São Paulo, sábado, 17 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Francês ensina como fechar o Louvre

Sindicalista líder de greves que fizeram parar os museus nacionais de seu país fala em fórum do setor no Brasil

Arquiteto afirma que a França está regredindo em políticas culturais e aponta "guerra" com o presidente Sarkozy


ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Se algum dia você chegar ao Museu do Louvre ou ao Pompidou, na França, e der com o nariz na porta, é possível que você encontre, ao lado de uma faixa com um anúncio de greve, Nicolas Monquaut.
O sorriso levemente maroto faz com que Monquaut, 41, guarde no semblante certo idealismo juvenil. Mas, na prática, ele joga duro.
Arquiteto contratado pelo ministério da Cultura da França, ele preside, há dez anos, o sindicato dos trabalhadores do setor.
No final de 2009, organizou o movimento que deixou os museus nacionais fechados por quase dois meses. Em 1999, liderou a greve que parou os essas instituições por 21 dias.
No ano passado, não ganharam nada. Em 1999, conseguiram a regularização dos funcionários que tinham contratos informais.
"Conseguindo ou não o que queremos, as greves são importantes porque mobilizam o país", diz, lembrando que só o Louvre recebe 10 milhões de pessoas por ano.
Foi para falar sobre o significado do trabalho nos museus que Monquaut veio ao Brasil. Sua palestra no 4º Fórum Nacional de Museus, em Brasília, era sobre "memória e trabalho". Mas a política laçou sua fala.
É que a França vive dias tumultuados. O presidente Nicolas Sarkozy anunciou cortes nas subvenções para a cultura e redução no quadro do funcionalismo.

"É A GUERRA"
Há duas semanas, os presidentes dos museus do Louvre, d'Orsay e Pompidou escreveram um artigo no diário "Le Monde" posicionando-se contra tais decisões.
"É a guerra", diz Monquaut, de olhos arregalados. "A França está regredindo. Estudos mostram que cada euro investido em museus dá, de retorno, 20. Mas eles não querem saber disso."
Segundo o sindicato, a cada ano aumenta o número de frequentadores dos museus e cai o de funcionários. Há, além disso, corte nos orçamentos. "Algumas exposições estão sendo canceladas", conta.

"NÃO CUSTO CARO"
Monquaut entrou no Museu de Versalhes em 1985, quando fazia faculdade de arquitetura, para pagar os estudos. Mas eis que veio a convivência com os funcionários e, com ela, a descoberta: "São todos orgulhosos do que fazem e são mais conscientes de que os museus são um bem público do que o Estado".
Moldava-se assim a fala que Monquaut difunde pela França e em viagens pelo mundo. "Sou pago pelo ministério para fazer greves", ri. "Mas não custo caro."

A jornalista viajou a convite do 4º Fórum Nacional de Museus



Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Brasil usa museu como "geladeira", afirma governo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.