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BEST-SELLER NA MIRA
Zadie Smith faz versão atual de E.M. Forster
MICHIKO KAKUTANI
DO "NEW YORK TIMES"
A frase que abre o novo e
glorioso romance de Zadie
Smith anuncia a origem do livro: "Poderíamos começar com
os e-mails de Jerome a seu pai".
Trata-se, evidentemente, de um
eco da frase inaugural do romance de E.M. Forster "Howards End" [Ediouro], de 1910,
que começa com: "Poderíamos
começar com as cartas de Helen
a sua irmã".
Embora a trama de "On
Beauty" (sobre a beleza) se assemelhe notavelmente à de "Howards End", Zadie Smith conseguiu o feito difícil de pegar um
clássico famoso e amado e reinventá-lo totalmente, criando
uma história própria. Ela pegou
um romance sobre a Inglaterra
da era eduardiana -sobre classes sociais e exigências do idealismo e do dinheiro, sobre um
país à beira das reviravoltas sociais da 1ª Guerra Mundial- e o
usou como plataforma de lançamento de uma história inteiramente original sobre famílias e
mudanças de gerações, sobre raça e multiculturalismo na América do novo milênio, sobre
amor e identidade e como a passagem do tempo os afeta.
Smith apresenta uma seqüência fascinante de seu brilhante
romance "Dentes Brancos"
[Companhia das Letras], de
2000, o livro que colocou a escritora britânica, então com 24
anos, no mapa literário internacional. "On Beauty", uma espécie de conclusão desse livro de
estréia, é também um romance
ambientado na cidade grande
(mas, em lugar de Londres, o local é sobretudo Boston), animado por um senso vibrante de como as pessoas vivem e falam hoje, quer sejam acadêmicos de
classe média alta, imigrantes
haitianos marginalizados, candidatos a astros do hip hop ou
neoconservadores afeitos a proferir sermões.
Seguindo o exemplo tanto de
"Dentes Brancos" como de
"Howards End", "On Beauty"
gira em torno das histórias de
duas famílias cujas vidas estão
interligadas e que representam
maneiras muito distintas de enxergar o mundo. Zadie Smith às
vezes cria um efeito de manipulação excessiva de sua história,
mas esses lapsos são rapidamente superados por seu dom
instintivo de contadora de histórias, sua sensibilidade espantosa
para os diálogos e o mágico
acesso que ela tem à vida interior de seus personagens.
"On Beauty" começa com a
proposta de proporcionar ao leitor um olhar irreverente da política acadêmica, da correção política e de como as diferentes gerações encaram questões de raça e classe social, mas seu foco
real é sobre as relações pessoais
-aquilo que, para E. M. Forster, era "a vida real, sempre e para todo o sempre". Como Forster, Zadie Smith possui uma voz
autoral cativante -abrangente
o suficiente para abarcar a seriedade moral, o humor casual e
virtualmente tudo o que existe
entre um extremo e outro-, e
utiliza essa voz para nos presentear com algo raro: um romance
que é tão comovente quanto divertido e provocante.
Tradução de Clara Allain
On Beauty
Autor: Zadie Smith
Editora: Penguin
Quanto: US$ 25,95 (R$ 60); 464 págs.
Onde comprar: www.amazon.com
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