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"A Um Passo" é quintessência do diretor
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
Para todos os efeitos, ``A Um
Passo da Eternidade'' (1953) é não
só o filme mais premiado e aclamado de Fred Zinnemann, como
também a quintessência de seu cinema.
Todas as características que fizeram a glória do diretor estão nesse
drama ambientado numa base militar norte-americana: a competência narrativa, nos limites da
convenção; a sustentação de todo
o peso dramático sobre a interpretação dos atores; as intenções edificantes.
Estas últimas, no caso, são bastante discutíveis: tratava-se de
exaltar, acima das paixões pessoais, o patriotismo norte-americano.
A história, como se sabe, se passa
na base militar de Pearl Harbor, às
vésperas do ataque aéreo japonês
que lançaria os EUA na Segunda
Guerra Mundial.
A ação, em princípio, é episódica, mostrando os dramas dos vários soldados e oficiais reunidos na
base.
Há o comandante tirânico (Philip Ober), cuja fogosa mulher (Deborah Kerr) acaba tendo um caso
com um sargento bonitão (Burt
Lancaster).
Há o jovem que sonha em tocar
clarim (Montgomery Clift) e tenta
escapar de seu destino de boxeador. Há o ítalo-americano desajustado e criador de casos (Frank Sinatra) e o sargento sádico que gosta de puni-lo (Ernest Borgnine).
Maniqueísmo
Já nessa primeira parte, magnificamente conduzida em termos
dramáticos, existe algo de superficial e maniqueísta: de um lado estão os bons (Lancaster, Clift, Sinatra), de outro os maus (Ober,
Borgnine). Os maus, como reza a
cartilha de todo cinema convencional, acabarão sendo punidos no
final.
O destino do comandante Holmes (Ober), aliás, era diferente no
romance de James Jones que inspirou o filme. No livro, ele era promovido. No filme, graças a pressões do Exército e ao puxa-saquismo do chefão da Columbia, Harry
Cohn, ele é destituído de seu posto.
Próximo ao final, a despeito de
suas ambições e idiossincrasias individuais, todos os bons que sobraram (pois Sinatra foi assassinado por Borgnine, por sua vez justiçado por Clift) entregam-se à luta
heróica contra os japoneses.
Melodrama
Tendo em mente que o filme foi
realizado no auge da Guerra Fria,
quando escritores e cineastas suspeitos de serem esquerdistas eram
perseguidos nos EUA, entende-se
por que Bu¤uel considerava ``A
Um Passo da Eternidade'' um
``detestável melodrama militarista e nacionalista''.
Sinatra e Clift
Do ponto de vista de Hollywood,
entretanto, é o filme perfeito: tem
ação, sentimentalismo e grandes
estrelas. Louve-se, nesse aspecto, o
faro de Zinnemann. Cohn não
queria o ``problemático'' Clift no
filme. O diretor bateu o pé e o escalou, por um salário de US$ 150 mil.
Sinatra, ao contrário, estava em
baixa e implorou pelo papel, aceitando trabalhar por humilhantes
US$ 8 mil.
O filme todo custou US$ 2 milhões, considerado na época um
grande orçamento, e rendeu US$
80 milhões em todo o mundo. Foi
indicado a 13 Oscars e ganhou oito:
filme, direção, roteiro, fotografia,
montagem, som, ator coadjuvante
(Sinatra) e atriz coadjuvante
(Donna Reed).
Pelo menos duas cenas são memoráveis: o beijo adúltero de Kerr
e Lancaster na praia e o bombardeio da base pelos aviões japoneses, com os soldados correndo para todos os lados.
Zinnemann podia ser um grande
oportunista, mas entendia de seu
ofício.
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