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CECILIA GIANNETTI
Feliz escalada do subúrbio
Era uma vez Copacabana,
que explodiu para renascer
cidade dentro de uma cidade.
Existe à parte há décadas
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A VERDADE que os velhos cantam desde sempre é que Copacabana acabou, ai de ti etc.,
mas o que nela acusavam de fim dos
tempos era só o início de um processo. Era uma vez um bairro, que explodiu para renascer cidade dentro
de uma cidade. Existe à parte há décadas, concentrando o pior e o melhor do Rio.
Quando morei lá, sabia como funcionava em todos os horários: do dia
da feira à madrugada dos carros que
passam de faróis baixos, à procura.
Continuará assim, tema de novela,
líquida e falsa, extrema e sublime,
gosmenta e ardorosa, decaída, onde
aprendi esses e outros adjetivos que
conheço e não aplico a mais nada senão pra descrever um pouco de Copacabana.
Hoje, cheia de tendas armadas para o Pan. Ai do Pan.
Ipanema e Leblon têm mesas de
bar melhor dispostas, mais limpas. É
a impressão que fica da displicência
estudada de seus assépticos botequins, que se desdobram em franquias onde passa o tempo mais lento
de todos os tempos.
Quase consultórios médicos, se
comparados a verdadeiros pés-sujos
de outros cantos. São bairros sem
bares imundos. Talvez tenha sobrado de pé um único entre Ipanema e
Leblon, freqüentado por quase ninguém. Mas é secreto. Não o encontro sozinha, sem os amigos de antigamente.
Copacabana suburbanou-se toda,
edifício Master, galeria Alaska, formigueiro da Nossa Senhora e da Barata Ribeiro, dona das árvores, dos
porteiros, dos nomes dos prédios,
dos endereços errados, da pronta-entrega das farmácias e pizzarias,
da opção pelo que é solitário, da
omissão dos guardas, de poodles
encardidos, escarros pelas janelas,
dos turistas que ficam e dos que não
têm a força necessária para ficar,
e descobrir se esgotaram rápido
demais sua vontade de esgotar tudo
o que existe.
Na feira para gringos perto da colônia de pescadores, no Posto 6, vendem-se a preço alto pedras não-preciosas, camisetas onde se lê "cachaça" com letra do logo da Coca-Cola,
narguilês, biquínis, atabaques, cocada, acarajé.
Os camelôs me exibem colares,
me põem um chapéu de palha, me
dão um tamborim, como se eu fosse
estrangeira em Copacabana. Ao fim
das filas de barracas, numa calçada
de frente para um cruzamento, uma
caixa de isopor tampada por um tabuleiro de xadrez permanece à espera de dois jogadores.
Os gringos que vêm a Copa gastam
os tubos em passagens de avião, hotel, safáris picaretas em favelas.
Pra ver as mesmas coisas que a gente
daqui tem ao alcance de uma Kombi, pra ficar num exemplo: é descer
a Rocinha, Nova York das favelas,
e tá na praia.
Paga bem o turista pra deitar nas
cadeiras reclináveis do Copacabana
Palace ou do Marina, fincadas na
mesma areia onde estão as cadeiras
oferecidas a R$ 2 pelos barraqueiros
do Leme a São Conrado. Paga bem
pelo que os locais, com emprego fixo
ou bicos ou nada além de tempo,
têm quase de graça. E graças a Deus:
ao menos têm isso.
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