|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCO
Dupla de cantadores do interior de Pernambuco lança "Vindo Lá da Lagoa", 14º álbum em 28 anos de carreira
Caju & Castanha urbanizam a embolada em novo CD
MARCELO VALLETTA
DA REDAÇÃO
Após 28 anos de carreira, volta a
lançar disco a dupla de emboladores -espécie de repentistas
que usam pandeiro em vez de violão- Caju & Castanha. "Vindo
Lá da Lagoa" é o 14º registro fonográfico dos irmãos José Albertino
da Silva (Caju), 37, e José Roberto
da Silva (Castanha), 33.
Filhos de agricultores do interior de Pernambuco, os irmãos
começaram a cantar ainda crianças, quando os pais se separaram,
no início dos anos 70.
"Fomos para Jaboatão (cidade
próxima ao Recife) e, quando o
nosso dinheirinho acabou, fizemos uns pandeirinhos de lata de
goiabada com tampinhas de garrafa. Começamos a cantar nas feiras e nas praças do Recife", conta
Castanha.
Quem deu o apelido para a dupla foi o prefeito da cidade, segundo Castanha. "Ele viu a gente cantando e disse: "Um é Caju, o outro
é Castanha", porque ele estava
com os dois frutos na mão", diz.
Os meninos seguiram cantando
nas ruas, vivendo das apresentações, até que, em 79, eles participaram de um disco gravado ao vivo em Vitória de Santo Antão, trilha sonora de um documentário
da cineasta Tânia Quaresma, chamado "Nordeste: Cordel, Repente
e Canção", do qual também participaram Elba e Zé Ramalho.
A repercussão foi grande, e, no
ano seguinte, a dupla recebeu
uma proposta da Odeon e gravou
seu primeiro disco solo, "Embolando na Embolada". "Depois a
gravadora mudou de linhagem,
mandou muita gente embora e ficamos desempregados de novo",
diz Castanha.
Em 82, começam a aparecer
mensalmente no programa "Som
Brasil", que era exibido na Rede
Globo durante as manhãs de domingo. Ficaram dez anos no programa, enquanto seguiam gravando discos pela Copacabana.
Em 93, gravaram "Solidão de
um Caminhoneiro". "Foi quando
a gente urbanizou a embolada.
Começamos a usar baixo, guitarra, teclado. Fizemos isso para tocar em rádio, pois só com pandeiro elas não aceitam. Não dá para
sobreviver de embolada pura."
Em 98, participaram do primeiro CD do grupo pernambucano
Faces do Subúrbio, e o conterrâneo Lenine sampleou depoimento de Caju retirado do filme de 79
para o disco "O Dia em Que Faremos Contato". "Ele achou o disco
em um sebo no Japão", conta Castanha. Participaram também de
festivais como Abril pro Rock e
Heineken Concerts.
Atualmente a dupla continua a
se apresentar, embora Caju convalesça de um câncer de pulmão
que se alastrou para o cérebro.
"Eu fumava quatro carteirinhas
de cigarro por dia", conta. "O negão precisou tomar um chicote,
mas vai ficar bom", diz Castanha.
Texto Anterior: Música: Semi-reclusa, Rita Lee quer fazer disco new age Próximo Texto: Crítica: Tradicionalismo não tem a ver com caretice Índice
|