São Paulo, Segunda-feira, 17 de Maio de 1999
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Japonesa mora no Brasil

da Reportagem Local

A soprano japonesa Eiko Senda, 32, radicada no Brasil desde 1995, fará o papel-título em quatro das seis récitas de "Madama Butterfly". Ela já participou de montagens líricas na Alemanha, Áustria e Japão. Acredita que Cio-Cio-San, ao se casar com um norte-americano, procura uma forma social de liberdade. Eis sua entrevista. (JBN)

Folha - Qual sua familiaridade com o papel de Butterfly?
Eiko Senda -
É a primeira vez em que estarei cantando a ópera inteira. No Japão e na Alemanha eu interpretei trechos em concertos.
Folha - É comum afirmarem que Cio-Cio-San é a "grande heroína trágica de Puccini", o que não quer dizer grande coisa. Qual a sua visão desse personagem?
Senda -
Ela é uma mulher normal, mas possui uma garra para conquistar sua liberdade pessoal. No Japão havia uma pressão discriminatória contra as mulheres. Uma jovem sem dinheiro nem dote tornava-se gueixa, o que não deixa de ser uma forma de prostituição. Cio-Cio-San procura um outro caminho, mesmo sendo um caminho complicado.
Folha - Mas ela não se casa com Pinkerton apenas para se libertar materialmente. Ela se apaixona realmente por ele....
Senda -
Ela estava apaixonada por um homem, mas também por uma vida nova.
Folha - A seu ver, Puccini faz uma caricatura da cultura japonesa ou a tela que pinta é verdadeira?
Senda -
Puccini traça um retrato bem verídico.
Folha - A sra. sente falta na ópera -que é eminentemente italiana- de cores ou harmonias japonesas?
Senda -
Pessoalmente eu acredito que a presença da música japonesa nessa ópera é suficiente, limitando-se à retomada de pequenos temas muito conhecidos pelas crianças naquele país. Se o limite fosse ultrapassado, creio que Puccini não teria escrito uma ópera tão coerente e bonita.
Folha - Em que sentido?
Senda -
Os temas são muito baseados no trabalho da orquestra, o que é uma forma de construção ocidental.
Folha - Como é ser regida por Karabtchevsky?
Senda -
Ele é um regente muito detalhista. É preciso explorar todas as possibilidades musicais.
Folha - E ser dirigida em cena pela Carla Camurati?
Senda -
Ela tem idéias muito fortes e coerentes sobre a ópera. Estamos harmonizando entre si todos os papéis e dando uma coerência bem maior ao espetáculo.


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