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Novela on-line "bomba" com terrorismo em Bagdá
Com acesso gratuito, capítulos de "Shooting War" entram no ar semanalmente
Tiras são acompanhadas de áudio original de batalhas no Iraque e de trailers, com trilha do DJ Spooky; autores prometem versão impressa
"Revista Smith"
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O blogueiro Jimmy Burns tenta se proteger de ataque durante uma das batalhas que cobre no Iraque na novela "Shooting War"
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Cai na rede na quarta-feira o
nono capítulo de uma novela
gráfica on-line que já rendeu
elogios da revista "Rolling Stones" ("assustadoramente inteligente") e da bíblia do mercado
editorial, a "Publisher's
Weekly" ("precisa, relevante e
atual"). Espécie de alegoria auto-referente do futuro do jornalismo "pessoal" ou de "cidadão" -leia-se blogs e afins-,
"Shooting War" (smithmag.
us/shootingwar) tem como
pano de fundo o terrorismo e a
Guerra do Iraque.
Quem assina a história é o
jornalista Anthony Lappé, ex-colaborador do "New York Times" e das revistas "Details" e
"Paper", que se inspira na própria experiência na cobertura
da guerra e primeiras insurgências no Iraque. Em 2003,
Lappé rodou no país um documentário ("BattleGround: 21
Days on the Empire's Edge"),
produzido para o canal Guerrilla News Network (gnn.tv), e
também noticiou sobre o conflito através de um blog. O tom
de "reality show" fica por conta
do áudio real das batalhas, que
o jornalista coloca on-line.
Terror em 2011
Com ilustrações de Dan
Goldman, um dos fundadores
do estúdio de quadrinhos on-line act-i-vate.livejournal.
com, "Shooting War" conta a
história do blogueiro americano Jimmy Burns, que em 2011
reporta, com imagens ao vivo, a
explosão de seu próprio prédio,
durante um ataque terrorista
em Nova York.
Burns, cujo blog faz uma
campanha de denúncias contra
as grandes corporações americanas, se torna uma celebridade midiática da noite para o dia
e passa a trabalhar como repórter para uma rede de TV que
dedica 24 horas de sua programação ao noticiário de terrorismo.
Como se não bastasse, o nosso "herói" parte para o Iraque
para mostrar o que realmente
está acontecendo na guerra de
guerrilhas que, na novela, já
dura oito anos.
"Eu admito que a minha história traz uma versão sombria
do pior cenário que a agenda de
Bush poderá nos proporcionar", diz Lappé à Folha. "Na
novela, há uma crise global de
petróleo, a economia dos Estados Unidos está falida e o
Oriente Médio vive um conflito
generalizado. No Iraque, é claro, uma guerra civil está a toda,
e nós não sabemos quem nossos aliados realmente são. Meu
futuro realmente não é bonito.
Mas eu apenas extrapolei as
manchetes ruins de hoje em
dia e multipliquei as notícias
ruins por dez."
Lappé garante que tenta tirar
ao máximo suas próprias inclinações políticas da história. Para os críticos que o acusam de
maniqueísta, e até mesmo de
um tanto contra-Iraque, ele
diz: "Se o futuro parece sombrio, posso apenas dizer: "Leia
os jornais de hoje'".
Para criar as ilustrações com
forte impacto visual de "Shooting War", Goldman "se inspirou" em fotos e documentários
reais da Guerra do Iraque, que,
segundo ele, de tão impressionantes, não costumam chegar
às telas de televisão. O ilustrador conta que tem tido até
mesmo pesadelos por conta da
tensão da história que vem
criando com Lappé.
Versão impressa à vista
Abrigada no site da revista
"Smith", "Shooting War" teve o
primeiro capítulo "exibido" no
dia 15 de maio. A cada quarta-feira um novo episódio irá ao
ar, durante um total de 11 semanas (o plano inicial era de oito
semanas) e sempre acompanhado de um trailer com música do americano Paul D. Miller,
o experimental DJ Spooky.
"Estou escrevendo bem no
estilo de uma tirinha de jornal
ou revista, semana a semana,
embora a linha básica já esteja
traçada. Também tenho adicionado alguns elementos à medida que as notícias mudam, diariamente", conta Lappé, que leva em conta também o "feedback" dos seus leitores.
"Especialmente alguma indicação de que a trama se tornou
um clichê ou está previsível. Isto seria uma verdadeira jura de
morte para mim. Fizemos até
um concurso para títulos no site, e o vencedor foi incorporado
ao próximo episódio."
Goldman e Lappé estão avaliando no momento ofertas para publicar uma versão impressa de "Shooting War". O nome
da editora -eles avisam que será "uma das grandes"- deve ser
anunciado nos próximos dias.
"O que vocês estão vendo agora, on-line, é apenas um prólogo para uma série maior. Que
deve levar Jimmy a outros lugares perigosos no futuro", promete o jornalista.
Jornalismo de "cidadão"
Lappé ressalta que "Shooting
War" é também um retrato do
futuro da participação de blogueiros nos noticiários. Para
ele, não resta dúvida de que o
jornalismo tende a se democratizar com a descentralização da
produção de noticiários, como
os de seu personagem, o blogueiro Jimmy Burns.
Mas ele faz uma ressalva: "A
questão é se os chamados "jornalistas cidadãos" serão realmente bons no que eles fazem.
Parte do conflito em "Shooting
War" é o fato de Jimmy perceber que ser um correspondente
de guerra é muito mais difícil
do que carregar seus discursos
inflamados no blog que ele escreve do Brooklin", diz Lappé,
cujo personagem acaba de atravessar uma crise depressiva.
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