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Velhinho maluquinho
Um dos principais desenhistas do país, Ziraldo ganha um almanaque que celebra seus 75 anos
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ziraldo Alves Pinto é bom de
papo. Às vésperas dos 75 anos
-nasceu em 24 de outubro de
1932, em Caratinga (MG)-,
traz às costas inúmeras profissões, passagens por veículos
marcantes na cultura brasileira
e uma coleção de boas histórias
que se compraz em contar.
Parte desses causos está no
recém-lançado "Almanaque do
Ziraldo", uma abrangente e ricamente ilustrada "biografia
visual", como definem os autores, Luis Saguar e Rose Araujo.
Editado pela Melhoramentos, o livro faz um extenso apanhado da obra do desenhista,
escritor, editor, apresentador,
jornalista, ilustrador, caricaturista (e muitos outros "ista" e
"or"), passando por publicações históricas como "O Cruzeiro" e "O Pasquim", além de
sua vasta literatura infantil.
"É o maior carinho que já recebi na minha vida", diz Ziraldo, que também é bom de hipérboles, principalmente ao se
referir aos amigos (o que faz
com freqüência) e às homenagens que tem ganhado por conta da efeméride de outubro.
"Duas pessoas cuidarem com
o zelo que eles tiveram, procurarem imagens que eu nem
lembrava, é tudo que um artista
quer na vida. Já posso morrer."
O "Almanaque" é apenas
uma das muitas homenagens
que já lhe foram feitas neste
ano -já teve uma grande exposição, "Jubileu do Ziraldo: 75
Anos de Um Menino Feliz", um
DVD, "Ziraldo - O Eterno Menino Maluquinho", uma biografia sobre sua infância, escrita pelo jornalista Audálio Dantas, e ainda vai ganhar um livro
reunindo 400 de seus cartazes
para feiras, filmes e eventos.
"Eu devo estar desenganado
e estão escondendo de mim",
diz o autor, fazendo troça. "Essas homenagens todas só ganham os mortos, não os vivos."
Turco do armazém
Ao mesmo tempo em que recebe tantas deferências, continua produzindo em ritmo incessante -só neste ano já foram oito livros, o mais atual deles o infantil "A Menina das Estrelas". É esse ritmo de trabalho que, segundo Ziraldo, lhe
garante a jovialidade.
"Estou lendo um livro da Simone de Beauvoir [1908-1986]
sobre a velhice e estou impressionadíssimo com o sem-número de escritores e músicos
que envelheceram mal. Eu não
tenho tempo de ficar velho, eu
estou fazendo coisas."
Quando se dá conta de que os
75 anos se aproximam, não é
sem bom humor. "Só descubro
que estou velho quando passo
em frente ao espelho. Não me
reconheço ali, nunca achei que
ia ficar com essa cara de turco
dono de armazém, achava que
seria magrinho, de óculos, tipo
um Carlos Drummond de Andrade moreno."
Drummond é um de seus
amigos que aparecem no "Almanaque" -os dois se aproximaram em 1969, quando Ziraldo lançou "Flicts", seu primeiro livro infantil, que ganhou recentemente o prêmio Hans
Christian Andersen, na Itália.
Há muitos outros, da turma
do "Pasquim", como Jaguar,
Fortuna e Millôr, aos mineiros
do Rio, como Fernando Sabino,
com quem Ziraldo trabalhou,
bebeu, brigou e aprendeu.
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