São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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Velhinho maluquinho

Um dos principais desenhistas do país, Ziraldo ganha um almanaque que celebra seus 75 anos

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ziraldo Alves Pinto é bom de papo. Às vésperas dos 75 anos -nasceu em 24 de outubro de 1932, em Caratinga (MG)-, traz às costas inúmeras profissões, passagens por veículos marcantes na cultura brasileira e uma coleção de boas histórias que se compraz em contar.
Parte desses causos está no recém-lançado "Almanaque do Ziraldo", uma abrangente e ricamente ilustrada "biografia visual", como definem os autores, Luis Saguar e Rose Araujo.
Editado pela Melhoramentos, o livro faz um extenso apanhado da obra do desenhista, escritor, editor, apresentador, jornalista, ilustrador, caricaturista (e muitos outros "ista" e "or"), passando por publicações históricas como "O Cruzeiro" e "O Pasquim", além de sua vasta literatura infantil.
"É o maior carinho que já recebi na minha vida", diz Ziraldo, que também é bom de hipérboles, principalmente ao se referir aos amigos (o que faz com freqüência) e às homenagens que tem ganhado por conta da efeméride de outubro.
"Duas pessoas cuidarem com o zelo que eles tiveram, procurarem imagens que eu nem lembrava, é tudo que um artista quer na vida. Já posso morrer."
O "Almanaque" é apenas uma das muitas homenagens que já lhe foram feitas neste ano -já teve uma grande exposição, "Jubileu do Ziraldo: 75 Anos de Um Menino Feliz", um DVD, "Ziraldo - O Eterno Menino Maluquinho", uma biografia sobre sua infância, escrita pelo jornalista Audálio Dantas, e ainda vai ganhar um livro reunindo 400 de seus cartazes para feiras, filmes e eventos.
"Eu devo estar desenganado e estão escondendo de mim", diz o autor, fazendo troça. "Essas homenagens todas só ganham os mortos, não os vivos."

Turco do armazém
Ao mesmo tempo em que recebe tantas deferências, continua produzindo em ritmo incessante -só neste ano já foram oito livros, o mais atual deles o infantil "A Menina das Estrelas". É esse ritmo de trabalho que, segundo Ziraldo, lhe garante a jovialidade.
"Estou lendo um livro da Simone de Beauvoir [1908-1986] sobre a velhice e estou impressionadíssimo com o sem-número de escritores e músicos que envelheceram mal. Eu não tenho tempo de ficar velho, eu estou fazendo coisas."
Quando se dá conta de que os 75 anos se aproximam, não é sem bom humor. "Só descubro que estou velho quando passo em frente ao espelho. Não me reconheço ali, nunca achei que ia ficar com essa cara de turco dono de armazém, achava que seria magrinho, de óculos, tipo um Carlos Drummond de Andrade moreno."
Drummond é um de seus amigos que aparecem no "Almanaque" -os dois se aproximaram em 1969, quando Ziraldo lançou "Flicts", seu primeiro livro infantil, que ganhou recentemente o prêmio Hans Christian Andersen, na Itália.
Há muitos outros, da turma do "Pasquim", como Jaguar, Fortuna e Millôr, aos mineiros do Rio, como Fernando Sabino, com quem Ziraldo trabalhou, bebeu, brigou e aprendeu.


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