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MÚSICA/CRÍTICA
Músico lota o Gigantinho (PA) em show para 12 mil pessoas
Guitarrista Santana fatura em cima do clichê da latinidade
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os anjos estão entre nós,
anunciou Santana lá pela
metade do show, num dos raros
momentos em que se dirigiu ao
público através do microfone.
Queremos e teremos a paz mundial, continuou ele. Apropriado,
para um show que começou em
clima new age, com um telão
mostrando imagens como o planeta Terra visto do espaço, um feto, uma pomba branca voando e
africanos tocando percussão.
Apropriado também para o músico que, à tarde, surgiu em um
quarto de hotel para dar entrevistas de roupa branca, estampas
hippies e uma pochete a tiracolo.
Em um ginásio lotado, com cerca de 12 mil pessoas ali para vê-lo,
ele subiu ao palco em um calor de
mais de 30 0 em Porto Alegre às
21h20, saiu às 23h50. Uma hora e
meia a menos do que as quatro
horas que havia prometido durante a entrevista. Não que tenha
sido pouco. Tocou mais de 20
músicas e manteve presa a atenção do público até nas baladas e
nas músicas instrumentais. Ao lado do guitarrista, dois percussionistas, um baterista, um baixista,
um guitarrista rítmico, um tecladista e um vocalista.
"Não tenho medo de ser popular, só não quero fazer música rasa", comentou ele à tarde. À noite,
ele provou ambas as coisas. De
rock e jazz teve pouco. Foi basicamente um show de pop latino
com pitadas de blues. Com introduções climáticas e gosto de Tijuana, a banda passeou pelo flamenco, mambo, rumba, criando
uma espécie de fusion latino pop
ao mesmo tempo pré e pós Ricky
Martin e Shakira, com ecos de
Red Hot Chili Peppers a Sepultura. Na verdade, Santana fatura em
cima do clichê da latinidade. Mas,
afinal, o que seria do pop sem clichês? "Eu provavelmente sou um
artista pop, mas não penso nas
coisas nesses termos", observou.
O público gaúcho que lotava o
estádio variava entre jovens adultos e adultos jovens. Poucos adolescentes, muitos balzaquianos,
bem dividido entre homens e mulheres. Um dos segredos de Santana: ele agrada a todos. E teve para
todo mundo no show: metaleiros
cabeludos, garotas querendo dançar, jovens querendo ouvir a música do rádio, pessoas que não conheciam a música do guitarrista
mas buscavam a diversão casual,
todos tiveram seu momento. O
público parecia querer dançar.
Estádio
No mais, foi o habitual show de
estádio (ginásio, no caso): mãos
para cima, garotas nos ombros
dos namorados, rapazes sem camisa, isqueiros e celulares acesos,
repertório sem surpresas. De hits
recentes como "Smooth" e "Maria Maria" a clássicos dos anos 70
como "Black Magic Woman" e
"Oye Como Va", teve espaço até
para citação de "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, no meio de
um solo de guitarra.
Santana, é óbvio, toca muito
bem. É verdade que sabe ser bem
chato e meio cafona em alguns
momentos, mas nunca ruim. E,
afinal, ele descobriu sua fórmula e
segue até o fim com ela: os solos
de guitarra de sotaque blues-latino nas brechas da melodia vocal,
com longas notas agudas sustentadas na guitarra, foi o que mais se
ouviu ali. "Antes eu achava que
John Coltrane estava lá em cima e
Kenny G lá embaixo, mas agora
eu sei que tudo é música", contemporizou ele na frente de jornalistas mais cedo no mesmo dia.
É a bênção e a maldição do pop.
Não faz diferença dividir a música
em boa e ruim, analisar seus méritos. Alguém ainda agüenta ouvir a
guitarra da introdução de
"Smooth"? Milhares de pessoas.
Se uma melodia, uma letra, um
riff têm os elementos necessários
para fazer o raio do pop cair sobre
uma música, tudo muda. Aquilo
entra nos ouvidos das pessoas e se
torna muito mais relevante do
que qualquer discussão intelectual. A única saída? Divertir-se.
Avaliação:
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