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MÚSICA
A gravadora Luaka Bop, de David Byrne, lança em junho, em vários países, mas não no Brasil, coletânea com 14 canções do grupo brasileiro
CD dos Mutantes chega só a ouvidos ianques
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Os Estados Unidos prosseguem
em sua aventura de descobrir diamantes esquecidos no quintal brasileiro -é vez agora de o grupo
sessentista Mutantes ir aos holofotes globais.
A gravadora Luaka Bop, do músico David Byrne -sempre ele-,
lançará a coletânea "Everything Is
Possible! - World Psychedelic
Classics 1: Brazil: The Best of Os
Mutantes", com 14 canções do grupo embaladas em capa psicodélica
de estilizados verde e amarelo (veja foto e leia repertório ao lado).
A Folha teve acesso a um "advance" (pré-cópia de circulação
não comercial) do CD, que chega
em junho às lojas de várias partes
do planeta, mas, como já é hábito,
não às brasileiras.
Aqui, a indefinição prossegue.
Segundo a Universal (ex-PolyGram), gravadora que detém os álbuns dos Mutantes, não há nada
definido quanto a possível lançamento nacional do disco.
O mesmo ocorre com "Technicolor", LP inédito gravado pela
banda na Europa, em 1971, e redescoberto pelo jornalista Carlos Calado no processo de confecção da
biografia "A Divina Comédia dos
Mutantes" (95). A Folha descreveu
o conteúdo de "Technicolor" em
reportagem de junho de 1998.
De início, o "Everything Is Possible!" de Byrne seria um álbum duplo, com a coletânea num CD e o
advento, 28 anos atrasado, de
"Technicolor" no outro.
O projeto foi barrado aqui. "Eles
queriam, por eles mesmos, masterizar e criar capa para o álbum,
com aquela mentalidade de americano, que acha que pode tudo", explica o jornalista Marcelo Fróes,
que vem trabalhando no projeto
"Technicolor" para a Universal.
Ele diz que, ainda assim, a novela
deve terminar: "Os três Mutantes
originais já assinaram o documento inicial para o lançamento de
"Technicolor", o que faz com que
um sonho vire agora um projeto".
"O disco vai sair, só depende de
tempo para capa, masterização e
alguns outros detalhes burocráticos." A Universal, por sua parte,
prefere se calar quanto à data.
Tropicália globalizada
O interesse americano pelos Mutantes vem sublinhar a intensificação do projeto colonizador de
Byrne, que já há cerca de dez anos
transmite música brasileira para os
EUA, primeiro lançando coletâneas de MPB e de Tom Zé, depois
com um álbum inédito do mesmo,
"The Hips of Tradition" (92).
Em 98, Byrne lançou outro disco
de Tom Zé, "Com Defeito de Fabricação" (que só em abril passado
chegou ao Brasil, pela Trama), detonando elogios generalizados pela imprensa de lá -a Tom Zé e ao
tropicalismo como um todo.
Há poucos dias, a caixa de 12 CDs
de Gilberto Gil "Ensaio Geral"
(também da Universal, mas lançada antes aqui, no início do ano)
chegou ao mercado deles. Em 9 de
maio, mereceu reportagem extensa do "New York Times".
O texto classifica o LP "Gilberto
Gil" (seu álbum tropicalista, de
68), como "um dos melhores álbuns de rock já gravados", mas, em
geral, confina a caixa de Gil ao rótulo de "um dos melhores argumentos existentes para o conceito
de world music".
A opinião dos tropicalistas históricos sobre a onda ianque de tropicalismo tem variado. Gilberto Gil
afirmou à Folha que é um "processo natural de varredura histórica".
No "Estado de S. Paulo", Caetano
Veloso classificou outro artigo do
"New York Times", que tentava
dar conta da história do movimento, como o melhor que já leu sobre
a tropicália. Tom Zé escreveu que o
artigo "é festivo, não é sério".
Em direção parecida vai a ex-Mutante Rita Lee, por e-mail: "Daqui a pouco a mídia americana vai
escrever um tratado mirabolante
sobre a feijoada e concluir que é
apenas mais uma influência deles
na cultura brasileira".
Dos Mutantes, o que chegará aos
ouvidos americanos é um painel
do intervalo de cinco anos (1968-72) no qual Rita Lee e os irmãos
Arnaldo e Sérgio foram o núcleo
criativo da banda (que ainda continuaria, convertida ao rock progressivo, primeiro só com Arnaldo
e Sérgio, depois só com Sérgio).
Byrne, compilador do material,
privilegiou material de "Os Mutantes" (68), gravado no auge da
tropicália. Seis de suas 11 faixas estão no CD: "Panis et Circenses", "A
Minha Menina", "Maria Fulô",
"Baby", "Bat Macumba" e "Le Premier Bonheur du Jour". De "Mutantes" (69), só aparecem "Dia 36"
e "Fuga Nº 2 dos Mutantes".
De "A Divina Comédia ou Ando
Meio Desligado" (70), entram
"Ando Meio Desligado", "Desculpe, Babe" e "Ave, Lúcifer". De "Jardim Elétrico" (71), "El Justiciero" e
"Baby" (em inglês) -as duas são,
originalmente, do abortado "Technicolor". De "Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets" (72), só
entra "Cantor de Mambo". E o
quintal vai sendo garimpado.
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