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Análise/Paulo Szot
Elegante, barítono se adapta aos estilos
Paulista de técnica vocal sólida e inglês bem pronunciado se coloca com sabedoria em meio a astros experientes da Broadway
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Presença de cena elegante, senso de estilo, técnica vocal sólida e boa formação musical são as qualidades que fizeram do paulista
Paulo Szot, 38, um dos mais requisitados barítonos do Brasil.
Descendente de poloneses,
Szot (pronuncia-se "xót") começou a estudar música na infância, muito antes de ser cantor -o que lhe dá um diferencial em relação a seus colegas
de profissão, nos quais não é raro o talento vocal vir ao lado de
conhecimentos musicais que
não vão além do rudimentar.
Quando começou a se interessar pelo canto, Szot atacava
de tenor, para posteriormente
migrar para o registro mais grave de barítono.
Mais especificamente, ele
tem o tipo de voz que, em homenagem ao cantor francês
Jean-Blaise Martin (1767-1873), ficou conhecida como
"barítono Martin". Trata-se de
uma voz de barítono leve e flexível, em oposição ao registro
mais robusto de barítono necessário para cantar, por exemplo, os grandes papéis de Giuseppe Verdi, como "Rigoletto"
e Iago (em "Otello").
Se Verdi traz demandas pesadas demais para a vocalidade
de Paulo Szot, o talento deste
serve com perfeição ao refinamento da música de Mozart
-Szot brilha no papel-título de
"Don Giovanni" e, em "As Bodas de Fígaro", pode interpretar tanto o barbeiro quanto o
Conde de Almaviva.
Bizet (na parte do toureiro
Escamillo, em "Carmen") e
Tchaikovski (no papel-título de
"Ievguêni Oniéguin") são outros compositores que ele começou a cantar em palcos da
Europa e dos EUA desde o início de sua carreira operística
internacional, na New York
City Opera, em 2003.
Inteligência
Ouvindo-o no CD com as
canções do musical ("South Pacific - New Broadway Cast Recording", recém-lançado nos
EUA pela Sony Classics, à venda no site www.amazon.com
por US$ 9,99 -cerca de R$
16,30-, mais taxas), não é difícil entender o segredo de seu
sucesso norte-americano. Uma
de suas principais características sempre foi a inteligência
para entender os diversos estilos de cada obra, e, com o musical de Rodgers e Hammerstein,
não foi diferente.
Szot não soa de maneira nenhuma deslocado em meio a
astros já experientes da Broadway. Consciente da presença
do microfone, restringe com
sabedoria o volume e o vibrato
(item habitualmente descuidado por cantores líricos ao abordar o repertório popular), e fraseia com elegância extrema -o
que pode haver de "kitsch" em
"This Nearly was Mine", a canção mais célebre de seu personagem, vem antes das características intrínsecas do musical
como gênero do que propriamente da interpretação de
Szot, dotada de verve e de
bom gosto.
O inglês, bem pronunciado,
traz as marcas de um sotaque
que, no contexto de "South Pacific", acaba sendo muito bem-vindo. Não custa lembrar que
seu personagem, Emile de Becque, é um "estrangeiro" (um
proprietário rural de nacionalidade francesa), tendo sido originalmente idealizado para um
cantor que também não era anglófono -o italiano Ezio Pinza
(1892-1957), que cantou nada
menos que 750 récitas, em 22
temporadas do Metropolitan
Opera, de Nova York.
Resta saber se a Broadway
não vai roubar de vez o talento
de Szot da ópera. A temporada
de "South Pacific", que inicialmente estava programada para
durar até este mês e que já havia sido prolongada até setembro, agora não tem nem mais
data para acabar.
Não custa lembrar que, para
novembro, o barítono tem
agendada uma aparição na
montagem da ópera "Sansão e
Dalila", de Saint-Saëns, no Municipal de São Paulo -e já são
fortes os comentários dando
conta de que, em função do sucesso nova-iorquino, é possível
que ele tenha que cancelar sua
participação no espetáculo.
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