São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Calcanhotto faz CD enxuto tendo o mar como tema

Cantora vê "sinal de amadurecimento" em realizar disco de 11 faixas, 34 minutos e acompanhada de poucos músicos

"Eu também experimento coisas, mas agora quis fazer um disco de canções", diz ela, co-autora de quatro das músicas do repertório

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

São 11 faixas em 34 minutos. Quem acha que é pouco pode se assustar com uma frase de Adriana Calcanhotto a respeito de seu novo CD, "Maré": "Se eu tivesse mais dois dias [de gravação], talvez houvesse menos canções".
A redução de um repertório que chegou a ter mais de 20 itens é visto como uma vitória pela cantora e compositora. Não por sadismo com seus fãs, mas por ter buscado algo mais enxuto desde o convite a um núcleo de poucos músicos para trabalhar (Moreno Veloso, Domenico Lancelotti e Kassin, além de alguns convidados).
"O fato de ficar conciso, quero crer, é sinal de amadurecimento. Afinal, já há um passado. Mesmo que não houvesse nenhum amadurecimento artístico, passou o tempo. Também experimento coisas que não têm formato de canção. Mas agora quis fazer um disco de canções", afirma.
"Maré" é o primeiro CD de Calcanhotto com composições suas desde "Cantada" (2002). No ínterim, veio o sucesso do projeto para crianças "Adriana Partimpim" (2004, tendo se estendido até 2006).
Enquanto selecionava canções para um disco, foi percebendo uma "ambiência marítima" comum. Daí surgiu a idéia de uma trilogia, que teria sido iniciada com "Marítimo" (1998) e que continuará ou não ("tenho vontade, mas pode ser que fique incompleta").
"Eu não poderia viver numa cidade que não fosse perto do mar. Recentemente, achei fotos minhas aos dois anos olhando, encantada, o mar pela primeira vez. E, depois que me enfronhei na literatura sobre o mar, fui vendo seu sentido metafórico. Mas nunca morei de frente para o mar", diz a gaúcha, que mora no Alto da Boa Vista, zona norte do Rio.
Unindo música e mar, é difícil não chegar a Dorival Caymmi. Ele compareceu, de viva voz, em "Marítimo" na sua "Quem Vem pra Beira do Mar", e agora Calcanhotto grava "Sargaço Mar" acompanhada apenas pelo violão de Gilberto Gil.
"Gil faz uma tradução muito amorosa e precisa do violão de Caymmi. Ele poderia fazer aquelas versões de Gil, algo mais pop, mas o caminho era mesmo o de Caymmi: tirar tudo", diz ela.
Outros convidados são Marisa Monte, que faz vocalises ("cantos de sereia", segundo Calcanhotto) em "Porto Alegre" (Péricles Cavalcanti), e Jards Macalé, o violão de "Teu Nome Mais Secreto", parceria da compositora com Waly Salomão (1943-2003) -a quem o CD é dedicado.
Calcanhotto põe no mesmo disco versos de Ferreira Gullar ("Onde Andarás", melodia de Caetano Veloso) e Augusto de Campos ("Sem Saída", de Cid Campos), protagonistas da mais ruidosa cisão poética do Brasil -a do movimento concretista.
"Não fico lidando com essas questões, embora não as desconheça. Isso não é um código que tenha relevância. Acho até engraçado", ri ela, agora filiada ao Partido Verde. "Pretendo engrossar fileiras para que o [Fernando] Gabeira seja presidente do Brasil."


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