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MÚSICA
Crítica/"Tantas Marés"
Edu Lobo volta com inéditas e borda memória musical
Após mais de dez anos sem disco solo, compositor alia novidades a recriações
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A parcimônia com que
Edu Lobo lança discos
espelha a sua desejada
falta de familiaridade com a velocidade que move hoje a indústria musical, em que quase
tudo se esgota já ao nascer. Há
muito o compositor cansou de
ser moderno para virar eterno.
Seus últimos CDs são "Corrupião" (1993) e "Meia-noite"
(1996), além da trilha da peça
"Cambaio" (2001) e de uma ou
outra trilha de cinema. Não por
acaso, escolheu para faixa-título do novo trabalho uma canção
que trata de memória, de emoções que persistem, "Vestígios
de tempo/ Que mesmo embaçados/ Não passam jamais".
"Tantas Marés" é uma das
seis parcerias inéditas com
Paulo César Pinheiro. Não é
uma safra deslumbrante, a se
julgar por tudo o que Edu já fez.
Mas está a mil léguas de distância do tanto que se faz por aí.
"Primeira Cantiga" é um belo
acalanto, gênero deslocado numa época ruidosa em que som
não combina com sono. A participação de Mônica Salmaso é
outra declaração de princípios:
uma cantora serena, desligada
de modismos, sem apelos que
não os da voz.
Talvez por já terem sido gravadas sem letra, "Dança do
Corrupião" e "Perambulando"
soam aos ouvidos como se os
versos forçassem um pouco a
porta para entrar. Já "Coração
Cigano" e "Qualquer Caminho"
são valsas que, emolduradas
por cordas, embaralham paz e
tristeza, algo inevitável para
quem está lidando a sério com
matéria de memória.
Quando grava canções suas
que outros já interpretaram,
Edu não faz para encher o repertório de um disco, mas porque planeja por muito tempo o
seu registro de compositor. Em
"Ode aos Ratos", por exemplo,
ele contrapõe às versões recentes de Chico Buarque e Ney
Matogrosso um tratamento
mais despojado, com solos de
flauta, assimetrias no arranjo e
intensidade menor no canto.
As outras três parcerias com
Chico recriadas são da trilha de
"O Grande Circo Místico"
(1983): "Ciranda da Bailarina",
"A Bela e a Fera" e "A História
de Lily Braun", cada qual encantando não necessariamente
por algum acento mais chamativo, mas por deixarem clara a
delicadeza com que Edu borda
e reborda suas criações.
É o que ele, filho de pernambucanos, faz ao recuperar o ótimo frevo "Angu de Caroço",
com letra de Cacaso.
Edu se acompanha do pianista e arranjador Cristovão Bastos e de outros grandes músicos. Se o disco não resulta irretocável, é porque Edu, perfeccionista, nos acostumou com a
perfeição.
TANTAS MARÉS
Artista: Edu Lobo
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 35, em média
Avaliação: bom
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