|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Tropa de Elite" supera favoritos e vence em Berlim
Rejeitado pela crítica estrangeira, longa de José Padilha é o segundo filme brasileiro a ganhar Urso de Ouro
Presidente do júri, Costa-Gravas diz que película, vista por 2,4 milhões de brasileiros, teve "completa aceitação" dos jurados
Hermann J. Knippertz/Associated Press
| José Padilha e a atriz Maria Ribeiro posam para fotos após a premiação do 58º Festival de Berlim |
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
O longa brasileiro "Tropa de
Elite", de José Padilha, venceu
ontem o 58º Festival de Berlim,
recebendo o Urso de Ouro como o melhor filme da competição, que contou com 21 títulos.
Mal recebido pela crítica, "Tropa" superou os favoritos "Sangue Negro" (que concorre a oito
Oscars) e "Happy-Go-Lucky".
Ao anunciar o prêmio, o presidente do júri, o cineasta grego
radicado na França Constantin
Costa-Gavras ("Z"), afirmou
que o longa brasileiro teve
"completa aceitação" dos jurados, "que discutiram cada filme
e cada detalhe dos filmes".
Ao subir ao palco, Padilha
cumprimentou um por um os
seis jurados e, com o Urso de
Ouro nas mãos, aproximou-se
do microfone e disse: "Muito
obrigado! Thank you! Danke!
[obrigado em alemão]. Em todas as línguas, é muito difícil
explicar o que estou sentindo
agora. Costa-Gavras é uma espécie de herói para todos os cineastas latino-americanos".
Crítica
A recepção da crítica internacional a "Tropa de Elite" em
Berlim havia sido enfaticamente desfavorável. Publicações
como a revista norte-americana "Variety" e o diário francês
"Le Monde" entenderam o filme, cujo protagonista é um capitão do Bope (Batalhão de
Operações Policiais Especiais)
da PM do Rio de Janeiro, como
uma apologia da tortura.
A sessão para a imprensa de
"Tropa de Elite" no festival, que
ocorreu no último dia 10, foi
caótica, devido ao sumiço da
cópia com legendas em inglês.
A versão exibida aos repórteres e críticos tinha legendas em
alemão, e os jornalistas que não
dominavam nem esse idioma
nem o português tiveram de
usar fones de ouvido com tradução simultânea.
Ainda em seu agradecimento, Padilha citou o ator Wagner
Moura, que veio a Berlim para a
estréia do filme no festival, mas
ontem não estava na premiação, porque já havia voltado ao
Brasil; a atriz Maria Ribeiro,
que permaneceu em Berlim e o
ouvia na platéia; o fotógrafo Lula Carvalho, os produtores e patrocinadores do filme.
Sócio de Padilha e produtor
do filme, Marcos Prado também agradeceu o prêmio, dizendo que Padilha fez "o melhor filme do mundo sobre a corrupção da polícia".
Prado citou o sucesso que
"Tropa de Elite" obteve no Brasil -foi o líder de bilheteria nacional de 2007, com 2,4 milhões de espectadores- e disse
que o filme representa "uma
realidade para os brasileiros".
O Festival de Berlim premiou como melhor diretor o
norte-americano Paul Thomas
Anderson, por "Sangue Negro",
que recebeu ainda um prêmio
pela trilha sonora, de Jonny
Greenwood.
O Prêmio Especial do Júri foi
para o documentário "Standard Operating Procedure"
(operação padrão), de Errol
Morris, sobre os abusos aos direitos humanos na prisão de
Abu Ghraib, no Iraque; o melhor ator foi o iraniano Reza
Najie, por "Avaze Gonjeshk-ha" (o canto dos pardais); a melhor atriz, a britânica Sally
Hawkins ("Happy-Go-Lucky");
o melhor roteiro foi para o chinês Wang Xiaoshuai, por "Zuo
You" (acreditamos no amor),
que ele também dirige.
O mexicano Fernando
Eimbcke recebeu o prêmio Alfred Bauer, para produções que
inovam a linguagem cinematográfica, por seu "Lake Tahoe".
Esta foi a segunda vez que
um filme brasileiro recebeu o
Urso de Ouro. O primeiro longa
a conseguir esse prêmio foi
"Central do Brasil", de Walter
Salles, em 1998.
Texto Anterior: Guerras inspiram indicados ao Oscar de documentário Próximo Texto: Os vencedores de Berlim Índice
|