada, bem antes que virasse lugar-comum.


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