São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2010

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"Nunca parei de pensar um pouco como criança"

"Patópolis" levou cerca de 15 anos para ser terminado; livro será lançado hoje na Livraria da Vila, em São Paulo

Obra é pontuada pelas reminiscências de leituras da infância, quando autor "pensava um pouco como adulto"

Pedro Carrilho/Folhapress
O escritor e jornalista Marcelo Coelho

DO EDITOR DA PUBLIFOLHA

"Patópolis", de Marcelo Coelho, praticamente começa com a descrição de um quadrinho: Pato Donald lê, em sua poltrona, uma obra que se chama "Livro Chato".
O tema desencadeia as reminiscências do autor, bem como um torvelinho de reflexões e ironias sobre a chatice das coisas e o "achatamento" do mundo.
A cidade imaginária de Disney vai se sobrepondo às memórias e à realidade, até se transformar -mais real que o real- na referência primordial de todas as coisas. Tudo se miniaturiza, se quadriniza e se "patifica".
Coelho conta que o livro começou a ser feito há cerca de 15 anos. "Escrevi dois capítulos, mas me perdi no labirinto das especulações e não conseguia sair."
Para dar ao leitor um exemplo de "livro chato", o escritor iniciou um conto que seria inserido no meio de "Patópolis". O conto, porém, ganhou vida própria e se transformou na novela (também satírica) "Jantando com Melvin", lançada em 1998.
"Patópolis" continuou empacado, até que, no final do ano passado, Coelho se colocou como resolução de ano novo terminar a obra.
Para tanto, quase não precisou reler os gibis de Disney. "Eu os li muito até os nove anos. Tudo o que citei são coisas das quais me recordo.
Nunca parei de pensar um pouco como criança e, quando era criança, pensava um pouco como adulto", diz o autor, pai de dois garotos que não ligam para gibis.

ANTIGAS LEITURAS
O livro é pontuado pelas reminiscências de Coelho a respeito das leituras que fez na infância e na juventude.
"Desde pequeno eu lia muito. Os livros acabaram sendo uma realidade mais intensamente vivida por mim. A experiência de vida foi substituída por uma experiência de leitura", explica.
São essas leituras que norteiam as lembranças do passado, do qual Coelho faz uma descrição patética e rebaixada. Aproveita, no caminho, para demolir a religião ("nunca vimos um pato na cruz"), sistemas filosóficos e políticos, além de uma série de paixões intelectuais, como Pascal ("nome aliás de pato enfermiço").
Coelho é, porém, cauteloso ao falar de "Patópolis" como um ataque à regressão social e cultural de nossa época. "Não sei se a dificuldade de maturação é um tema do livro, ou se o livro é um sintoma disso. Adorno estaria denunciando a regressão de nossa época, eu estou me debatendo com isso e desfrutando", confessa.
(ALCINO LEITE NETO)

PATÓPOLIS
AUTOR Marcelo Coelho
EDITORA Iluminuras
QUANTO R$ 35 (136 págs.)
LANÇAMENTO hoje, às 18h30, na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915, Pinheiros, tel. 0/xx/11/3814-5811)


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