São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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ANÁLISE

Na contramão do Brasil, EUA diminuem espaço de tramas

NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

A divulgação repetitiva de que esta ou aquela novela bateu seu recorde, com um ponto a mais, não apaga o registro histórico de que a mais recente produção das 21h terminou em janeiro com a pior audiência da década.
Mas foi ainda relativamente alta, cerca de 35 pontos, e a TV aberta brasileira não conseguiu produzir alternativa.
A repetição de tramas e a própria retomada de um quinto horário, tarde da noite, resultam menos do triunfalismo dos recordes que da falta de opção.
Daí também o eufemismo de divulgação, em que "O Astro", baseada em uma novela de 34 anos atrás, não seria novela, mas "macrossérie".
Um passo à frente, as três grandes redes americanas vêm desativando nos últimos dois anos as mais tradicionais "soap operas".
"Guiding Light", que tem o recorde de duração, foi cancelada em 2009. "As the World Turns" foi cancelada no final do ano passado. Eram as últimas "óperas de sabão" originais, patrocinadas pela Procter & Gamble.
E foram trocadas na CBS por, respectivamente, um "game show" e um "talk show", programas de custo de produção menor.
Há três meses, mais duas baixas, com o cancelamento de "All My Children" e "One Life to Live". O motivo foi a queda de público como um todo: em duas décadas, foi para um quinto do que era.
Na justificativa da ABC, é a "mudança nos padrões de audiência", com cada vez menos mulheres em casa. Pela mesma razão, a Disney, dona da rede, decidiu fechar também seu canal de reprises de "soap operas", modelo para o brasileiro Viva.
Com espaço reduzido em TV, o gênero vai tentar sobreviver na internet. Uma produtora independente comprou os direitos de "All My Children" e "One Life to Live", mas enfrenta dificuldade para manter os elencos.
No Brasil, para sobreviver com as novelas no ar, o caminho anunciado é buscar linguagem mais próxima da chamada nova classe média, dos que ascenderam à classe C nos últimos anos.
Daí o retorno às tramas melodramáticas, de conflito mais raso entre o bem e o mal, em contraste com a maior complexidade temática e formal adotada nas últimas décadas.
Em favor da TV aberta no Brasil, além da diferença de ciclo econômico com os EUA, aqui em crescimento, lá em estagnação, registre-se que as redes americanas vêm testando adaptações de novelas latino-americanas.


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