São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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Casa dos artistas

Projeto reúne brasileiros e estrangeiros em residência na ilha de Itaparica, livres para criar

PEDRO LEAL FONSECA
ENVIADO ESPECIAL A ITAPARICA (BA)

Uma temporada de dois meses numa casa da ilha de Itaparica (14 km de Salvador), em frente ao mar da baía de Todos os Santos, com despesas pagas e sem a pressão de tarefas cotidianas.
Nos últimos dez anos, 180 artistas de 43 países tiveram à disposição esse conjunto de regalias na residência do Instituto Sacatar.
São pessoas como a artista visual carioca Alice Miceli, 31 -destaque da Bienal de São Paulo em 2010-, e o compositor paulista Felipe Lara, 32.
Há poucos meses, eles nem se conheciam. Nas últimas semanas, escolhidos para uma temporada no Sacatar, os dois puderam trocar experiências sobre o "funcionamento dos sons".
Felipe deixou de lado as partituras da obra que compõe para a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e apresentou a Alice programas de computador que fazem análise de sons e que podem auxiliá-la em seu próximo trabalho.

TEMPO PARA CRIAR
Mantido por doações captadas nos Estados Unidos, o Sacatar oferece para os residentes passagens aéreas, uma casa de praia com mais de 8.000 m2, todas as refeições e o principal: tempo livre para criar.
De junho até agosto, há três brasileiros e três estrangeiros vivendo ali. Foram escolhidos em processo de seleção que envolveu entrevistas e análise de trabalhos.
A artista plástica mineira Lucimar Bello, 65, uma das residentes, preenche seu estúdio com 6.000 conchas e capas da Folha, cobertas com óleo de linhaça e pó de aroeira. "Ainda não sei onde isso vai parar. Estou estudando possibilidades."
Ela também desenvolve um projeto com a comunidade local, em oficinas que reúnem, por exemplo, trançadeiras e barbeiros da própria ilha de Itaparica.
Enquanto ela coordena a oficina, o fotógrafo americano Gerald Cyrus, 54, clica os meninos e meninas que foram até o local para trançar os cabelos.
"Pesquiso a cultura afro-baiana há 20 anos. Estou retratando o povo negro de Itaparica e Salvador", diz.

INTERAÇÃO
Segundo ele, na Filadélfia (EUA), é mais difícil interagir com artistas de várias vertentes, como ocorre na casa.
As refeições são os momentos de maior interação. Quando a Folha visitou o local, o grupo conversava -oscilando entre o português e o inglês- enquanto comia uma moqueca de peixe.
Felipe Lara traduzia as impressões da ceramista americana Maggie Smith, 60, sobre a técnica de azulejos que ela conheceu em uma cidade perto da ilha.
"Não temos isso nos EUA. A cultura daqui está influenciando o meu trabalho. Fomos ao candomblé em Itaparica e estou lendo "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro", diz Maggie.
A japonesa Mari Ogihara, 29, também ceramista, trabalha com arames e jornais para reproduzir gaiolas, objeto pelo qual se encantou. "Estamos aqui em um período de reflexão e autodescoberta."


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