São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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HQ

Capitão Presença é sucesso na internet e inspira música

Fanzine retorna com personagem que mobiliza cena de quadrinistas

ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Adivinha, doutor, quem tá de volta na praça? Um pássaro, um avião? Ícone dos turbulentos tempos que atravessamos, um super-herói desce dos céus oferecendo ajuda aos desesperados que clamam por salvação. "Grandes poderes exigem grandes responsabilidades!", diz o fanzineiro Matias Maxx, inspirador do personagem.
Bolado pelo flamenguista Arnaldo Branco no final de 2003, o Capitão Presença é a força motriz por trás da revista de Maxx, a iconoclasta "Tarja Preta", em que diferentes autores do novo quadrinho nacional visitam um mundo em que a ausência de maconha pode ser revertida com um chamado por um super-herói.
"Tarja Preta" chega à sua quarta edição e será lançada hoje em São Paulo. Mas o personagem de Branco segue vôo solo para além das páginas da revista -de wallpaper de celular a música do coletivo Instituto, o Capitão voa solto pela imaginação dos criadores.
"Estou em processo de publicação do Capitão Presença pelo Creative Commons", explica Branco, que apenas está regularizando um processo que, na prática, já acontece. Ele lembra da origem do personagem: "Estávamos, eu e o Allan Sieber, esperando o Matias chegar em casa quando pensamos num personagem que sempre tinha um beque em cima, o Capitão Ganja. Fiquei com a idéia do personagem, fiz duas tiras usando o Matias como inspiração e coloquei no meu blog. Saí de férias e, quando voltei, um monte de gente estava fazendo histórias com o Presença".
Malandro pós-moderno, o personagem menospreza a força da lei, faz pouco caso de quem usa outras drogas, se leva a sério até o limite da tiração de onda, não pode ver um rabo-de-saia e ri de si mesmo em qualquer ocasião.
O personagem tornou-se um exemplo prático do uso do copyleft: funcionou como catalisador de uma nova geração de cartunistas que, ao usar o personagem, sublinhavam a autoria de Branco. Nomes como Schiavon, Mitchell (da revista "Mosh"), Moskito, Kemp, Danilo, Zé Colméia, Daniel Paiva, Goose e Chakal reinventaram o super-herói cada um à sua maneira, boa parte deles reunidos no blog Capitão Presença Museum (presa.blogger.com.br), organizado pelo cartunista André Dahmer.
"Gosto da idéia de o personagem ser livre", diz Arnaldo, que licenciou o Presença para manter sua liberdade. "O Bill Watterson, autor do "Calvin", não gostava de licenciar o personagem para lancheiras e camisetas de grandes corporações. Ele preferia vê-lo pirateado, por saber que a medida do gosto público é autêntica", explica Branco, que procura editoras para viabilizar um álbum do personagem, já adiantado.
A força do Presença pode ser medida pelo número de down-loads do wallpaper do personagem no site Claro Idéias (3.000, sendo que cada um é vendido a R$ 1) e pelo fato de o coletivo Instituto ter gravado uma música instrumental batizada simplesmente de "Capitão Presença". A faixa, um funkão 70 com guitarra de hard rock, é propositadamente referente aos seriados de ação dos anos 70, deixando no ar possibilidades ainda mais improváveis para o Capitão. Ela está na coletânea "Smoking Hip Hop", a ser lançada no mês que vem, que a gravadora ST2 solta em parceria com a célebre marca de seda e que ainda conta com Nação Zumbi e Cidadão Instigado, Bid, DJ King, Funk como Le Gusta e os rappers Speed, Black Alien, Max B.O. e Paulo Nápoli.


Tarja Preta 4
Onde encontrar:
www.cucaracha.com.br/tarjapreta (100 págs., R$ 2)
Lançamento: Galeria Choque Cultural (r. João Moura, 997, SP, tel. 0/xx/11/ 3061-4051); hoje, às 20h, entrada franca, e na Funhouse (r. Bela Cintra, 567, SP, tel. 0/xx/11/3259-3793), às 23h; R$ 6


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