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MÚSICA
Ao lançar novo disco, Ivan Lins anuncia que ele e Frejat serão substituídos nos encontros por membros do sindicato
Cantor deixa reuniões sobre numeração
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ivan Lins, 57, está com um pé
em cada canoa ao lançar seu novo
disco, "Love Songs - A Quem me
Faz Feliz". Pelo lado musical, intensifica a busca pela voz suave,
que a cada novo álbum contrasta
mais com o tom forçado à black
music do início e ao canto gritado
dos maiores sucessos.
Na canoa da política, alterna as
tarefas musicais com a participação no grupo de trabalho pela numeração de CDs, em Brasília.
Confessa que entrou ali sem representatividade junto à classe
musical (foi convidado pelo governo federal), mas expõe que a
conquistou graças à postura combativa e a reuniões cariocas com
Lobão, Beth Carvalho e outros
membros da ala militante.
Mesmo assim, Ivan revela que
não vai mais participar das reuniões, e diz que o outro representante dos artistas, o cantor e compositor Frejat, também não.
"Fui a poucas reuniões, acho
que ele menos ainda. Em reuniões
no sindicato dos músicos, no Rio,
decidimos que eu e Frejat seríamos substituídos por membros
do sindicato, que estão decidindo
por nós e nos mantendo informados de tudo o que acontece", diz.
Nem pelo abandono parcial ele
diminui o tom combativo, comentando a polêmica denúncia
que a deputada Tânia Soares (PC
do B-SE) fazia no projeto de lei vetado pelo presidente, de que as
gravadoras manteriam rotina de
fraudes no controle das vendagens de discos.
"A deputada se excedeu nos termos, mas o que ela disse tem fundamento. Antigamente havia isso, hoje, há no mínimo uma má
distribuição. Conversamos muito
na comissão, e uma das conclusões é que o problema de má administração existe. O grande problema se chama estoque, ali acontecem coisas misteriosas."
Embora o grupo de trabalho patine numa primeira prorrogação
do prazo de 30 dias para oferecer
uma solução, o músico diz que o
trabalho chegará a uma conclusão, sim. "Tudo está caminhando
para a solução da numeração por
lotes. O grupo de trabalho não vai
acabar em pizza. Não posso falar
isso com 100% de certeza porque
a gente vive no Brasil, mas acho
que não vai acabar em pizza".
De volta à música, Ivan Lins
conta longa história sobre os tons
jobinianos, às vezes quase sussurrados, que se intensificam mais
do que nunca no novo disco.
De volta ao começo: "Em 67, eu
era pianista, tocando jazz e bossa
nova. Gostava do jeito de João Gilberto cantar, e o modo como Caetano Veloso e Gal Costa cantavam
em "Domingo" (67) me marcou
demais. Não era cantor, não precisava me preocupar com isso.
Mas comecei a gostar de Ray
Charles e Joe Cocker, e, quando
fui começar a cantar, queria mostrar como minha música ficaria
legal na voz de um Joe Cocker".
Era artificial, ele admite, e se iniciou então a fase de seus maiores
sucessos, cantados quase sempre
aos altos brados. "Segui cantando,
mas sempre grilado com a maneira de interpretar, me achando desafinado, inseguro", conta.
A surpresa veio acontecer após
23 anos de canto: "Em 94, resolvi
ter aulas de canto, pegar aula com
professora. Ela me disse que eu
cantava dois tons acima do natural para minha voz de tenor. Disse
que eu nunca havia usado minha
voz e que por isso não conseguia
cantar bem. Quase chorei de emoção, botei tudo lá embaixo. Pela
primeira vez, passei a gostar de
cantar".
Um bom intérprete, afinal? "Eu
fazia meus discos e não conseguia
mais ouvir. Não me acho um bom
cantor, mas pelo menos já consigo me escutar", encerra.
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