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Filme foi mal compreendido pela crítica, diz Padilha
Para cineasta, longa mostra como o Estado brasileiro transforma policiais em seres corruptos ou violentos
Diretor acredita que prêmio em Berlim "é uma vitória da força e da luta que é fazer um filme no Brasil e de um certo estilo de filmar"
DA ENVIADA A BERLIM
O diretor José Padilha afirmou que o Urso de Ouro que
"Tropa de Elite" ganhou ontem
"é uma vitória da força e da luta
que é fazer um filme no Brasil e
de um certo estilo de filmar".
"Tropa de Elite" é o primeiro
longa de ficção de Padilha, multipremiado com o documentário "Ônibus 174".
Padilha comentou a recepção
crítica negativa do filme (acusado de fazer apologia da tortura) afirmando que muitos não o
compreenderam, embora não
seja difícil entender o longa.
"Não acho que o filme seja
hermético e difícil de entender.
O que acontece é que tentamos
fazer um filme que olhasse para
um problema social sem partir
de idéias marxistas e sem partir
de idéias neoliberais. Usamos
outra maneira de pensar, baseada na teoria dos jogos, para
montar esse roteiro. Perguntamos quais são as regras do jogo
da vida desse personagem [o
capitão Nascimento]".
Corrupção
O cineasta citou "Ônibus
174", como um filme "que mostra como garotos de rua no Brasil são levados à violência" e
"Tropa de Elite" como "um filme que mostra como o Estado
transforma pessoas que entram para a polícia em seres humanos corruptos ou violentos".
Depois de contar o episódio
do roubo de uma versão preliminar do filme que se tornou
sucesso no mercado pirata antes da estréia nos cinemas brasileiros, citando a estimativa de
que 11 milhões de pessoas o tenham visto, Padilha disse:
"Acho que a maioria dos brasileiros entende esse filme. A
população brasileira gostou e
ele agora ganhou um prêmio de
um júri presidido pelo [cineasta grego Constantin] Costa
-Gavras. Eu não poderia estar
mais feliz". Costa-Gavras é
considerado no universo do cinema como um mestre no gênero do thriller político.
Questionado se havia ficado
decepcionado com o fato de
"Tropa de Elite" não ter sido escolhido pelo Brasil para representá-lo na corrida ao Oscar
2008 de melhor filme estrangeiro, o diretor disse que não e
elogiou "O Ano em que Meus
Pais Saíram de Férias", de Cao
Hamburger, que o Brasil tentou sem sucesso emplacar no
Oscar. "É um grande filme".
Quando a pergunta foi se,
junto com "Cidade de Deus", de
Fernando Meirelles, "Tropa de
Elite" inaugurava a escola de cinema-de-favela, Padilha respondeu: "Não se inaugura uma
escola de cinema com esses
dois filmes. Seria muito pretensioso da minha parte dizer que
esse filme cria uma escola.
Quero aproveitar para dizer
que o Brasil não faz só filmes
sobre favela." E citou como
exemplo "Mutum", de Sandra
Kogut, que foi apresentado na
mostra GenerationK deste
Festival de Berlim e recebeu
menção especial do júri. "Há
uma grande produção de filmes
no Brasil que não lidam com
violência urbana".
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