São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 2006

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Novela on-line "bomba" com terrorismo em Bagdá

Com acesso gratuito, capítulos de "Shooting War" entram no ar semanalmente

Tiras são acompanhadas de áudio original de batalhas no Iraque e de trailers, com trilha do DJ Spooky; autores prometem versão impressa

"Revista Smith"
O blogueiro Jimmy Burns tenta se proteger de ataque durante uma das batalhas que cobre no Iraque na novela "Shooting War"

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Cai na rede na quarta-feira o nono capítulo de uma novela gráfica on-line que já rendeu elogios da revista "Rolling Stones" ("assustadoramente inteligente") e da bíblia do mercado editorial, a "Publisher's Weekly" ("precisa, relevante e atual"). Espécie de alegoria auto-referente do futuro do jornalismo "pessoal" ou de "cidadão" -leia-se blogs e afins-, "Shooting War" (smithmag. us/shootingwar) tem como pano de fundo o terrorismo e a Guerra do Iraque.
Quem assina a história é o jornalista Anthony Lappé, ex-colaborador do "New York Times" e das revistas "Details" e "Paper", que se inspira na própria experiência na cobertura da guerra e primeiras insurgências no Iraque. Em 2003, Lappé rodou no país um documentário ("BattleGround: 21 Days on the Empire's Edge"), produzido para o canal Guerrilla News Network (gnn.tv), e também noticiou sobre o conflito através de um blog. O tom de "reality show" fica por conta do áudio real das batalhas, que o jornalista coloca on-line.

Terror em 2011
Com ilustrações de Dan Goldman, um dos fundadores do estúdio de quadrinhos on-line act-i-vate.livejournal. com, "Shooting War" conta a história do blogueiro americano Jimmy Burns, que em 2011 reporta, com imagens ao vivo, a explosão de seu próprio prédio, durante um ataque terrorista em Nova York.
Burns, cujo blog faz uma campanha de denúncias contra as grandes corporações americanas, se torna uma celebridade midiática da noite para o dia e passa a trabalhar como repórter para uma rede de TV que dedica 24 horas de sua programação ao noticiário de terrorismo.
Como se não bastasse, o nosso "herói" parte para o Iraque para mostrar o que realmente está acontecendo na guerra de guerrilhas que, na novela, já dura oito anos.
"Eu admito que a minha história traz uma versão sombria do pior cenário que a agenda de Bush poderá nos proporcionar", diz Lappé à Folha. "Na novela, há uma crise global de petróleo, a economia dos Estados Unidos está falida e o Oriente Médio vive um conflito generalizado. No Iraque, é claro, uma guerra civil está a toda, e nós não sabemos quem nossos aliados realmente são. Meu futuro realmente não é bonito. Mas eu apenas extrapolei as manchetes ruins de hoje em dia e multipliquei as notícias ruins por dez."
Lappé garante que tenta tirar ao máximo suas próprias inclinações políticas da história. Para os críticos que o acusam de maniqueísta, e até mesmo de um tanto contra-Iraque, ele diz: "Se o futuro parece sombrio, posso apenas dizer: "Leia os jornais de hoje'".
Para criar as ilustrações com forte impacto visual de "Shooting War", Goldman "se inspirou" em fotos e documentários reais da Guerra do Iraque, que, segundo ele, de tão impressionantes, não costumam chegar às telas de televisão. O ilustrador conta que tem tido até mesmo pesadelos por conta da tensão da história que vem criando com Lappé.

Versão impressa à vista
Abrigada no site da revista "Smith", "Shooting War" teve o primeiro capítulo "exibido" no dia 15 de maio. A cada quarta-feira um novo episódio irá ao ar, durante um total de 11 semanas (o plano inicial era de oito semanas) e sempre acompanhado de um trailer com música do americano Paul D. Miller, o experimental DJ Spooky.
"Estou escrevendo bem no estilo de uma tirinha de jornal ou revista, semana a semana, embora a linha básica já esteja traçada. Também tenho adicionado alguns elementos à medida que as notícias mudam, diariamente", conta Lappé, que leva em conta também o "feedback" dos seus leitores.
"Especialmente alguma indicação de que a trama se tornou um clichê ou está previsível. Isto seria uma verdadeira jura de morte para mim. Fizemos até um concurso para títulos no site, e o vencedor foi incorporado ao próximo episódio."
Goldman e Lappé estão avaliando no momento ofertas para publicar uma versão impressa de "Shooting War". O nome da editora -eles avisam que será "uma das grandes"- deve ser anunciado nos próximos dias. "O que vocês estão vendo agora, on-line, é apenas um prólogo para uma série maior. Que deve levar Jimmy a outros lugares perigosos no futuro", promete o jornalista.

Jornalismo de "cidadão"
Lappé ressalta que "Shooting War" é também um retrato do futuro da participação de blogueiros nos noticiários. Para ele, não resta dúvida de que o jornalismo tende a se democratizar com a descentralização da produção de noticiários, como os de seu personagem, o blogueiro Jimmy Burns.
Mas ele faz uma ressalva: "A questão é se os chamados "jornalistas cidadãos" serão realmente bons no que eles fazem. Parte do conflito em "Shooting War" é o fato de Jimmy perceber que ser um correspondente de guerra é muito mais difícil do que carregar seus discursos inflamados no blog que ele escreve do Brooklin", diz Lappé, cujo personagem acaba de atravessar uma crise depressiva.


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