|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Andy Warhol, Mr. America"
Mostra revela faceta crítica de Warhol
Exposição aponta sarcasmo do artista em relação aos mitos americanos e exibe obras experimentais, além das famosas
DA REPORTAGEM LOCAL
O rótulo "artista pop" é
muito pequeno para
definir Andy Warhol,
como se pode perceber na mostra "Andy Warhol, Mr. America", que será aberta no próximo
sábado, na Estação Pinacoteca.
A reportagem da Folha viu a
exposição em sua primeira
montagem, em Bogotá, na Colômbia, no ano passado.
Obviamente, estão nas obras,
como nas gravuras de Marilyn
Monroe e nas das latas de sopa
Campbell's, os elementos que
marcam a chamada arte pop,
ou seja, o uso de elementos do
mundo das celebridades e da
publicidade -nessas imagens,
Warhol sempre se apropriou
de fotos de jornal.
Mas o que a exposição revela
com intensidade é, em primeiro lugar, uma faceta crítica, que
até então costuma ser atribuída apenas ao pop inglês, onde o
movimento surgiu, com a famosa colagem "O que Exatamente Torna os Lares de Hoje
Tão diferentes, Tão Atraentes",
de Richard Hamilton, de 1956.
Se Warhol não usava ironias
em seus títulos, elas estão presentes, contudo, em suas próprias construções. Suas celebridades são maquiadas com
cores fortes e berrantes, outro
elemento que o caracteriza como pop, mas exibidas após situações de fraqueza. Na série
sobre Jackie Kennedy, por
exemplo, ela surge não quando
estava gerando um padrão de
beleza para o país, mas no momento de luto.
É como se Warhol apontasse
para o poder ambivalente da
imagem que se torna impressa,
afinal ela não é capaz de revelar
tudo. Nesse sentido, o custo da
fama revela-se perverso e sem
glamour. Mesmo assim, ao colorir tais imagens, ele apela para a sedução, uma das razões
que o tornou a ser tão reconhecido popularmente.
Outro caráter importante da
exposição é exibir, junto com
os trabalhos mais famosos, sua
obra mais experimental, até
então normalmente vista em
pequenas mostras ou como
trabalhos menores. Warhol
produziu filmes alternativos
em grande quantidade -há 17
deles na exposição- e trabalhou em vários suportes, chegando até a criar ambientes
imersivos, como "Silver
Clouds" (nuvens prateadas), de
1966, ou "Cow Wallpaper" (papel de parede de vaca), de 1972.
São trabalhos precursores das
instalações contemporâneas,
que o levam muito além da mera produção pop.
Finalmente, o curador Philip
Larratt-Smith acerta ainda ao
apontar o caráter sarcástico de
Warhol em relação aos mitos
americanos. O artista abordou
a violência contra os negros,
em "Confrontos Raciais", a miséria, em "Desastres do Atum
Enlatado", retratou temas tabus como a homossexualidade,
a obsessão pela morte e, como
se não fosse suficiente, a sociedade do espetáculo.
Assim, quem observa apenas
as cores fortes e as imagens sedutoras, fica apenas na superfície da obra de Warhol, mas
quem quiser se aprofundar de
fato nessas imagens, vai descortinar um mundo não colorido e tampouco atrativo, o que
afinal é o retrato da América.
(FABIO CYPRIANO)
ANDY WARHOL, MR. AMERICA
Quando: abertura, sábado, às 11h;
de ter. a dom., das 10h às 18h
Onde: Estação Pinacoteca (lgo. General Osório, 66, Centro, SP, tel.0/
XX/11/ 3335-4990); até 23/5
Quanto: R$ 3 a R$ 6 (sábado, grátis)
Cotação: ótimo
Texto Anterior: Estação Andy Wahrol Próximo Texto: Dramaturgo inglês faz crítica mordaz ao cinema Índice
|