São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2006

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FORMA&ESPAÇO

Paulo Mendes da Rocha no topo do mundo

GUILHERME WISNIK
COLUNISTA DA FOLHA

P aulo Mendes da Rocha é o atual vencedor do Pritzker: prêmio máximo da arquitetura mundial, oferecido pela fundação Hyatt, sediada em Chicago. Com esse feito notável, alcança um posto concedido apenas a Luis Barragán e Oscar Niemeyer, entre os latino-americanos, e passa a integrar oficialmente o "primeiro time" da arquitetura internacional, que inclui figuras como Frank O. Gehry, Norman Foster, Renzo Piano, Álvaro Siza, Rem Koolhaas e Herzog & de Meuron, igualmente vencedores do Pritzker em anos anteriores.
Por outro lado, a premiação valoriza, em sua obra, qualidades que a distinguem do excesso formal e da ênfase high-tech dominantes em boa parte da produção desses arquitetos. A sabedoria de Mendes da Rocha, segundo o júri, está na capacidade de atingir resultados monumentais a partir de materiais simples e métodos construtivos despojados e diretos, a contrapelo de qualquer exibicionismo comercial descompromissado de uma ética construtiva.
Não é de hoje que Mendes da Rocha vem sendo badalado fora do Brasil. Na verdade, desde a aparição do seu projeto para o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE, 1988) -que, além do imenso valor próprio, recebeu também uma análise à sua altura, feita por Sophia Telles-, a crítica nacional e estrangeira não pôde mais evitar a constatação cabal de que o arquiteto alcançara a estatura dos maiores entre os grandes. No entanto, esse processo crescente de reconhecimento, que se confirmou e amplificou com o Prêmio Mies van der Rohe para a América Latina, recebido em 2000, parecia ainda não estar livre de uma certa incompreensão estrangeira do seu trabalho, que em algum momento associou sua economia formal ao lacônico "minimalismo" europeu, ou a uma valorização crítica de culturas locais, associada a temas em moda como a ecologia.
Mas o fato é que Mendes da Rocha não se pauta nem por uma valorização da natureza como entidade nem por uma idéia qualquer de localismo em que esteja implicada a noção de identidade cultural nem, tampouco, por qualquer redução da forma ao plano do design. Pensando a forma arquitetônica como a realização de programas, sempre de modo a possibilitar a maior liberdade possível no uso imprevisto dos espaços, ele está também distante do funcionalismo ortodoxo, abrindo as portas à criação de marcos simbólicos através da arquitetura. Não poderíamos, aqui, esquecer dos elogios que faz a Aldo Rossi, por exemplo, à sedução intrigante do seu "Teatro do Mundo" (1979): construção flutuante que complementa e desloca a paisagem de Veneza em perpétuo deslocamento. Portanto, Paulo Mendes da Rocha não é um moderno tardio que atravessou o túnel do tempo e foi recuperado pela história num momento de revival do "estilo" moderno. O que esse prêmio atesta de modo profundo e definitivo, é que a sua arquitetura expressa a visão de alguém que esteve sempre vivo no seu tempo histórico -daí a sua simultânea coerência e capacidade de transformação-, e que agora não nos deixa outra alternativa que o desafio de sermos, nós também, jovens e cosmopolitas.


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