São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

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"Tropa de Elite" supera favoritos e vence em Berlim

Rejeitado pela crítica estrangeira, longa de José Padilha é o segundo filme brasileiro a ganhar Urso de Ouro

Presidente do júri, Costa-Gravas diz que película, vista por 2,4 milhões de brasileiros, teve "completa aceitação" dos jurados

Hermann J. Knippertz/Associated Press
José Padilha e a atriz Maria Ribeiro posam para fotos após a premiação do 58º Festival de Berlim


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

O longa brasileiro "Tropa de Elite", de José Padilha, venceu ontem o 58º Festival de Berlim, recebendo o Urso de Ouro como o melhor filme da competição, que contou com 21 títulos. Mal recebido pela crítica, "Tropa" superou os favoritos "Sangue Negro" (que concorre a oito Oscars) e "Happy-Go-Lucky".
Ao anunciar o prêmio, o presidente do júri, o cineasta grego radicado na França Constantin Costa-Gavras ("Z"), afirmou que o longa brasileiro teve "completa aceitação" dos jurados, "que discutiram cada filme e cada detalhe dos filmes".
Ao subir ao palco, Padilha cumprimentou um por um os seis jurados e, com o Urso de Ouro nas mãos, aproximou-se do microfone e disse: "Muito obrigado! Thank you! Danke! [obrigado em alemão]. Em todas as línguas, é muito difícil explicar o que estou sentindo agora. Costa-Gavras é uma espécie de herói para todos os cineastas latino-americanos".

Crítica
A recepção da crítica internacional a "Tropa de Elite" em Berlim havia sido enfaticamente desfavorável. Publicações como a revista norte-americana "Variety" e o diário francês "Le Monde" entenderam o filme, cujo protagonista é um capitão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da PM do Rio de Janeiro, como uma apologia da tortura.
A sessão para a imprensa de "Tropa de Elite" no festival, que ocorreu no último dia 10, foi caótica, devido ao sumiço da cópia com legendas em inglês.
A versão exibida aos repórteres e críticos tinha legendas em alemão, e os jornalistas que não dominavam nem esse idioma nem o português tiveram de usar fones de ouvido com tradução simultânea.
Ainda em seu agradecimento, Padilha citou o ator Wagner Moura, que veio a Berlim para a estréia do filme no festival, mas ontem não estava na premiação, porque já havia voltado ao Brasil; a atriz Maria Ribeiro, que permaneceu em Berlim e o ouvia na platéia; o fotógrafo Lula Carvalho, os produtores e patrocinadores do filme.
Sócio de Padilha e produtor do filme, Marcos Prado também agradeceu o prêmio, dizendo que Padilha fez "o melhor filme do mundo sobre a corrupção da polícia".
Prado citou o sucesso que "Tropa de Elite" obteve no Brasil -foi o líder de bilheteria nacional de 2007, com 2,4 milhões de espectadores- e disse que o filme representa "uma realidade para os brasileiros".
O Festival de Berlim premiou como melhor diretor o norte-americano Paul Thomas Anderson, por "Sangue Negro", que recebeu ainda um prêmio pela trilha sonora, de Jonny Greenwood.
O Prêmio Especial do Júri foi para o documentário "Standard Operating Procedure" (operação padrão), de Errol Morris, sobre os abusos aos direitos humanos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque; o melhor ator foi o iraniano Reza Najie, por "Avaze Gonjeshk-ha" (o canto dos pardais); a melhor atriz, a britânica Sally Hawkins ("Happy-Go-Lucky"); o melhor roteiro foi para o chinês Wang Xiaoshuai, por "Zuo You" (acreditamos no amor), que ele também dirige.
O mexicano Fernando Eimbcke recebeu o prêmio Alfred Bauer, para produções que inovam a linguagem cinematográfica, por seu "Lake Tahoe".
Esta foi a segunda vez que um filme brasileiro recebeu o Urso de Ouro. O primeiro longa a conseguir esse prêmio foi "Central do Brasil", de Walter Salles, em 1998.


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