São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 2000


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DISCO
Dupla de cantadores do interior de Pernambuco lança "Vindo Lá da Lagoa", 14º álbum em 28 anos de carreira

Caju & Castanha urbanizam a embolada em novo CD

MARCELO VALLETTA
DA REDAÇÃO

Após 28 anos de carreira, volta a lançar disco a dupla de emboladores -espécie de repentistas que usam pandeiro em vez de violão- Caju & Castanha. "Vindo Lá da Lagoa" é o 14º registro fonográfico dos irmãos José Albertino da Silva (Caju), 37, e José Roberto da Silva (Castanha), 33.
Filhos de agricultores do interior de Pernambuco, os irmãos começaram a cantar ainda crianças, quando os pais se separaram, no início dos anos 70.
"Fomos para Jaboatão (cidade próxima ao Recife) e, quando o nosso dinheirinho acabou, fizemos uns pandeirinhos de lata de goiabada com tampinhas de garrafa. Começamos a cantar nas feiras e nas praças do Recife", conta Castanha.
Quem deu o apelido para a dupla foi o prefeito da cidade, segundo Castanha. "Ele viu a gente cantando e disse: "Um é Caju, o outro é Castanha", porque ele estava com os dois frutos na mão", diz.
Os meninos seguiram cantando nas ruas, vivendo das apresentações, até que, em 79, eles participaram de um disco gravado ao vivo em Vitória de Santo Antão, trilha sonora de um documentário da cineasta Tânia Quaresma, chamado "Nordeste: Cordel, Repente e Canção", do qual também participaram Elba e Zé Ramalho.
A repercussão foi grande, e, no ano seguinte, a dupla recebeu uma proposta da Odeon e gravou seu primeiro disco solo, "Embolando na Embolada". "Depois a gravadora mudou de linhagem, mandou muita gente embora e ficamos desempregados de novo", diz Castanha.
Em 82, começam a aparecer mensalmente no programa "Som Brasil", que era exibido na Rede Globo durante as manhãs de domingo. Ficaram dez anos no programa, enquanto seguiam gravando discos pela Copacabana.
Em 93, gravaram "Solidão de um Caminhoneiro". "Foi quando a gente urbanizou a embolada. Começamos a usar baixo, guitarra, teclado. Fizemos isso para tocar em rádio, pois só com pandeiro elas não aceitam. Não dá para sobreviver de embolada pura."
Em 98, participaram do primeiro CD do grupo pernambucano Faces do Subúrbio, e o conterrâneo Lenine sampleou depoimento de Caju retirado do filme de 79 para o disco "O Dia em Que Faremos Contato". "Ele achou o disco em um sebo no Japão", conta Castanha. Participaram também de festivais como Abril pro Rock e Heineken Concerts.
Atualmente a dupla continua a se apresentar, embora Caju convalesça de um câncer de pulmão que se alastrou para o cérebro. "Eu fumava quatro carteirinhas de cigarro por dia", conta. "O negão precisou tomar um chicote, mas vai ficar bom", diz Castanha.



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