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"Falta foco à moda brasileira", diz Bianco
Um dos brasileiros mais conhecidos no meio da moda internacional não é um estilista.
É o diretor de arte Giovanni
Bianco, 41, carioca, filho de um
feirante, que diz falar mal o inglês e um pouco melhor o italiano -o que não o impediu de fazer uma fulgurante carreira no
exterior, com criações para
Madonna e o grupo Prada.
No Brasil, seus trabalhos
mais recentes incluem a programação visual dos novos discos de Marisa Monte e Lulu
Santos e as publicidades da
Arezzo. No último mês, ele deixou Nova York, onde vive, para
produzir as campanhas da Triton e das marcas Forum e Forum by Tufi Duek.
Com a Forum, é como se ele
voltasse no tempo. Nos idos de
1994, foi seu trabalho para esta
grife que ajudou as campanhas
de comunicação das marcas
brasileiras a darem um salto de
modernidade e internacionalização -ele chegou a trazer ao
país um dos melhores fotógrafos de moda, Steven Klein, de
quem se tornou colaborador.
Naquela época, Bianco vivia
em Milão, para onde se mudara
em 1988, com a cara e a coragem. "Antes da moda, trabalhei
em tudo que se possa imaginar", conta ele, que tinha largado o curso de engenharia civil
para fazer design gráfico.
Na Itália, envolveu-se com o
meio da moda e do design e, um
belo dia, foi chamado por Domenico Dolce e Stefano Gabbana para fazer a programação visual dos catálogos da grife
D&G, que estava sendo lançada. Foi o começo de um portfólio de clientes que incluiria
Missoni, DSquared, Max Mara
e uma série de outras marcas
prestigiosas. Atualmente, Bianco está produzindo um livro comemorativo da D&G.
Para Madonna, ele fez a direção de arte das turnês "Reinvention" (2004) e "Confessions" (2006) e do álbum "Confessions on a Dance Floor". "O
que mais me impressiona em
Madonna é como ela trabalha
arduamente. Ela tem o controle total de tudo. Tudo vem da
imaginação dela", conta.
Com tanto trânsito no meio
mundial da moda, Bianco se
exaspera ao ver a insignificância do Brasil neste circuito. "A
moda brasileira não tem relevância internacional porque,
apesar de criarem bons produtos, as marcas não têm foco real
de produção nem de distribuição. É um pecado o país não estar disputando o mercado global como deveria", diz.
Ele se incomoda com a indiferença dos estrangeiros em relação à moda brasileira. "Jornalistas do exterior que vêm ao
país, inclusive para as semanas
de moda, passam mais tempo
nas boates e no Copacabana
Palace do que nos desfiles."
Na sua opinião, o excesso de
individualismo é um dos fatores que atrapalham a moda brasileira. "O que virou o marketing de moda no Brasil? É sair
em coluna social", observa.
"Existem poucas pessoas preocupadas em pensar o futuro do
business. Temos que ser menos
individualistas e criar, juntos,
novas soluções."
Bianco vê a moda no país
-da imprensa às fashion
weeks- como um sistema organizado à base de permuta e
patrocínio, mais do que como
negócio real. "Bato palmas para
quem faz as semanas de moda,
mas hoje elas têm um grande
buraco: está faltando conteúdo
e edição", afirma. "A moda é um
todo, não pode ser o que acontece numa semana apenas. A
marca São Paulo Fashion Week
se tornou mais importante que
qualquer grife individual."
Para ele, as marcas brasileiras precisam investir na "cultura da qualidade" e numa renovação do streetwear. "Ninguém
espera que o Brasil faça prêt-à-porter de luxo, o que não quer
dizer que não possamos fazê-lo.
Mas muitos no mundo aguardam daqui um novo streetwear,
jovem e casual", diz Bianco.
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