|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Calcanhotto faz CD enxuto tendo o mar como tema
Cantora vê "sinal de amadurecimento" em realizar disco de 11 faixas, 34 minutos e acompanhada de poucos músicos
"Eu também experimento coisas, mas agora quis fazer um disco de canções", diz ela, co-autora de quatro das músicas do repertório
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
São 11 faixas em 34 minutos.
Quem acha que é pouco pode se
assustar com uma frase de
Adriana Calcanhotto a respeito
de seu novo CD, "Maré": "Se eu
tivesse mais dois dias [de gravação], talvez houvesse menos
canções".
A redução de um repertório
que chegou a ter mais de 20
itens é visto como uma vitória
pela cantora e compositora.
Não por sadismo com seus fãs,
mas por ter buscado algo mais
enxuto desde o convite a um
núcleo de poucos músicos para
trabalhar (Moreno Veloso, Domenico Lancelotti e Kassin,
além de alguns convidados).
"O fato de ficar conciso, quero crer, é sinal de amadurecimento. Afinal, já há um passado. Mesmo que não houvesse
nenhum amadurecimento artístico, passou o tempo. Também experimento coisas que
não têm formato de canção.
Mas agora quis fazer um disco
de canções", afirma.
"Maré" é o primeiro CD de
Calcanhotto com composições
suas desde "Cantada" (2002).
No ínterim, veio o sucesso do
projeto para crianças "Adriana
Partimpim" (2004, tendo se estendido até 2006).
Enquanto selecionava canções para um disco, foi percebendo uma "ambiência marítima" comum. Daí surgiu a idéia
de uma trilogia, que teria sido
iniciada com "Marítimo"
(1998) e que continuará ou não
("tenho vontade, mas pode ser
que fique incompleta").
"Eu não poderia viver numa
cidade que não fosse perto do
mar. Recentemente, achei fotos minhas aos dois anos olhando, encantada, o mar pela primeira vez. E, depois que me enfronhei na literatura sobre o
mar, fui vendo seu sentido metafórico. Mas nunca morei de
frente para o mar", diz a gaúcha, que mora no Alto da Boa
Vista, zona norte do Rio.
Unindo música e mar, é difícil não chegar a Dorival Caymmi. Ele compareceu, de viva
voz, em "Marítimo" na sua
"Quem Vem pra Beira do Mar",
e agora Calcanhotto grava "Sargaço Mar" acompanhada apenas pelo violão de Gilberto Gil.
"Gil faz uma tradução muito
amorosa e precisa do violão de
Caymmi. Ele poderia fazer
aquelas versões de Gil, algo
mais pop, mas o caminho era
mesmo o de Caymmi: tirar tudo", diz ela.
Outros convidados são Marisa Monte, que faz vocalises
("cantos de sereia", segundo
Calcanhotto) em "Porto Alegre" (Péricles Cavalcanti), e
Jards Macalé, o violão de "Teu
Nome Mais Secreto", parceria
da compositora com Waly Salomão (1943-2003) -a quem o
CD é dedicado.
Calcanhotto põe no mesmo
disco versos de Ferreira Gullar
("Onde Andarás", melodia de
Caetano Veloso) e Augusto de
Campos ("Sem Saída", de Cid
Campos), protagonistas da
mais ruidosa cisão poética do
Brasil -a do movimento concretista.
"Não fico lidando com essas
questões, embora não as desconheça. Isso não é um código
que tenha relevância. Acho até
engraçado", ri ela, agora filiada
ao Partido Verde. "Pretendo
engrossar fileiras para que o
[Fernando] Gabeira seja presidente do Brasil."
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Crítica: Inteligência e beleza aplacam gosto amargo Índice
|