São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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BIA ABRAMO

A menina, o monstro e o medo


As cenas e os diálogos entre Silvio Santos e Maisa se sucedem, nessa toada grotesca
FOI NO ÚLTIMO domingo, dia em que Maisa, em vez de descansar do seu sábado tão animado, contracena com Silvio Santos. Ela chama o patrão de lado e tenta fazer um pedido. Ele replica: "Você está com medo?"; "Alguém te bateu?". Ela fica paralisada, faz bico, começa a chorar. SS, então, chama um menino, pouca coisa maior do que a "pequena petiz". O menino, um certo Daniel, está com uma maquiagem de "monstro", assustadora -pelo menos para Maisa, que sai correndo, apavorada.
O rapazinho entra sorrindo, mas, ao ouvir a menina gritando, tem um momento sincero de apreensão -as câmeras, espertas, não deixaram de registrar seu rosto franzido. Mas em seguida o patrão o chama à fala e é hora de sorrir de novo. SS tripudia: "Ela é muito engraçada!"; "Essa Maisa não tem mais jeito", enquanto a menina grita histérica ("Não quero!!"), sai correndo do palco.
Intervalo comercial, em que o SBT agradece "o seu carinho". SS volta, dizendo que a menina é medrosa ("Não falei que ela era medrosa?").
Depois, as colegas de trabalho, instadas por SS, berram: "Amarelou! Amarelou!". Ele a chama de volta ("Ela foi embora e não quer voltar (...). Ela vai ganhar sem trabalhar?").
Ela volta, ovacionada pela plateia, que, logo em seguida, reage com um "oh" expressivo de fofice, quando SS pega a menina no colo: "Tadinha, vem cá, meu amor". Dura pouco: na frase seguinte, ele está chamando Maisa de "cagona".
A menina faz que não percebe -ou não percebe mesmo- e continua ali, de vestidinho de festa e sapatinhos de verniz, cachos emoldurando o rosto de sorriso banguela, a perfeita menina-prodígio. Ela elogia a novela da patroa, SS replica: "Não puxa o saco da minha mulher". Ela tenta explicar por que a escola que frequenta reforçou a segurança para afastar os paparazzi e define "processo" ("Quando alguém faz alguma coisa de que você não gosta; você pode processar"), SS pergunta se ela vai processá-lo por ter chamado o menino-monstro ("Você não queria, você pode me processar?"). Diante do patrão, a coragem, claro, some: "Não".

 
As cenas e os diálogos se sucedem, nessa toada grotesca. Para lembrar, grotesco, conforme o Houaiss, é o que "se presta ao riso ou à repulsa por seu aspecto inverossímil, bizarro, estapafúrdio ou caricato".
Está no YouTube para quem quiser ver, na versão reduzida do confronto entre menina e menino-monstro ou os mais de 22 minutos entre menina e monstro-patrão. Isso foi só um domingo. Hoje, numa TV perto de você, tem mais.

biabramo.tv@uol.com.br


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