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No Multishow, "Retrato Celular" mostra pessoas em "self-reality"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Se a última grande novidade
da televisão foram os reality
shows, por que não se inspirar
nos blogs e no YouTube e fazer
algo mais reality e menos
show? Esse pensamento, traduzido no conceito "self-reality", levou a Conspiração Filmes a realizar, sob encomenda
do canal Multishow, a série
"Retrato Celular".
Durante duas semanas, 24
telefones com alta qualidade na
captação de som e imagem foram entregues a jovens de quatro Estados (São Paulo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Rio
Grande do Sul). Orientação: filmar o que quisessem de suas vidas. Até no extremo norte da
Noruega um dos aparelhos foi
parar, levado pelo maratonista
mineiro Camilo Geraldi.
"Ao filmarem as próprias vidas, as pessoas escolhem o que
querem mostrar e acabam se
mostrando. Nós não criamos
estereótipos. Mas, às vezes, elas
mesmas se estereotipam", diz o
diretor-geral Andrucha Waddington, emocionado ao citar
um longo e silencioso plano feito pelo músico carioca Leandro
Sapucahy, 37, de seu filho Leonardo, 9: "Nunca vi material tão
íntimo".
Sapucahy foi o personagem-piloto, convidado em março
passado. Em seguida, a equipe
dos diretores Patricia Guimarães, Monica Almeida e Paulo
de Barros foi atrás de outros jovens que tivessem "carisma",
como resumem.
É gente como a gaúcha Nicole, 20, que exibe sem constrangimento, no episódio "Beleza e
Estética", os seus inúmeros
cuidados com a beleza, aparecendo até em trajes íntimos.
Ou o artista multimídia Chivitz, que repassa seus conhecimentos para o filho no capítulo
"Pais e Filhos".
Ou, ainda, Fernando, um paquerador carioca que, no segmento "Fidelidade", resume
sua atividade no lema "Eu não
tenho filtro".
Tímidas no início, as pessoas
se soltavam com os dias. "Optamos pelo menor dispositivo de
filmagem possível. E o celular
está presente no cotidiano de
todos. Se entrássemos nas casas com uma equipe de quatro
pessoas, ninguém ficaria à vontade", explica o produtor-executivo Luiz Noronha, um dos
idealizadores do projeto.
Interferências
A Conspiração ressalta ter sido mínima a sua interferência
nas gravações, mas ela existiu.
Em primeiro lugar, ao verem
que um jovem estava insistindo
muito em um tema ou em um
lugar, a equipe de diretores pedia diversificação.
Após receberem o material
bruto, eles fizeram entrevistas
com todos, para costurar as
imagens e enquadrar os personagens nos assuntos dos oito
episódios. E depois, é claro,
houve a edição.
"Estudei com Jean Rouch na
França, trabalhei três anos com
Eduardo Coutinho, mas agora é
que estou descobrindo o que é
cinema direto", exalta Patricia
Guimarães.
A música "Olho Mágico" foi
composta por Gilberto Gil especialmente para a trilha do
programa. Gil vinha estimulando Andrucha há bastante tempo a se aprofundar no cinema
digital.
"Eu disse a ele: "melhor ainda. Você vai começar num estágio de aventura e risco até mais
avançado do que eu imaginava'", diz o ministro da Cultura.
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