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Montagem usa do "ponto" ao microfone
especial para a Folha
György Ligeti é mais ou menos
conhecido do grande público como o autor da música da "viagem
sideral", lisérgica, do astronauta
do filme "2001, Uma Odisséia no
Espaço" (68), de Stanley Kubrick.
Em sua ópera "O Grande Macabro" (77), o compositor não se vale das grandes massas corais de
"Lux Aeterna" e "Requiem", utilizadas naquela trilha sonora. Porém Ligeti vai longe em termos de
ecletismo, alternando procedimentos composicionais como serialismo, exploração de microtons, "paisagens" de timbres, canto falado e polirritimia, além de
reapropriações, como a de um
minueto inteiro de Bach.
Não bastasse as complexidades
na partitura original, para grande
orquestra, tudo foi reescrito (e
abreviado de 1h40 para 58 min.)
para percussões e sequenciamentos gravados.
O trabalho coube a Paulo Sérgio
dos Santos, membro do grupo
Uakti. O músico, que durante nove anos foi convidado da Sinfônica do Estado de Minas, valeu-se
de aprendizados com professores
eruditos como Hans-Joachim
Koellreuter, durante festivais de
inverno em Ouro Preto.
"Foi um trabalho de desconstrução da partitura como um todo, e então de adaptação. Mas antes havia uma afinidade básica, já
que a percussão é muito importante nas composições modernas
para orquestra, de um modo geral", lembra Santos.
Para equilibrar os volumes e
timbres das vozes com os de sons
gravados e percussão, a produção
teve de recorrer a microfones pessoais. Ante as dificuldades rítmicas da partitura, não houve solução, apesar da grande tarimba cênica e musical de todo o elenco,
segundo os criadores: foi preciso
armar, na boca de cena, uma daquelas caixas pretas para abrigar o
"ponto" (músico que acompanha
a partitura e "sopra" o momento
das entradas e letras aos cantores), coisa que não se vê em teatro
de ópera há mais de 50 anos.
(AM)
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