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COMIDA
Apesar da alta produtividade, especialistas fazem críticas ao chocolate brasileiro
Doces preciosos
NATASHA NOVAK
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Assim como as grandes marcas
de roupa ou jóias, chocolate que é
chocolate tem grife. E, para ser
considerado como tal, precisa ser
puro, brilhante, liso, suave, sem
grãos. E não pode conter nenhum
ingrediente artificial. Do contrário, deixa de ser grife.
Mas, puro ou não, o mercado
brasileiro de chocolates está borbulhando. Desde setembro do
ano passado até o final deste
mês, cerca de 24 mil pessoas foram empregadas temporariamente com uma única função: produzir ovos
de Páscoa. Segundo dados da Abicab (Associação
Brasileira da Indústria de Chocolates,
Cacau, Amendoim, Balas e
Derivados), 100 milhões de ovos
passarão pelas mãos desses funcionários. O Brasil é o segundo
maior produtor de ovos de Páscoa do mundo, ficando atrás somente do Reino Unido.
Apesar de o Brasil ocupar o
quinto lugar -abaixo dos Estados Unidos, Alemanha, Reino
Unido e França- na lista dos
maiores produtores de chocolate
(barras, tabletes e bombons), há
quem diga que aqui não são produzidos chocolates com a mesma
qualidade dos estrangeiros. "O sul
da Bahia é um verdadeiro paraíso
do cacau, a matéria-prima brasileira é riquíssima, as favas [caroço
do cacau] são fantásticas, mas o
resultado final deixa a desejar",
diz o chef pâtissier francês Fabrice
Lenud, especialista em chocolate.
Segundo Lenud, um chocolate,
para ser perfeito, não pode ter
gorduras vegetais artificiais e hidrogenadas, precisa ter ao menos
70% de cacau e necessita passar
por um processo de refinamento
aprimoradíssimo, no qual os
grãos somem e a pasta se torna lisa. "Falta tecnologia para o chocolate brasileiro atingir a perfeição",
acredita. "O brasileiro faz uma
grande mistura de ingredientes
com o objetivo de tornar o chocolate um produto mais acessível."
Preços altos
Não é o que acontece, por exemplo, com a marca belga Neuhaus,
há dez anos no Brasil e que, por
fazer um chocolate digno de realeza, cobra um valor também digno de realeza. O preço do quilo sai
por R$ 296, e o ovo de Páscoa de
360 g, ao leite, custa R$ 162. O preço de um ovo de Páscoa ao leite de
270 g de uma marca comum custa
cerca de R$ 13 nos supermercados
da cidade de São Paulo.
Segundo Patrícia Landmann,
sócia da brasileira Chocolat du
Jour, fundada há 18 anos, a empresa faz chocolates seguindo os
mesmos padrões adotados no exterior. "Não utilizamos gordura
vegetal e desenvolvemos a nossa
própria mistura", diz. Um ovo de
Páscoa de chocolate amargo, de
200 g, com 70% de cacau, custa
cerca de R$ 60.
Já a brasileira Kopenhagen, fundada em 1928, ainda não possui
em suas lojas o chocolate com
70% de cacau. "Essa onda surgiu
há pouco tempo, devido aos estudos que comprovam os benefícios
do cacau", diz Karina Chahade
Fernandes, responsável pelo controle de qualidade da marca. "Hoje temos o chocolate meio amargo
com 50% de cacau, mas já estamos em estudos avançados para
também vender chocolate com
70% de cacau." Um ovo de 300 g,
meio amargo, é vendido nas lojas
da marca por R$ 44.
A fórmula
O verdadeiro chocolate é formado, de acordo com Fabrice Lenud,
por pasta de cacau, manteiga de
cacau, açúcar e lecitina de soja.
"Tudo o que vai além disso com
certeza acaba estragando", diz.
Segundo ele, os chocolates se dividem em duas categorias: amargo
e ao leite. E, além disso, também
podem ser agrupados em dois
segmentos: os profissionais e os
de consumo.
Os profissionais são utilizados
na produção de bolos, ovos de
Páscoa, croissants etc. As melhores marcas, segundo Lenud, são
as francesas Valrhona e Callebaut.
"Os estrangeiros possuem 100%
de manteiga de cacau pura, enquanto as barras nacionais misturam manteiga a gorduras vegetais
artificiais", explica.
O mesmo acontece com os chocolates brasileiros feitos para consumo próprio -os bombons e os
tabletes. "Eles não passam por um
processo de refinamento muito
apurado e acabam ficando quase
sem brilho e com grãos em sua
textura", comenta Lenud.
O que se sabe é que o brasileiro é
fascinado por chocolate e tem degustado essa delícia cada vez
mais, como mostram os números. O consumo médio de chocolate per capita por ano no Brasil é
de 2,12 quilos por habitante. Em
2004, o mercado de chocolate teve
uma produção 24,8% acima de
2003, o que representa um faturamento da ordem de R$ 4,7 bilhões.
Chocolat du Jour
Onde: r. Haddock Lobo, 1.672, tel. 0/xx/
11/3168-2720
Neuhaus
Onde: shopping Pátio Higienópolis (av.
Higienópolis, 618, tel. 0/xx/11/3823-2921)
Douce France
Onde: al. Jaú, 554, tel. 0/xx/11/3262-3542
Kopenhagen
Onde: shopping Iguatemi (av. Brig. Faria
Lima, 2.232, tel. 0/xx/11/ 3814-7185)
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