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Rio receberá exposição inédita de obras-primas do continente vindas de museu de Berlim
ÁFRICA desvendada
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Quando Pablo Picasso (1881-1973) utilizou máscaras africanas
como inspiração para o cubismo,
como em sua obra-prima, "Demoiselles D'Avignon" (1907), costumava dizer que as máscaras,
uma arte primitiva, serviam para
exorcizar fantasmas e que pretendia com sua nova forma de pintura também exercer uma espécie
de exorcismo na arte. Que com o
cubismo ele mudou os rumos da
arte no século 20, não há dúvida,
mas há quem questione a visão do
artista sobre as tais máscaras.
"O exorcismo estava na mente
dele. Picasso fazia uma projeção
positiva nas máscaras de sua visão
negativa sobre a Europa. Ele soube aproveitar a força delas, mas
não foi capaz de perceber que não
eram primitivas", afirma Peter
Junge, diretor da seção africana
do Museu Etnológico de Berlim.
Para comprovar a autonomia
das obras africanas como uma
forma de arte, Junge traz ao Brasil,
no próximo mês, 300 peças do
acervo do museu alemão, realizadas entre os séculos 16 e 20, de 107
culturas diferentes.
O Museu Etnológico possui o
conjunto mais representativo da
produção africana: são 75 mil peças no total, coleção melhor que a
do British Museum, de Londres,
segundo Junge. A mostra ocorre
primeiro no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio, a
partir de 13 de outubro, e divide-se depois em duas partes, no
CCBB de São Paulo e de Brasília,
ambas em janeiro.
"O CCBB de São Paulo é muito
pequeno, devemos levar cem peças para lá", diz Junge, em Berlim.
A idéia da exposição é do alemão
Alfons Hug, atual diretor do Instituto Goethe do Rio e curador da
próxima Bienal de São Paulo, em
2004. "A partir da sugestão do
Hug, decidimos apresentar as
melhores obras de nosso acervo
para mostrar a riqueza da produção artística da África, que não é
uniforme, e por isso achamos que
o nome mais adequando é "Arte
da África'", afirma o diretor.
Das 1.200 peças expostas na coleção permanente do museu, 40 já
não se encontram mais lá. Elas
embarcam nesta quarta para o
Brasil e representam um esforço
inédito do museu em dar maior
visibilidade ao seu acervo. "Nunca tiramos as obras-primas do
museu, mas dada a nova situação
de Berlim, que fez com que o número de visitantes caísse [180 mil
em 2002], decidimos mudar a política de exibição e levar as obras
importantes para o Brasil", conta
a diretora do museu, Viola König.
De certa forma, foram os próprios alemães ou outros "predadores" europeus, que coletaram
objetos na África, os culpados por
considerar a produção africana
como primitiva. "A maioria dos
arqueólogos que trouxeram peças
não se preocupou em saber os nomes dos autores dos objetos, como se só os brancos produzissem
arte", afirma König.
A exposição será dividida em
três módulos: Esculturas Figurativas, Performance (com máscaras
e instrumentos musicais) e Design. Este último, após a mostra
brasileira, ganhará espaço no próprio museu alemão.
"O antigo diretor da seção africana não tinha uma visão tão
aberta em relação ao design. Creio
que não se deve fazer uma distinção entre arte e design. Na mostra
iremos apresentar tanto peças
muito estilizadas como outras,
que de tão simples parecem obras
da Bauhaus", conta Junge.
O jornalista Fabio Cypriano viajou a
convite do Instituto Goethe do Rio de Janeiro.
ARTE DA ÁFRICA. Mostra com 300
peças do Museu de Etnologia de Berlim.
Curadoria: Peter Junge. Quando:
abertura dia 13/10; de ter. a dom., das
11h às 21h; qui., até 22h; até 4/1/04.
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r.
Primeiro de Março, 66, Centro, Rio, tel.
0/xx/21/3808-2020). Quanto: entrada
franca. Patrocinadores: Brasilcap e Banco
do Brasil.
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