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Crítica/ "Enquanto o Sol Não Vem"
Jogo de frustrações move filme virtuoso
RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A atriz, roteirista e diretora francesa Agnès
Jaoui construiu sua
obra em torno de um momento
específico: aquele em que caem
as máscaras dos personagens.
Eles são sempre seres insatisfeitos que se escondem atrás de
um mundo de aparências e que
decidem (ou são levados a) desempenhar um novo papel em
suas vidas.
Era assim com o empresário
enfastiado com o mundo dos
negócios que decidia mergulhar no mundo teatral em "O
Gosto dos Outros" (2000) e
com a garota acima do peso que
tentava provar seu valor como
cantora lírica em "Questão de
Imagem" (2004).
Em seu terceiro filme, "Enquanto o Sol Não Vem", os personagens continuam a girar a
roda da frustração e da mudança. Agathe Villanova (Jaoui) é
uma escritora feminista que
tenta entrar para a política. Karim (Jamel Debbouze) é um
porteiro de hotel que quer virar
cineasta, incentivado pelo veterano jornalista Michel Ronsard
(Jean-Pierre Bacri). Os dois decidem fazer um documentário
sobre Agathe, porque ela é "a
única mulher famosa que conhecem": Karim é filho da empregada argelina de Agathe,
Michel é amante da irmã dela.
Dos encontros entre os três
para o documentário, nascem
os episódios cômicos e dramáticos que aos poucos revelam
quem eles são por baixo da camada da encenação social: Agathe, uma feminista incapaz de
ver que trata a empregada como escrava; Karim, um descendente de imigrantes revoltado
com a condescendência dos
franceses; Michel, um jornalista que se diz consagrado e não
consegue emplacar um projeto
há anos. Mas o olhar de Jaoui
para seus personagens não é de
condenação, e sim de afeto.
Eles só se tornam serem íntegros quando se revela tudo que
lhes falta.
Jaoui já foi associada ao americano Woody Allen (por um cinema mais centrado no texto e
pouco preocupado com a linguagem, pelo olhar cômico para a burguesia da metrópole) e à
fase mais recente da obra do
francês Alain Resnais (natural,
pois ela colaborou nos roteiros
de "Smoking/No Smoking" e de
"Amores Parisienses"). Ela pode não ter o gênio cômico do
primeiro ou a imaginação visual do segundo, mas vem
construindo uma obra bastante
sólida, com uma visão de mundo particular e uma autoralidade discreta, que não ostenta
suas virtudes.
ENQUANTO O SOL NÃO VEM
Direção: Agnès Jaoui
Produção: França, 2008
Com: Agnès Jaoui, Jean-Pierre Bacri e
Jamel Dabbouze
Onde: a partir de hoje nos cines Cidade
Jardim, Espaço Unibanco Augusta e Reserva Cultural
Classificação: 12 anos
Avaliação: bom
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