São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2004

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DANÇA

Trupe suíça Mummenschanz, que se apresenta em SP, utiliza materiais como espuma e plástico em seus espetáculos

Silêncio e formas são os passos de "Next"

KATIA CALSAVARA
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO DO CHILE

Silêncio. As figuras estão no palco. Um papel gigante começa a fazer caretas, e duas bolonas, que lembram o "Pac-Man" do Atari, iniciam uma paquera que termina aos beijinhos. Uma gota d'água gigantesca rola lá de trás para quase escorrer no colo de quem está na primeira fila. Um pedaço de papelão, em formato de Robocop, encara a platéia e ensaia uns passos tímidos. Aos risos, a platéia pede "Next".
Esse é o nome do mais recente espetáculo do Mummenschanz, uma trupe suíça que consegue dar vida a diferentes tipos de materiais. Espuma, plástico, arame, papéis de todos os tipos se transformam em grandes máscaras para o corpo.
É difícil definir o trabalho do grupo, fundado em 1972 pela ítalo-americana Floriana Frassetto, 53, e os suíços Bernie Schürch, 60, e Andreas Bosshard (morto em 1992), sem esbarrar em uma intrigante miscelânea de comédia dell'arte, teatro, mímica, performance, circo, balé de máscaras, em que os corpos pouco importam, senão para fazer viver as figuras do espetáculo.
O trio de estudantes de arte queria criar uma nova forma de teatro: sem fala, sem canto nem dança. Deu certo. A atual formação do Mummenschanz (Frassetto, Schürch, Rafaella Mattioli, 48, John Charles Murphy, 55) faz, todos os anos, turnês de seis meses pelo mundo e, no restante do ano, se apresentam na Suíça, em um teatro próprio e bem equipado, onde também realizam festivais e incentivam novos artistas.
Na década de 70, eles estiveram no Brasil, e para o país voltam anos depois para circular por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Aracaju, e depois continuar o giro pela América do Sul.
Em 1979, a trupe levou seu teatro do silêncio à Broadway, onde ficou em cartaz por quatro anos. Não antes de fazer apresentações em ruas, escolas e pequenos teatros ao redor do mundo.
Em Santiago, os dois diretores da companhia, Frassetto e Schürch, falaram à Folha um dia após apresentação no teatro Providencia, onde foi impossível não notar o sorrisão dos espectadores. "Típico" de quem consegue fazer falar um pedaço de papel, eles são sensíveis. "As emoções vêm da simplicidade dos objetos. A história não é importante. O público faz suas associações. Quando começamos, nas ruas sempre checávamos as reações das pessoas. Precisávamos saber se conseguiríamos fazê-las parar o que estavam fazendo. Depois, começamos a desenvolver maneiras de dialogar com o público. Queríamos transformar o palco em playground", disse Schürch.
E a palavra "mummenschanz", o que quer dizer? ""Mummen" vem de cobrir, mascarar; "chanz", do francês "chance", sorte. A expressão se refere a um antigo jogo de cartas disputado pelos imigrantes antes de marcharem para outros países. Para que os jogadores não descobrissem as cartas uns dos outros, usavam máscaras que, segundo eles, traziam sorte", explica a diretora.
Para o grupo, o segredo de longevidade é simples. "Nós não escolhemos público, e isso nos mantêm vivos. Não fazemos um teatro elitista, não existe essa de "ele não pode vir porque não vai entender'", diz Schürch.
Nem mesmo o toque insistente de um celular que toca na platéia quebra a música-silêncio do espetáculo. Ali, serviu de ruído para um rebolar improvisado dos artistas, revestidos de papelão.
E por que o silêncio? "Se fôssemos trabalhar com música, teria de ser música ao vivo, e os músicos teriam de nos acompanhar. O silêncio tem escala, pode ser tenso, relaxante, empolgante", diz um bem-humorado encantador de figuras.


A jornalista Katia Calsavara viajou a convite da Dell'Arte

NEXT. Espetáculo com a companhia suíça Mummenschanz. Quando: quarta, às 21h30; sexta, às 22h; sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Onde: DirecTV Music Hall (av. Jamaris, 213, Moema, São Paulo, tel.: 0/xx/ 11/6846-6040). Quanto: de R$ 60 a R$ 120.



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