São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2007

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"Falta foco à moda brasileira", diz Bianco

Um dos brasileiros mais conhecidos no meio da moda internacional não é um estilista. É o diretor de arte Giovanni Bianco, 41, carioca, filho de um feirante, que diz falar mal o inglês e um pouco melhor o italiano -o que não o impediu de fazer uma fulgurante carreira no exterior, com criações para Madonna e o grupo Prada.
No Brasil, seus trabalhos mais recentes incluem a programação visual dos novos discos de Marisa Monte e Lulu Santos e as publicidades da Arezzo. No último mês, ele deixou Nova York, onde vive, para produzir as campanhas da Triton e das marcas Forum e Forum by Tufi Duek.
Com a Forum, é como se ele voltasse no tempo. Nos idos de 1994, foi seu trabalho para esta grife que ajudou as campanhas de comunicação das marcas brasileiras a darem um salto de modernidade e internacionalização -ele chegou a trazer ao país um dos melhores fotógrafos de moda, Steven Klein, de quem se tornou colaborador.
Naquela época, Bianco vivia em Milão, para onde se mudara em 1988, com a cara e a coragem. "Antes da moda, trabalhei em tudo que se possa imaginar", conta ele, que tinha largado o curso de engenharia civil para fazer design gráfico.
Na Itália, envolveu-se com o meio da moda e do design e, um belo dia, foi chamado por Domenico Dolce e Stefano Gabbana para fazer a programação visual dos catálogos da grife D&G, que estava sendo lançada. Foi o começo de um portfólio de clientes que incluiria Missoni, DSquared, Max Mara e uma série de outras marcas prestigiosas. Atualmente, Bianco está produzindo um livro comemorativo da D&G.
Para Madonna, ele fez a direção de arte das turnês "Reinvention" (2004) e "Confessions" (2006) e do álbum "Confessions on a Dance Floor". "O que mais me impressiona em Madonna é como ela trabalha arduamente. Ela tem o controle total de tudo. Tudo vem da imaginação dela", conta.
Com tanto trânsito no meio mundial da moda, Bianco se exaspera ao ver a insignificância do Brasil neste circuito. "A moda brasileira não tem relevância internacional porque, apesar de criarem bons produtos, as marcas não têm foco real de produção nem de distribuição. É um pecado o país não estar disputando o mercado global como deveria", diz.
Ele se incomoda com a indiferença dos estrangeiros em relação à moda brasileira. "Jornalistas do exterior que vêm ao país, inclusive para as semanas de moda, passam mais tempo nas boates e no Copacabana Palace do que nos desfiles."
Na sua opinião, o excesso de individualismo é um dos fatores que atrapalham a moda brasileira. "O que virou o marketing de moda no Brasil? É sair em coluna social", observa. "Existem poucas pessoas preocupadas em pensar o futuro do business. Temos que ser menos individualistas e criar, juntos, novas soluções."
Bianco vê a moda no país -da imprensa às fashion weeks- como um sistema organizado à base de permuta e patrocínio, mais do que como negócio real. "Bato palmas para quem faz as semanas de moda, mas hoje elas têm um grande buraco: está faltando conteúdo e edição", afirma. "A moda é um todo, não pode ser o que acontece numa semana apenas. A marca São Paulo Fashion Week se tornou mais importante que qualquer grife individual."
Para ele, as marcas brasileiras precisam investir na "cultura da qualidade" e numa renovação do streetwear. "Ninguém espera que o Brasil faça prêt-à-porter de luxo, o que não quer dizer que não possamos fazê-lo. Mas muitos no mundo aguardam daqui um novo streetwear, jovem e casual", diz Bianco.


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