São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2000


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CINEMA BERLIM
Yimou sentimental esvazia festival

AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim

Zhang Yimou livrou Berlim 2000 de um real problema. O novo filme do mestre chinês, "Wo De Fu Qin Mu Qin" (O Caminho para Casa), participa de uma mostra competitiva que tem sua ex-mulher e colaboradora, Gong Li, como presidente do júri. Fosse um concorrente forte, em caso de derrota, pareceria vingança; de vitória, proteção. Para bem ou para mal, não o é.
O novo filme de Yimou exemplifica modelarmente a diferença entre um cinema de sentimento e um sentimental. Para ficarmos em sua própria filmografia, o primeiro é "Nenhum a Menos"; o novo filme, o segundo.
Economia, foco, sutileza, estão de um lado; excesso, obviedade, dispersão, do outro.
Uma nostalgia com pendor para reacionarismo marca o novo filme. Logo numa das primeiras cenas, uma pintura tradicional e um pôster de "Titanic" opõem-se na parede de um casa interiorana. É esquemático assim.
A morte do pai leva Yusheng de volta ao vilarejo natal, de encontro a sua mãe. Ela insiste numa procissão fúnebre descartada há mais de 30 anos. Carregar o caixão a pé por quilômetros parece loucura para Yusheng.
Ele relembra então a história de amor de seus pais. O preto-e-branco das sequências atuais desaparece em favor da tradicional palheta de cores luminosas de Yimou. O pai veio jovem da cidade grande para ensinar na nova escola local. A mãe, apesar de analfabeta, era a mais prendada das beldades do vilarejo. O longo flerte é interrompido quando indefinidos problemas políticos obrigam o retorno do professor à capital regional.
Mas a produção trata de uma era em que as vilas orgulhavam-se de suas tradições, quatro estações marcavam cada ano, toda vida celebrava um único amor. É somar dois mais dois.
Há que reconhecer ao menos um triunfo. Zhang Ziyi cria uma hipnótica jovem casadoura, com o carisma e o frescor da primeira musa de Yimou. Sim, Ziyi nos lembra Gong Li. Mas a sucessora não tem um filme a ajudá-la.
Yimou era um dos dois concorrentes a ostentar um Urso de Ouro no currículo. Vencera aqui em 1986 com seu filme de estréia, "Sorgo Vermelho". O outro é Milos Forman, que apresenta amanhã seu subestimado "Man on the Moon", sobre o cômico Andy Kaufmann. O Oscar o esnobou, não indicando sequer um estupendo Jim Carrey. Tomara Berlim venha lhes fazer justiça.


Avaliação:   
O jornalista Amir Labaki viaja a convite da organização do festival


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