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CRÍTICA
Ninguém é perdoável em "O Dia do Perdão"
CRÍTICO DA FOLHA
No início, estamos em uma
grande cidade deserta de Israel, em pleno feriado de Yom
Kippur. Todos, supõe-se, recolhidos para o grande feriado judaico.
Alguém atravessa a cidade fantasma. É um jovem que, com seu
carro, vem buscar o amigo para a
guerra. Estamos em 1973. Os dois
vão para o front de carro. Surpreendente, mas não tanto: ali é
tudo pertinho, os sírios atacaram
de surpresa, reina certa bagunça.
Mas, acima de tudo, os rapazes
vão para o front um pouco como
quem vai a um piquenique, convencidos da superioridade bélica
israelense. Aos poucos, esses momentos iniciais, não isentos de
humor, vão sendo recobertos pelos de horror. A guerra não é o piquenique que aparentava ser. O
sentimento despreocupado dos
jovens, que quase ansiavam por
esse momento, logo desaparece.
"O Dia do Perdão" é, antes de
tudo, um filme em que Amos Gitai demonstra grande capacidade
de observar um campo de batalha
e de colocar sua câmera de maneira implacável diante dos acontecimentos: filmagem a frio, direta,
sem emocionalidades desnecessárias, sem heroísmos, sem truques para envolver o espectador.
O filme mostra. Não é preciso
exagerar. Basta ver o grupo de soldados tentando colocar um agonizante na maca e levá-lo através
de um terreno em que o barro bate na altura dos joelhos. Uma cena
antológica, sem cortes, porque
um corte retiraria toda a tensão
do momento, talvez tornasse a sequência quase burlesca.
A continuidade é que transmite
ao espectador a dimensão da agonia por que passam os envolvidos
na operação: a duração da cena
coincidindo com a duração do
acontecimento, é passo a passo
que experimentamos na pele a dimensão da catástrofe.
Basta a descrição desta cena, um
dos grandes momentos do cinema contemporâneo, para dar
uma idéia do que nos reserva "O
Dia do Perdão".
(INÁCIO ARAUJO)
O Dia do Perdão
Kippur
Produção: Israel/França, 2000
Direção: Amos Gitai
Com: Liron Lero, Tomer Russo
Quando: a partir de amanhã no Cinearte
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