São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

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Filme foi mal compreendido pela crítica, diz Padilha

Para cineasta, longa mostra como o Estado brasileiro transforma policiais em seres corruptos ou violentos

Diretor acredita que prêmio em Berlim "é uma vitória da força e da luta que é fazer um filme no Brasil e de um certo estilo de filmar"

DA ENVIADA A BERLIM

O diretor José Padilha afirmou que o Urso de Ouro que "Tropa de Elite" ganhou ontem "é uma vitória da força e da luta que é fazer um filme no Brasil e de um certo estilo de filmar".
"Tropa de Elite" é o primeiro longa de ficção de Padilha, multipremiado com o documentário "Ônibus 174".
Padilha comentou a recepção crítica negativa do filme (acusado de fazer apologia da tortura) afirmando que muitos não o compreenderam, embora não seja difícil entender o longa.
"Não acho que o filme seja hermético e difícil de entender. O que acontece é que tentamos fazer um filme que olhasse para um problema social sem partir de idéias marxistas e sem partir de idéias neoliberais. Usamos outra maneira de pensar, baseada na teoria dos jogos, para montar esse roteiro. Perguntamos quais são as regras do jogo da vida desse personagem [o capitão Nascimento]".

Corrupção
O cineasta citou "Ônibus 174", como um filme "que mostra como garotos de rua no Brasil são levados à violência" e "Tropa de Elite" como "um filme que mostra como o Estado transforma pessoas que entram para a polícia em seres humanos corruptos ou violentos".
Depois de contar o episódio do roubo de uma versão preliminar do filme que se tornou sucesso no mercado pirata antes da estréia nos cinemas brasileiros, citando a estimativa de que 11 milhões de pessoas o tenham visto, Padilha disse:
"Acho que a maioria dos brasileiros entende esse filme. A população brasileira gostou e ele agora ganhou um prêmio de um júri presidido pelo [cineasta grego Constantin] Costa -Gavras. Eu não poderia estar mais feliz". Costa-Gavras é considerado no universo do cinema como um mestre no gênero do thriller político.
Questionado se havia ficado decepcionado com o fato de "Tropa de Elite" não ter sido escolhido pelo Brasil para representá-lo na corrida ao Oscar 2008 de melhor filme estrangeiro, o diretor disse que não e elogiou "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger, que o Brasil tentou sem sucesso emplacar no Oscar. "É um grande filme".
Quando a pergunta foi se, junto com "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, "Tropa de Elite" inaugurava a escola de cinema-de-favela, Padilha respondeu: "Não se inaugura uma escola de cinema com esses dois filmes. Seria muito pretensioso da minha parte dizer que esse filme cria uma escola. Quero aproveitar para dizer que o Brasil não faz só filmes sobre favela." E citou como exemplo "Mutum", de Sandra Kogut, que foi apresentado na mostra GenerationK deste Festival de Berlim e recebeu menção especial do júri. "Há uma grande produção de filmes no Brasil que não lidam com violência urbana".


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