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FORMA&ESPAÇO
Paulo Mendes da Rocha no topo do mundo
GUILHERME WISNIK
COLUNISTA DA FOLHA
P aulo Mendes da Rocha é o
atual vencedor do Pritzker:
prêmio máximo da arquitetura
mundial, oferecido pela fundação
Hyatt, sediada em Chicago. Com
esse feito notável, alcança um
posto concedido apenas a Luis
Barragán e Oscar Niemeyer, entre
os latino-americanos, e passa a
integrar oficialmente o "primeiro
time" da arquitetura internacional, que inclui figuras como
Frank O. Gehry, Norman Foster,
Renzo Piano, Álvaro Siza, Rem
Koolhaas e Herzog & de Meuron,
igualmente vencedores do Pritzker em anos anteriores.
Por outro lado, a premiação valoriza, em sua obra, qualidades
que a distinguem do excesso formal e da ênfase high-tech dominantes em boa parte da produção
desses arquitetos. A sabedoria de
Mendes da Rocha, segundo o júri,
está na capacidade de atingir resultados monumentais a partir de
materiais simples e métodos construtivos despojados e diretos, a
contrapelo de qualquer exibicionismo comercial descompromissado de uma ética construtiva.
Não é de hoje que Mendes da
Rocha vem sendo badalado fora
do Brasil. Na verdade, desde a
aparição do seu projeto para o
Museu Brasileiro da Escultura
(MuBE, 1988) -que, além do
imenso valor próprio, recebeu
também uma análise à sua altura, feita por Sophia Telles-, a
crítica nacional e estrangeira não
pôde mais evitar a constatação
cabal de que o arquiteto alcançara a estatura dos maiores entre os
grandes. No entanto, esse processo crescente de reconhecimento,
que se confirmou e amplificou
com o Prêmio Mies van der Rohe
para a América Latina, recebido
em 2000, parecia ainda não estar
livre de uma certa incompreensão
estrangeira do seu trabalho, que
em algum momento associou sua
economia formal ao lacônico
"minimalismo" europeu, ou a
uma valorização crítica de culturas locais, associada a temas em
moda como a ecologia.
Mas o fato é que Mendes da Rocha não se pauta nem por uma
valorização da natureza como
entidade nem por uma idéia
qualquer de localismo em que esteja implicada a noção de identidade cultural nem, tampouco,
por qualquer redução da forma
ao plano do design. Pensando a
forma arquitetônica como a realização de programas, sempre de
modo a possibilitar a maior liberdade possível no uso imprevisto
dos espaços, ele está também distante do funcionalismo ortodoxo,
abrindo as portas à criação de
marcos simbólicos através da arquitetura. Não poderíamos, aqui,
esquecer dos elogios que faz a Aldo Rossi, por exemplo, à sedução
intrigante do seu "Teatro do
Mundo" (1979): construção flutuante que complementa e desloca a paisagem de Veneza em perpétuo deslocamento. Portanto,
Paulo Mendes da Rocha não é um
moderno tardio que atravessou o
túnel do tempo e foi recuperado
pela história num momento de
revival do "estilo" moderno. O
que esse prêmio atesta de modo
profundo e definitivo, é que a sua
arquitetura expressa a visão de
alguém que esteve sempre vivo no
seu tempo histórico -daí a sua
simultânea coerência e capacidade de transformação-, e que
agora não nos deixa outra alternativa que o desafio de sermos,
nós também, jovens e cosmopolitas.
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