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"Nunca parei de pensar um pouco como criança"
"Patópolis" levou cerca de 15 anos para ser terminado;
livro será lançado hoje na Livraria da Vila, em São Paulo
Obra é pontuada pelas
reminiscências de
leituras da infância,
quando autor "pensava
um pouco como adulto"
Pedro Carrilho/Folhapress
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O escritor e jornalista Marcelo Coelho
DO EDITOR DA PUBLIFOLHA
"Patópolis", de Marcelo
Coelho, praticamente começa com a descrição de um
quadrinho: Pato Donald lê,
em sua poltrona, uma obra
que se chama "Livro Chato".
O tema desencadeia as reminiscências do autor, bem
como um torvelinho de reflexões e ironias sobre a chatice
das coisas e o "achatamento"
do mundo.
A cidade imaginária de
Disney vai se sobrepondo às
memórias e à realidade, até
se transformar -mais real
que o real- na referência primordial de todas as coisas.
Tudo se miniaturiza, se quadriniza e se "patifica".
Coelho conta que o livro
começou a ser feito há cerca
de 15 anos. "Escrevi dois capítulos, mas me perdi no labirinto das especulações e
não conseguia sair."
Para dar ao leitor um
exemplo de "livro chato", o
escritor iniciou um conto que
seria inserido no meio de
"Patópolis". O conto, porém,
ganhou vida própria e se
transformou na novela (também satírica) "Jantando com
Melvin", lançada em 1998.
"Patópolis" continuou
empacado, até que, no final
do ano passado, Coelho se
colocou como resolução de
ano novo terminar a obra.
Para tanto, quase não precisou reler os gibis de Disney.
"Eu os li muito até os nove
anos. Tudo o que citei são
coisas das quais me recordo.
Nunca parei de pensar um
pouco como criança e, quando era criança, pensava um
pouco como adulto", diz o
autor, pai de dois garotos que
não ligam para gibis.
ANTIGAS LEITURAS
O livro é pontuado pelas
reminiscências de Coelho a
respeito das leituras que fez
na infância e na juventude.
"Desde pequeno eu lia muito. Os livros acabaram sendo
uma realidade mais intensamente vivida por mim. A experiência de vida foi substituída por uma experiência de
leitura", explica.
São essas leituras que norteiam as lembranças do passado, do qual Coelho faz uma
descrição patética e rebaixada. Aproveita, no caminho,
para demolir a religião
("nunca vimos um pato na
cruz"), sistemas filosóficos e
políticos, além de uma série
de paixões intelectuais, como Pascal ("nome aliás de
pato enfermiço").
Coelho é, porém, cauteloso ao falar de "Patópolis" como um ataque à regressão social e cultural de nossa época. "Não sei se a dificuldade
de maturação é um tema do
livro, ou se o livro é um sintoma disso. Adorno estaria denunciando a regressão de
nossa época, eu estou me debatendo com isso e desfrutando", confessa.
(ALCINO LEITE NETO)
PATÓPOLIS
AUTOR Marcelo Coelho
EDITORA Iluminuras
QUANTO R$ 35 (136 págs.)
LANÇAMENTO hoje, às 18h30, na
Livraria da Vila (r. Fradique
Coutinho, 915, Pinheiros, tel.
0/xx/11/3814-5811)
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