São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2008

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Análise/Paulo Szot

Elegante, barítono se adapta aos estilos

Paulista de técnica vocal sólida e inglês bem pronunciado se coloca com sabedoria em meio a astros experientes da Broadway

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Presença de cena elegante, senso de estilo, técnica vocal sólida e boa formação musical são as qualidades que fizeram do paulista Paulo Szot, 38, um dos mais requisitados barítonos do Brasil.
Descendente de poloneses, Szot (pronuncia-se "xót") começou a estudar música na infância, muito antes de ser cantor -o que lhe dá um diferencial em relação a seus colegas de profissão, nos quais não é raro o talento vocal vir ao lado de conhecimentos musicais que não vão além do rudimentar.
Quando começou a se interessar pelo canto, Szot atacava de tenor, para posteriormente migrar para o registro mais grave de barítono.
Mais especificamente, ele tem o tipo de voz que, em homenagem ao cantor francês Jean-Blaise Martin (1767-1873), ficou conhecida como "barítono Martin". Trata-se de uma voz de barítono leve e flexível, em oposição ao registro mais robusto de barítono necessário para cantar, por exemplo, os grandes papéis de Giuseppe Verdi, como "Rigoletto" e Iago (em "Otello").
Se Verdi traz demandas pesadas demais para a vocalidade de Paulo Szot, o talento deste serve com perfeição ao refinamento da música de Mozart -Szot brilha no papel-título de "Don Giovanni" e, em "As Bodas de Fígaro", pode interpretar tanto o barbeiro quanto o Conde de Almaviva.
Bizet (na parte do toureiro Escamillo, em "Carmen") e Tchaikovski (no papel-título de "Ievguêni Oniéguin") são outros compositores que ele começou a cantar em palcos da Europa e dos EUA desde o início de sua carreira operística internacional, na New York City Opera, em 2003.

Inteligência
Ouvindo-o no CD com as canções do musical ("South Pacific - New Broadway Cast Recording", recém-lançado nos EUA pela Sony Classics, à venda no site www.amazon.com por US$ 9,99 -cerca de R$ 16,30-, mais taxas), não é difícil entender o segredo de seu sucesso norte-americano. Uma de suas principais características sempre foi a inteligência para entender os diversos estilos de cada obra, e, com o musical de Rodgers e Hammerstein, não foi diferente.
Szot não soa de maneira nenhuma deslocado em meio a astros já experientes da Broadway. Consciente da presença do microfone, restringe com sabedoria o volume e o vibrato (item habitualmente descuidado por cantores líricos ao abordar o repertório popular), e fraseia com elegância extrema -o que pode haver de "kitsch" em "This Nearly was Mine", a canção mais célebre de seu personagem, vem antes das características intrínsecas do musical como gênero do que propriamente da interpretação de Szot, dotada de verve e de bom gosto.
O inglês, bem pronunciado, traz as marcas de um sotaque que, no contexto de "South Pacific", acaba sendo muito bem-vindo. Não custa lembrar que seu personagem, Emile de Becque, é um "estrangeiro" (um proprietário rural de nacionalidade francesa), tendo sido originalmente idealizado para um cantor que também não era anglófono -o italiano Ezio Pinza (1892-1957), que cantou nada menos que 750 récitas, em 22 temporadas do Metropolitan Opera, de Nova York.
Resta saber se a Broadway não vai roubar de vez o talento de Szot da ópera. A temporada de "South Pacific", que inicialmente estava programada para durar até este mês e que já havia sido prolongada até setembro, agora não tem nem mais data para acabar.
Não custa lembrar que, para novembro, o barítono tem agendada uma aparição na montagem da ópera "Sansão e Dalila", de Saint-Saëns, no Municipal de São Paulo -e já são fortes os comentários dando conta de que, em função do sucesso nova-iorquino, é possível que ele tenha que cancelar sua participação no espetáculo.


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