São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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MÚSICA

Ao lançar novo disco, Ivan Lins anuncia que ele e Frejat serão substituídos nos encontros por membros do sindicato

Cantor deixa reuniões sobre numeração

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ivan Lins, 57, está com um pé em cada canoa ao lançar seu novo disco, "Love Songs - A Quem me Faz Feliz". Pelo lado musical, intensifica a busca pela voz suave, que a cada novo álbum contrasta mais com o tom forçado à black music do início e ao canto gritado dos maiores sucessos.
Na canoa da política, alterna as tarefas musicais com a participação no grupo de trabalho pela numeração de CDs, em Brasília. Confessa que entrou ali sem representatividade junto à classe musical (foi convidado pelo governo federal), mas expõe que a conquistou graças à postura combativa e a reuniões cariocas com Lobão, Beth Carvalho e outros membros da ala militante.
Mesmo assim, Ivan revela que não vai mais participar das reuniões, e diz que o outro representante dos artistas, o cantor e compositor Frejat, também não.
"Fui a poucas reuniões, acho que ele menos ainda. Em reuniões no sindicato dos músicos, no Rio, decidimos que eu e Frejat seríamos substituídos por membros do sindicato, que estão decidindo por nós e nos mantendo informados de tudo o que acontece", diz.
Nem pelo abandono parcial ele diminui o tom combativo, comentando a polêmica denúncia que a deputada Tânia Soares (PC do B-SE) fazia no projeto de lei vetado pelo presidente, de que as gravadoras manteriam rotina de fraudes no controle das vendagens de discos.
"A deputada se excedeu nos termos, mas o que ela disse tem fundamento. Antigamente havia isso, hoje, há no mínimo uma má distribuição. Conversamos muito na comissão, e uma das conclusões é que o problema de má administração existe. O grande problema se chama estoque, ali acontecem coisas misteriosas."
Embora o grupo de trabalho patine numa primeira prorrogação do prazo de 30 dias para oferecer uma solução, o músico diz que o trabalho chegará a uma conclusão, sim. "Tudo está caminhando para a solução da numeração por lotes. O grupo de trabalho não vai acabar em pizza. Não posso falar isso com 100% de certeza porque a gente vive no Brasil, mas acho que não vai acabar em pizza".
De volta à música, Ivan Lins conta longa história sobre os tons jobinianos, às vezes quase sussurrados, que se intensificam mais do que nunca no novo disco.
De volta ao começo: "Em 67, eu era pianista, tocando jazz e bossa nova. Gostava do jeito de João Gilberto cantar, e o modo como Caetano Veloso e Gal Costa cantavam em "Domingo" (67) me marcou demais. Não era cantor, não precisava me preocupar com isso. Mas comecei a gostar de Ray Charles e Joe Cocker, e, quando fui começar a cantar, queria mostrar como minha música ficaria legal na voz de um Joe Cocker".
Era artificial, ele admite, e se iniciou então a fase de seus maiores sucessos, cantados quase sempre aos altos brados. "Segui cantando, mas sempre grilado com a maneira de interpretar, me achando desafinado, inseguro", conta.
A surpresa veio acontecer após 23 anos de canto: "Em 94, resolvi ter aulas de canto, pegar aula com professora. Ela me disse que eu cantava dois tons acima do natural para minha voz de tenor. Disse que eu nunca havia usado minha voz e que por isso não conseguia cantar bem. Quase chorei de emoção, botei tudo lá embaixo. Pela primeira vez, passei a gostar de cantar".
Um bom intérprete, afinal? "Eu fazia meus discos e não conseguia mais ouvir. Não me acho um bom cantor, mas pelo menos já consigo me escutar", encerra.



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