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CINEMA
Peter Jackson constrói seu "King Kong"; "Pantera Cor-de-Rosa" terá Steve Martin na pele do inspetor Clouseau
Hollywood revisita seus filmes clássicos
CRÍTICO DA FOLHA
O universo encantador de "A
Fantástica Fábrica de Chocolate",
filtrado por Tim Burton, é um
tanto mais sombrio. À primeira
vista, o roteiro desse novo filme é
até mais moralista que o primeiro. Na versão de 1971, quatro das
cinco crianças sorteadas para visitar a fábrica de Willy Wonka desapareciam de maneiras desgraçadamente assustadoras. Nessa
nova versão, todas ressurgem vivas e em segurança no fim, ainda
que transformadas pela experiência. No primeiro filme, durante a
visita à fábrica, Charlie e seu avô
caíam na tentação de provar um
refrigerante em experiência e por
um triz não eram triturados por
um exaustor. Agora, Charlie é
exemplo rigoroso de firmeza de
caráter.
A diferença não se imprime no
conteúdo, mas na forma. Como já
havia feito em "O Planeta dos Macacos", Burton transforma universos fantasiosos preexistentes
em uma visão altamente crítica ao
mundo de hoje. Nunca sabemos
ao certo se Burton vê poesia no
horror do mundo ou se vê horror
na poesia do mundo. No caso de
"A Fantástica Fábrica", as quatro
crianças que vão sendo eliminadas (e os parentes que as acompanham) parecem ser feitas de plástico. São figuras robotizadas pela
experiência contemporânea -o
consumismo, a obsessão pela boa
forma, a televisão. Longe de ser
uma figura adorável como o Willy
Wonka de Gene Wilder, o personagem de Johnny Depp (em mais
um desempenho genial) é uma
espécie de mistura de Marilyn
Mason e Michael Jackson (!). Os
"remakes", como prova Tim Burton, podem ser ainda mais interessantes que os originais.
O que não significa que não
exista, na lógica da indústria, um
tanto de oportunismo e falta de
criatividade. O tão malfadado "remake" de "Crepúsculo dos Deuses", por exemplo, é a versão da
versão. Trata-se na verdade da filmagem do musical "Sunset Boulevard", de Andrew Lloyd Webber, inspirado no roteiro de Billy
Wilder e Charles Brackett sobre o
relacionamento entre uma atriz
decadente e um roteirista desempregado.
Peter Jackson, que depois da
glória e dos prêmios de "O Senhor
dos Anéis" enfim conseguiu realizar o sonho de criar seu próprio
"King Kong", também pisa em
terreno batido. Antes de Naomi
Watts cair nas mãos do macaco
nesta nova versão, Fay Wray e Jessica Lange já passaram pela mesma situação, respectivamente, em
1933 e 1976. Um tanto mais difícil,
talvez, será ver Steve Martin na
pele do inspetor Clouseau em "A
Pantera Cor-de-Rosa", um tipo
tão marcado pela persona de um
ator genial, Peter Sellers.
(PEDRO BUTCHER)
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