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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003

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CRÍTICA

Ninguém é perdoável em "O Dia do Perdão"

CRÍTICO DA FOLHA

No início, estamos em uma grande cidade deserta de Israel, em pleno feriado de Yom Kippur. Todos, supõe-se, recolhidos para o grande feriado judaico.
Alguém atravessa a cidade fantasma. É um jovem que, com seu carro, vem buscar o amigo para a guerra. Estamos em 1973. Os dois vão para o front de carro. Surpreendente, mas não tanto: ali é tudo pertinho, os sírios atacaram de surpresa, reina certa bagunça.
Mas, acima de tudo, os rapazes vão para o front um pouco como quem vai a um piquenique, convencidos da superioridade bélica israelense. Aos poucos, esses momentos iniciais, não isentos de humor, vão sendo recobertos pelos de horror. A guerra não é o piquenique que aparentava ser. O sentimento despreocupado dos jovens, que quase ansiavam por esse momento, logo desaparece.
"O Dia do Perdão" é, antes de tudo, um filme em que Amos Gitai demonstra grande capacidade de observar um campo de batalha e de colocar sua câmera de maneira implacável diante dos acontecimentos: filmagem a frio, direta, sem emocionalidades desnecessárias, sem heroísmos, sem truques para envolver o espectador.
O filme mostra. Não é preciso exagerar. Basta ver o grupo de soldados tentando colocar um agonizante na maca e levá-lo através de um terreno em que o barro bate na altura dos joelhos. Uma cena antológica, sem cortes, porque um corte retiraria toda a tensão do momento, talvez tornasse a sequência quase burlesca.
A continuidade é que transmite ao espectador a dimensão da agonia por que passam os envolvidos na operação: a duração da cena coincidindo com a duração do acontecimento, é passo a passo que experimentamos na pele a dimensão da catástrofe.
Basta a descrição desta cena, um dos grandes momentos do cinema contemporâneo, para dar uma idéia do que nos reserva "O Dia do Perdão". (INÁCIO ARAUJO)


O Dia do Perdão
Kippur
    
Produção: Israel/França, 2000
Direção: Amos Gitai
Com: Liron Lero, Tomer Russo
Quando: a partir de amanhã no Cinearte



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