São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2000


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500 ANOS
Millôr Fernandes, Antonio Abujamra e Júlio Medaglia preparam "Brasil - Outros 500" para 20 de abril
Descobrimento vai virar ópera "poop"


CYNARA MENEZES
especial para a Folha


Os 500 Anos do Descobrimento do Brasil não vão acabar em samba, mas em ópera. Sob a batuta do maestro Júlio Medaglia, escrita por Millôr Fernandes, dirigida por Antonio Abujamra, a ópera "Brasil - Outros 500" -coincidentemente xará desta coluna- deve estrear em 20 de abril no Teatro Municipal de São Paulo.
Toquinho, Paulo César Pinheiro e Wagner Tiso assinam a trilha incidental e a música original do espetáculo, que ainda aceita inscrições (até amanhã) para quem quiser concorrer às cinco vagas de protagonista ou a um lugar no coro de 35 integrantes.
Além dos cantores-atores, a ópera tem bailarinos, a Orquestra Sinfonia Cultura e uma banda, com efeitos de vídeo e pirotécnicos. A TV Cultura é co-produtora do espetáculo, uma ópera "poop", segundo Millôr Fernandes, neologismo criado por ele para mesclar palavra, olhar, ouvido e popular.
"Sendo eu quem escreveu, não há hipótese nenhuma de que seja um oba-oba em torno da data", disse Millôr, em entrevista à Folha, pelo telefone. No projeto inicial, estava prevista a co-autoria do ex-governador do DF pelo PT Cristovam Buarque, que não pôde participar, de acordo com Millôr, por causa de compromissos políticos.
O que ficou no projeto, entretanto, continua a ter a cara dos que se opõem ao que houve no Brasil após a chegada dos portugueses. "Não é uma visão crítica do Descobrimento, é sacana mesmo", diz o humorista. "É meu jeito de ser, não acredito nas coisas."
O roteiro de Millôr Fernandes prevê uma rápida e irônica viagem pelos primeiros anos do Brasil, com enfoque no Descobrimento, em 1500, na Independência, em 1822, e na abolição da escravatura, em 1888.
Sempre com muito humor e alfinetadas. Um personagem não-realista, Tomé, é uma espécie de fio condutor que passeia por todas essas datas. Quando lhe perguntam se é aquele Tomé que precisa ver para crer, diz: "vejo e continuo não crendo". Um alter ego de Millôr, que admite alguns devaneios poéticos.
"Quando o navio se afasta do porto, com os marinheiros sem saber se vão conseguir voltar, é um momento poético." No meio do oceano, enfrentam o demônio, que o autor deseja no meio da neblina, projetado em laser.
"O demônio é a representação da ameaça que era para eles a própria viagem. Aquelas pessoas viajavam sob o signo do medo. De vez em quando sumia um navio e ninguém podia fazer nada. Ninguém sabia se era verdade que havia monstros ou não", conta.
A famosa (e suposta) cena da dor de barriga em d. Pedro quando declarou a Independência não vai faltar, com cavalos de bumba-meu-boi em lugar dos garbosos alazães das pinturas de época.
Para Millôr, é melhor fazer graça do que propriamente comemorar a data. Ele ironiza: "É, os portugueses puderam invadir um país que estava lá. O Brasil, se pudesse, também invadiria o Paraguai, Israel invadiria o Líbano. Mas não foi tão grave quanto no México. Pelo menos aqui não tínhamos uma civilização".
Os cantores interessados em concorrer a um papel na ópera tem até amanhã para enviar currículo ("Brasil Outros 500" - TV Cultura - rua Cenno Sbrighi, 378 -Água Branca, São Paulo - SP, CEP 05036-900). Informações pelo telefone 0/xx/11/3676-1824.



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