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Japonesa mora no Brasil
da Reportagem Local
A soprano japonesa Eiko Senda,
32, radicada no Brasil desde 1995,
fará o papel-título em quatro das
seis récitas de "Madama Butterfly". Ela já participou de montagens líricas na Alemanha, Áustria e
Japão. Acredita que Cio-Cio-San,
ao se casar com um norte-americano, procura uma forma social de liberdade. Eis sua entrevista.
(JBN)
Folha - Qual sua familiaridade
com o papel de Butterfly?
Eiko Senda - É a primeira vez em
que estarei cantando a ópera inteira. No Japão e na Alemanha eu interpretei trechos em concertos.
Folha - É comum afirmarem que
Cio-Cio-San é a "grande heroína
trágica de Puccini", o que não quer
dizer grande coisa. Qual a sua visão desse personagem?
Senda - Ela é uma mulher normal, mas possui uma garra para
conquistar sua liberdade pessoal.
No Japão havia uma pressão discriminatória contra as mulheres.
Uma jovem sem dinheiro nem dote tornava-se gueixa, o que não
deixa de ser uma forma de prostituição. Cio-Cio-San procura um
outro caminho, mesmo sendo um
caminho complicado.
Folha - Mas ela não se casa com
Pinkerton apenas para se libertar
materialmente. Ela se apaixona
realmente por ele....
Senda - Ela estava apaixonada
por um homem, mas também por
uma vida nova.
Folha - A seu ver, Puccini faz uma
caricatura da cultura japonesa ou a
tela que pinta é verdadeira?
Senda - Puccini traça um retrato
bem verídico.
Folha - A sra. sente falta na ópera
-que é eminentemente italiana-
de cores ou harmonias japonesas?
Senda - Pessoalmente eu acredito que a presença da música japonesa nessa ópera é suficiente, limitando-se à retomada de pequenos
temas muito conhecidos pelas
crianças naquele país. Se o limite
fosse ultrapassado, creio que Puccini não teria escrito uma ópera
tão coerente e bonita.
Folha - Em que sentido?
Senda - Os temas são muito baseados no trabalho da orquestra, o
que é uma forma de construção
ocidental.
Folha - Como é ser regida por Karabtchevsky?
Senda - Ele é um regente muito
detalhista. É preciso explorar todas as possibilidades musicais.
Folha - E ser dirigida em cena pela Carla Camurati?
Senda - Ela tem idéias muito fortes e coerentes sobre a ópera. Estamos harmonizando entre si todos
os papéis e dando uma coerência
bem maior ao espetáculo.
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