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CINEMA
"Lan Yu" é a primeira produção com tema homossexual rodada na China; história anônima foi febre na internet
Filme chinês abre festival gay nos EUA
ADRIANE GRAU
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO
A mistura de romance e diferença de idade sempre foi tabu. Paixão entre dois homens, também.
Na China, na época dos protestos
estudantis da praça da Paz Celestial, tudo era proibido, controlado.
Juntar todos esses elementos
poderia resultar num filme explosivo. Mas em "Lan Yu" o que se vê
é uma história de amor universal.
Apesar da homossexualidade explícita em cenas de nudez total, o
que vale são os temas sutis de
amor, dedicação, solidariedade e
traição.
O filme abriu o 26º San Francisco International Lesbian and Gay
Film Festival, na quarta-feira à
noite.
O diretor Stanley Kwan, 47, e o
produtor Zhang Yongning conversaram com a reportagem da
Folha pouco antes da sessão lotada no legendário cinema Castro,
no coração do bairro com o mesmo nome, que é considerado o
centro gay do país.
No filme, o jovem Lan Yu (interpretado pelo estreante ator Liu
Ye) é um estudante universitário
vindo do interior da China que
tem dificuldades em se sustentar
em Beijing. Acaba tentando a
prostituição, mas na primeira
noite perde a virgindade com o
poderoso empresário Chen Handong (o veterano ator Hu Jun).
Durante a década em que ficam
juntos, Handong deixa claro que
não quer se envolver emocionalmente. Enche o amante de presentes, num esforço para transformar a relação em algo material
e fútil. Chega a abandonar o apaixonado Lan Yu para se casar com
uma mulher.
Mas, anos depois, quando vai
para na cadeia envolvido num escândalo financeiro, adivinha
quem vai vender tudo o que tem
para pagar sua fiança?
Segundo o diretor, quando o
produtor Zhang Yongning sugeriu que ele adaptasse o romance
que foi escrito anonimamente na
internet na China e foi febre no
país em 1996, ele logo se identificou com a história. "Moro com
meu namorado há 12 anos, mas
ambos temos casos com outras
pessoas de vez em quando", explica Kwan.
Ele conta que quando a novela
apareceu na internet, a comunidade gay logo se interessou. "Mas
depois virou febre no país inteiro,
pois mesmo lidando com um relacionamento homossexual, também lida com temas comuns a todos nós", continua.
Por isso mesmo, não houve
controvérsia quando eles resolveram adaptar o romance para o cinema. "Ninguém disse nada",
conta Yongning. "Mas na versão
original as cenas sexuais eram relatadas nos mínimos detalhes, e
excluímos esses detalhes do roteiro do filme."
Repercussão
O resultado é o sucesso total na
China, onde o filme entrou em
cartaz no ano passado. "A única
queixa que recebemos é que o
ator Liu Ye não é tão bonito e delicado como o personagem descrito da história original", afirma
Kwan. "A novela fez tamanho sucesso na internet que o público
acabou criando expectativas muito altas quanto ao filme."
Kwan começou sua carreira como ator e foi responsável pela
performance de Maggie Cheung
em "Actress" (também conhecido como "Centre Stage"). Ela recebeu o prêmio de melhor atriz
no festival de Berlim de 1991.
"Por trás da câmera, ainda sinto
que estou vendo a mim mesmo
quando um ator faz bem uma cena", confessa Kwan. Mas hoje em
dia ele se diz tímido demais para
aparecer atuando em uma de suas
produções.
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