|
Texto Anterior | Índice
CRÍTICA
Duelo com voz traz ganhos
DA REPORTAGEM LOCAL
O apetitoso duelo travado
entre Ivan Lins e sua voz,
que o artista vem há anos permitindo que o público presencie, resulta num de seus maiores ganhos, evidente como nunca no
novo CD.
De resto, a corda bamba que ele
assumiu, que viaja da música à
política, vem se refletir em "Love
Songs", também de maneira mais
aguda que a já habitual.
Hoje, Ivan radicaliza o contraste
presente em sua música, entre sofisticação (que é cada vez maior) e
puro espírito pop (que em sua
história chegou a pender ao banal,
especialmente na fase "gritada").
Ivan parece, nesse sentido, menos discípulo do Tom Jobim que
ele sempre celebra do que de Sergio Mendes, o brasileiro-estrangeiro que remexeu num só caldeirão bossa nova, música de elevador, soul music, samba, jazz, canção pop-romântica.
No que há de mais sofisticado
em "Love Songs", o CD faz lembrar Tom Jobim, até quando se
arrasta, se prolonga, se excede em
malabarismos. No que há de mais
pop, é Sergio Mendes à pampa, e
esse é o tom predominante.
Explicações possíveis? O artista
de esquerda que lá no começo
cantou "O Amor É o Meu País"
(70), confundindo o Brasil sobre
se estava criticando ou elogiando
o regime militar, pouco a pouco
foi ficando menos brasileiro, mais
poliglota, mais mundial.
É esse artista que hoje sussurra
de delicadeza e, autocrítico, se assume como "copiador" de Sergio
Mendes. Menos (e mais) que isso,
são ambos artistas de mesma natureza, mais aceitos pelo mundo
que por seu próprio país. E assim
vão se equilibrando, sem medo do
perigo, por canoas que teimam
em ir por correntezas distintas.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Love Songs - A Quem me Faz
Feliz
Artista: Ivan Lins
Lançamento: Abril Music
Quanto: R$ 23 (preço sugerido)
Texto Anterior: Frases Índice
|