São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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CRÍTICA

Duelo com voz traz ganhos

DA REPORTAGEM LOCAL

O apetitoso duelo travado entre Ivan Lins e sua voz, que o artista vem há anos permitindo que o público presencie, resulta num de seus maiores ganhos, evidente como nunca no novo CD.
De resto, a corda bamba que ele assumiu, que viaja da música à política, vem se refletir em "Love Songs", também de maneira mais aguda que a já habitual.
Hoje, Ivan radicaliza o contraste presente em sua música, entre sofisticação (que é cada vez maior) e puro espírito pop (que em sua história chegou a pender ao banal, especialmente na fase "gritada").
Ivan parece, nesse sentido, menos discípulo do Tom Jobim que ele sempre celebra do que de Sergio Mendes, o brasileiro-estrangeiro que remexeu num só caldeirão bossa nova, música de elevador, soul music, samba, jazz, canção pop-romântica.
No que há de mais sofisticado em "Love Songs", o CD faz lembrar Tom Jobim, até quando se arrasta, se prolonga, se excede em malabarismos. No que há de mais pop, é Sergio Mendes à pampa, e esse é o tom predominante.
Explicações possíveis? O artista de esquerda que lá no começo cantou "O Amor É o Meu País" (70), confundindo o Brasil sobre se estava criticando ou elogiando o regime militar, pouco a pouco foi ficando menos brasileiro, mais poliglota, mais mundial.
É esse artista que hoje sussurra de delicadeza e, autocrítico, se assume como "copiador" de Sergio Mendes. Menos (e mais) que isso, são ambos artistas de mesma natureza, mais aceitos pelo mundo que por seu próprio país. E assim vão se equilibrando, sem medo do perigo, por canoas que teimam em ir por correntezas distintas.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Love Songs - A Quem me Faz Feliz   
Artista: Ivan Lins
Lançamento: Abril Music
Quanto: R$ 23 (preço sugerido)




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