São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TV Cultura sob pressão

Secretário do governo Serra prega implosão do sistema de gestão da emissora e critica aparente desprezo pela audiência

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Secretário de Relações Institucionais do governador José Serra e presidente do PSDB paulistano, o advogado José Henrique Reis Lobo, 65, sacudiu o conselho curador da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura.
Em carta enviada aos conselheiros (são 47), Lobo questionou a falta de preocupação com a baixa audiência da emissora e defendeu a implosão do próprio conselho, além da "profissionalização" da diretoria executiva, presidida por Paulo Markun. A Cultura tem média atual de só 1,4 ponto no Ibope da Grande SP, equivalente a 80 mil domicílios sintonizados na emissora por minuto.
As críticas de Lobo foram o principal assunto da reunião mensal do conselho, ontem.
Lobo diz à Folha que está provocando o "imobilismo" da TV Cultura por conta própria, mas sua atuação é avaliada por alguns como um balão de ensaio do governo para tentar implantar mudanças na TV.
Serra tem o desejo de reformar o conselho curador, mas nunca manifestou preocupação com a audiência. Se mudar o sistema de gestão, não será sua primeira interferência. No final de 2008, o governo do Estado, que banca 42% dos R$ 194,7 milhões do orçamento da Cultura, impôs um contrato de gestão em que a fundação terá de cumprir metas, como a redução de publicidade.
Lobo diz que o contrato de gestão deveria ter incluído também metas de audiência, o que não ocorreu. Ele considera um absurdo uma emissora que consome quase R$ 200 milhões por ano registrar pouco mais de um ponto no Ibope.
Diz que é preciso "traduzir" esse dinheiro em audiência, para "justificar o investimento feito com recurso público". Os programas, defende, têm de ter uma relação custo-benefício. "Não é porque se trata de uma emissora pública que não se deve se preocupar com isso."
Mas, segundo ele, dar audiência na Cultura é algo que "envergonha": "Falar em audiência na TV Cultura parece uma preocupação plebeia, o que é um engano. É perfeitamente compatível ter programa de qualidade que ao mesmo tempo tenha quem assista".
Na reunião de ontem, João Sayad, também secretário de Serra (Cultura), se opôs a Lobo: "A TV Cultura é um instrumento de política cultural, que tem muitas preocupações, e a menor delas é a audiência".

Elitismo
As principais funções do conselho curador são fiscalizar a aplicação dos recursos e as ações da diretoria executiva, além de eleger o presidente da emissora a cada três anos e zelar pela autonomia. O órgão é composto por reitores de universidades, secretários do Estado e do município, empresários, políticos, acadêmicos e artistas. Para Lobo, é tudo "gente muito séria e competente", mas que não entende nada de TV. Ele mesmo se sente incompetente para analisar programas e prega conselhos menores, compostos por especialistas.
Lobo critica Markun por tirar e colocar programas do ar "sem base técnica, profissional, científica", o que "reforça a impressão de que a TV foi transformada em laboratório".
Para o secretário (que diz só assistir ao programa "Café Filosófico"), é um equívoco a ênfase que a direção tem dado às "novas mídias", com a transmissão do "Roda Viva" antes na internet e só depois na TV.


NA INTERNET
www.folha.com.br/090752
Íntegra da carta de Lobo e a lista dos conselheiros da Cultura



Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Presidente da emissora rebate as acusações
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.