|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA BERLIM
Yimou sentimental esvazia festival
AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim
Zhang Yimou livrou Berlim
2000 de um real problema. O novo filme do mestre chinês, "Wo
De Fu Qin Mu Qin" (O Caminho
para Casa), participa de uma
mostra competitiva que tem sua
ex-mulher e colaboradora, Gong
Li, como presidente do júri. Fosse
um concorrente forte, em caso de
derrota, pareceria vingança; de vitória, proteção. Para bem ou para
mal, não o é.
O novo filme de Yimou exemplifica modelarmente a diferença
entre um cinema de sentimento e
um sentimental. Para ficarmos
em sua própria filmografia, o primeiro é "Nenhum a Menos"; o
novo filme, o segundo.
Economia, foco, sutileza, estão
de um lado; excesso, obviedade,
dispersão, do outro.
Uma nostalgia com pendor para reacionarismo marca o novo
filme. Logo numa das primeiras
cenas, uma pintura tradicional e
um pôster de "Titanic" opõem-se
na parede de um casa interiorana.
É esquemático assim.
A morte do pai leva Yusheng de
volta ao vilarejo natal, de encontro a sua mãe. Ela insiste numa
procissão fúnebre descartada há
mais de 30 anos. Carregar o caixão a pé por quilômetros parece
loucura para Yusheng.
Ele relembra então a história de
amor de seus pais. O preto-e-branco das sequências atuais desaparece em favor da tradicional
palheta de cores luminosas de Yimou. O pai veio jovem da cidade
grande para ensinar na nova escola local. A mãe, apesar de analfabeta, era a mais prendada das
beldades do vilarejo. O longo flerte é interrompido quando indefinidos problemas políticos obrigam o retorno do professor à capital regional.
Mas a produção trata de uma
era em que as vilas orgulhavam-se
de suas tradições, quatro estações
marcavam cada ano, toda vida celebrava um único amor. É somar
dois mais dois.
Há que reconhecer ao menos
um triunfo. Zhang Ziyi cria uma
hipnótica jovem casadoura, com
o carisma e o frescor da primeira
musa de Yimou. Sim, Ziyi nos
lembra Gong Li. Mas a sucessora
não tem um filme a ajudá-la.
Yimou era um dos dois concorrentes a ostentar um Urso de Ouro no currículo. Vencera aqui em
1986 com seu filme de estréia,
"Sorgo Vermelho". O outro é Milos Forman, que apresenta amanhã seu subestimado "Man on the
Moon", sobre o cômico Andy
Kaufmann. O Oscar o esnobou,
não indicando sequer um estupendo Jim Carrey. Tomara Berlim venha lhes fazer justiça.
Avaliação:
O jornalista Amir Labaki viaja a convite da
organização do festival
Texto Anterior: Teatro: Indignação rege peça de Brecht Próximo Texto: Memória: Screamin" Jay Hawkins morre em Paris Índice
|