São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2007

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Segundas intenções

Capitaneadas pelo Arctic Monkeys, bandas de rock soltam álbuns novos, que já estão na rede

Divulgação
Alex Turner, vocalista do Arctic Monkeys, em show da banda, que, após vender mais de 2 milhões de CDs, lança segundo álbum


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Na próxima segunda-feira, dia 23, o grupo inglês Arctic Monkeys coloca nas lojas seu segundo disco, "Favourite Worst Nightmare". A data e o fato de as canções do álbum já provocarem movimentação intensa em sites e blogs de MP3 apontam para uma questão:
Por que uma banda que 1) aparentemente não acrescenta nenhuma novidade ao rock; 2) se apóia num formato (guitarra, baixo, bateria) que vem sendo recauchutado há mais de 50 anos; 3) não tem integrantes muito carismáticos; 4) produz canções que não se enquadram no perfil pop de estrofe-refrão-estrofe-refrão 5) não pertence a uma grande gravadora; como um grupo com esse perfil consegue vender mais de 2,2 milhões de cópias de um disco em uma época de pirataria e troca de arquivos gratuitos de MP3?
Porque eles têm boas músicas? Pode ser, mas é insuficiente. Estamos vivendo a época mais produtiva (quantitativamente) da história da música pop e muitas outras bandas boas lançam muitas músicas boas a cada semana, e mesmo assim não motivam brincadeiras de políticos como o ministro das Finanças britânico Gordon Brown, que em discurso disse estar mais interessado no "futuro do círculo ártico do que no futuro do Arctic Monkeys".
E isso não apenas na Europa. A revista norte-americana "Blender" classificou o grupo como "uma das razões para amar 2007". O quarteto inglês inicia a turnê pelos EUA no próximo dia 27 -como uma das principais atrações do festival Coachella, na Califórnia.
O Arctic Monkeys é cria direta da nova geração surgida em 2001 com os Strokes. Mas, enquanto os Strokes mudaram esteticamente o rock popular, tanto musicalmente (mais básico, direto ao ponto) quanto visualmente (gravatas, calças justíssimas), o Arctic Monkeys incorporou o "zeitgeist" da era dos blogs e do MySpace.com, muito mais do que qualquer outra banda roqueira atual.

Mudança
A banda é um "case" de marketing às avessas -a chegada ao topo das paradas não foi pensada nem foi fruto de alguma estratégia. Eles foram levados pela corrente de fãs ingleses que descobriram o grupo em 2004 e passaram a lotar shows e trocar MP3s de canções pela internet. A Radio 1, da BBC, percebeu a movimentação e pôs as canções no ar.
Em pouco tempo, o grupo de Sheffield saiu do nada para ganhar contrato com a Domino (selo do Franz Ferdinand) e gravar o primeiro disco, "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not", lançado em janeiro de 2006, que vendeu 2,2 milhões de cópias no mundo.
Em abril daquele ano, quando o disco de estréia ainda estava sendo trabalhado pela gravadora, a banda lançou "Who the Fuck Are Arctic Monkeys", EP com quatro músicas novas.
E apenas um ano depois, numa situação em que a maioria dos artistas ainda estaria espremendo o que resta do álbum de estréia, o Arctic Monkeys aparece com um segundo disco. E "Favourite Worst Nightmare" vai em direção diferente da de seu antecessor.
Se antes a banda colocava em suas letras situações que espelhavam o que muitos jovens viviam diariamente, agora, que têm dinheiro e são famosos o suficiente para não precisar enfrentar filas na porta de clubes, espertamente alteram o conteúdo (letras menos narrativas) e a forma (rock menos cru, mais dançante e rápido).
A mudança é sintomática. Mesmo tendo apenas uma canção pop ("Fluorescent Adolescent"), o Arctic Monkeys, com este segundo disco, traz canções tão reluzentes e imediatas quanto as do primeiro disco.
As guitarras são agudas e o baixo, estridente -é música áspera, propositalmente não-lapidada. Feita para jovens.
A julgar por este último final de semana, o Arctic Monkeys deve seguir para cima. Ingressos para shows no Astoria, em Londres, que custavam R$ 100, estavam sendo vendidos a R$ 600. No "Guardian", o vocalista Alex Turner justificou a mudança do segundo disco: "Chegamos a um ponto em que as rádios tocarão nossas múscias de qualquer jeito. Então por que dar a elas o mais fácil?".

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