São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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CINEMA
"Lan Yu" é a primeira produção com tema homossexual rodada na China; história anônima foi febre na internet
Filme chinês abre festival gay nos EUA

ADRIANE GRAU
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

A mistura de romance e diferença de idade sempre foi tabu. Paixão entre dois homens, também. Na China, na época dos protestos estudantis da praça da Paz Celestial, tudo era proibido, controlado.
Juntar todos esses elementos poderia resultar num filme explosivo. Mas em "Lan Yu" o que se vê é uma história de amor universal. Apesar da homossexualidade explícita em cenas de nudez total, o que vale são os temas sutis de amor, dedicação, solidariedade e traição.
O filme abriu o 26º San Francisco International Lesbian and Gay Film Festival, na quarta-feira à noite.
O diretor Stanley Kwan, 47, e o produtor Zhang Yongning conversaram com a reportagem da Folha pouco antes da sessão lotada no legendário cinema Castro, no coração do bairro com o mesmo nome, que é considerado o centro gay do país.
No filme, o jovem Lan Yu (interpretado pelo estreante ator Liu Ye) é um estudante universitário vindo do interior da China que tem dificuldades em se sustentar em Beijing. Acaba tentando a prostituição, mas na primeira noite perde a virgindade com o poderoso empresário Chen Handong (o veterano ator Hu Jun).
Durante a década em que ficam juntos, Handong deixa claro que não quer se envolver emocionalmente. Enche o amante de presentes, num esforço para transformar a relação em algo material e fútil. Chega a abandonar o apaixonado Lan Yu para se casar com uma mulher.
Mas, anos depois, quando vai para na cadeia envolvido num escândalo financeiro, adivinha quem vai vender tudo o que tem para pagar sua fiança?
Segundo o diretor, quando o produtor Zhang Yongning sugeriu que ele adaptasse o romance que foi escrito anonimamente na internet na China e foi febre no país em 1996, ele logo se identificou com a história. "Moro com meu namorado há 12 anos, mas ambos temos casos com outras pessoas de vez em quando", explica Kwan.
Ele conta que quando a novela apareceu na internet, a comunidade gay logo se interessou. "Mas depois virou febre no país inteiro, pois mesmo lidando com um relacionamento homossexual, também lida com temas comuns a todos nós", continua.
Por isso mesmo, não houve controvérsia quando eles resolveram adaptar o romance para o cinema. "Ninguém disse nada", conta Yongning. "Mas na versão original as cenas sexuais eram relatadas nos mínimos detalhes, e excluímos esses detalhes do roteiro do filme."

Repercussão
O resultado é o sucesso total na China, onde o filme entrou em cartaz no ano passado. "A única queixa que recebemos é que o ator Liu Ye não é tão bonito e delicado como o personagem descrito da história original", afirma Kwan. "A novela fez tamanho sucesso na internet que o público acabou criando expectativas muito altas quanto ao filme."
Kwan começou sua carreira como ator e foi responsável pela performance de Maggie Cheung em "Actress" (também conhecido como "Centre Stage"). Ela recebeu o prêmio de melhor atriz no festival de Berlim de 1991.
"Por trás da câmera, ainda sinto que estou vendo a mim mesmo quando um ator faz bem uma cena", confessa Kwan. Mas hoje em dia ele se diz tímido demais para aparecer atuando em uma de suas produções.



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