Isidro Ferrer comenta sua experiência em "O Livro das Perguntas", de Neruda

Colégio Miguel de Cervantes, em SP, tem debate e mostra de obras do artista, com estilo ligado ao experimental

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Como usar os experimentos das vanguardas artísticas do começo do século 20 em uma publicação infantil? O designer espanhol Isidro Ferrer conseguiu resolver esse aparente antagonismo em "O Livro das Perguntas", obra póstuma do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) que acaba de ser lançada pela Cosac Naify e tem as ilustrações assinadas pelo artista espanhol.
Ferrer está em São Paulo e apresenta hoje, no colégio Miguel de Cervantes, uma exposição com o conjunto de suas ilustrações para a obra. Além disso, ele participa de debate que terá como principal assunto o processo para realizar "O Livro das Perguntas".
Em entrevista à Folha o designer conta que demorou três anos para concluir o projeto. "Tive de dedicar um tempo para deixar que as perguntas perdessem as interrogações e se convertessem em afirmações poéticas, a fim de não buscar soluções nem despejar dúvidas", diz ele. ""O Livro das Perguntas" é um livro expansivo, cada questão gera novas perguntas, mas nenhuma delas requer uma resposta."
Para Ferrer, uma das chaves para ilustrar o volume era o diálogo do texto de Neruda com os experimentos poéticos de autores como Federico García Lorca (1898-1936) e Ramón Gómez de la Serna (1888-1963; leia texto sobre o autor à pág.
E6). "O texto tinha parentesco com fórmulas poéticas que me interessavam há tempos, como as "lunerías" de Lorca e as "greguerías" de Serna."
Assim, o designer elaborou uma série de colagens, pequenas instalações e "assemblages", que, em reproduções fotográficas, se relacionam com os questionamentos de Neruda.
Nesse processo, o universo pessoal do escritor chileno foi um dos eixos das ilustrações, como a paixão pelo mar, suas coleções, seu cachorro (Chu-Thu), os lugares onde viveu.
"Tenho muito presente a parte mais lúdica e artesanal do trabalho vinculada ao jogo. Interessa-me muito a arte "matérica" e os objetos. Em um mundo cada vez mais tecnológico e virtual, está se perdendo a relação tátil com o entorno. Para mim, a pele das coisas é algo de especial valor", afirma o espanhol, destacando que seu design não depende em nada do computador.