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500 ANOS
Millôr Fernandes, Antonio Abujamra e Júlio Medaglia preparam "Brasil - Outros 500" para 20 de abril
Descobrimento vai virar ópera "poop"
CYNARA MENEZES
especial para a Folha
Os 500 Anos
do Descobrimento do Brasil
não vão acabar
em samba, mas
em ópera. Sob a
batuta do maestro Júlio Medaglia,
escrita por Millôr Fernandes, dirigida por Antonio Abujamra, a
ópera "Brasil - Outros 500"
-coincidentemente xará desta
coluna- deve estrear em 20 de
abril no Teatro Municipal de São
Paulo.
Toquinho, Paulo César Pinheiro e Wagner Tiso assinam a trilha
incidental e a música original do
espetáculo, que ainda aceita inscrições (até amanhã) para quem
quiser concorrer às cinco vagas de
protagonista ou a um lugar no coro de 35 integrantes.
Além dos cantores-atores, a
ópera tem bailarinos, a Orquestra
Sinfonia Cultura e uma banda,
com efeitos de vídeo e pirotécnicos. A TV Cultura é co-produtora
do espetáculo, uma ópera "poop",
segundo Millôr Fernandes, neologismo criado por ele para mesclar
palavra, olhar, ouvido e popular.
"Sendo eu quem escreveu, não
há hipótese nenhuma de que seja
um oba-oba em torno da data",
disse Millôr, em entrevista à Folha, pelo telefone. No projeto inicial, estava prevista a co-autoria
do ex-governador do DF pelo PT
Cristovam Buarque, que não pôde participar, de acordo com Millôr, por causa de compromissos
políticos.
O que ficou no projeto, entretanto, continua a ter a cara dos
que se opõem ao que houve no
Brasil após a chegada dos portugueses. "Não é uma visão crítica
do Descobrimento, é sacana mesmo", diz o humorista. "É meu jeito de ser, não acredito nas coisas."
O roteiro de Millôr Fernandes
prevê uma rápida e irônica viagem pelos primeiros anos do Brasil, com enfoque no Descobrimento, em 1500, na Independência, em 1822, e na abolição da escravatura, em 1888.
Sempre com muito humor e alfinetadas. Um personagem não-realista, Tomé, é uma espécie de
fio condutor que passeia por todas essas datas. Quando lhe perguntam se é aquele Tomé que
precisa ver para crer, diz: "vejo e
continuo não crendo". Um alter
ego de Millôr, que admite alguns
devaneios poéticos.
"Quando o navio se afasta do
porto, com os marinheiros sem
saber se vão conseguir voltar, é
um momento poético." No meio
do oceano, enfrentam o demônio,
que o autor deseja no meio da neblina, projetado em laser.
"O demônio é a representação
da ameaça que era para eles a própria viagem. Aquelas pessoas viajavam sob o signo do medo. De
vez em quando sumia um navio e
ninguém podia fazer nada. Ninguém sabia se era verdade que havia monstros ou não", conta.
A famosa (e suposta) cena da
dor de barriga em d. Pedro quando declarou a Independência não
vai faltar, com cavalos de bumba-meu-boi em lugar dos garbosos
alazães das pinturas de época.
Para Millôr, é melhor fazer graça do que propriamente comemorar a data. Ele ironiza: "É, os
portugueses puderam invadir um
país que estava lá. O Brasil, se pudesse, também invadiria o Paraguai, Israel invadiria o Líbano.
Mas não foi tão grave quanto no
México. Pelo menos aqui não tínhamos uma civilização".
Os cantores interessados em
concorrer a um papel na ópera
tem até amanhã para enviar currículo ("Brasil Outros 500" - TV
Cultura - rua Cenno Sbrighi, 378
-Água Branca, São Paulo - SP,
CEP 05036-900). Informações pelo telefone 0/xx/11/3676-1824.
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