SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um amigo me pergunta, no meio do show de Roberto Carlos no Luna Park, principal casa de concertos de Buenos Aires, em abril deste ano: "Como pode um tipo de quase 70 anos cantar sem a menor vergonha que quer ser acompanhado por um 'coro de pajaritos'?".
Não é nada fácil explicar o inquestionável posto do Rei na música popular brasileira para estrangeiros. Mas o certo é que o cantor nunca deixou de colher rentáveis frutos no mercado internacional -e principalmente no de língua hispânica.
Um exemplo do modo como o Rei é visto nesse universo está em "Roberto Carlos en Vivo", em CD e DVD, gravados em Miami. O formato, o mesmo do show na Argentina, repetiu-se em cidades da América Latina e dos EUA no primeiro semestre deste ano -Montevidéu, Santiago, Santo Domingo, Cidade do México e outras.
Pouco conhecida dos fãs brasileiros, a carreira do Rei em outras línguas é de longa data.
Entre 1965, quando lançou "Roberto Carlos Canta a la Juventud", e 1968, quando venceu o Festival de San Remo, na Itália, com "Canzone per Te", o êxito do Rei expandiu-se pelo planeta -e hoje tem álbuns lançados em cinco continentes.
A partir de meados dos anos 70, quase todos os discos saíram também em espanhol. Ao todo, são 22 discos gravados na língua de Cervantes.
E o hit desse repertório é, justamente, o que contém os versos sobre o "coro de pajaritos", "Yo Solo Quiero (un Millón de Amigos)". É com ela que o Rei encerra os concertos latino-americanos, num clímax parecido com o momento "Jesus Cristo" dos brasileiros.
Quase não há Jovem Guarda no Roberto Carlos "for export".
O repertório é o essencialmente romântico, com "Emociones", "Propuesta" etc. No show de Buenos Aires, o Rei calou a tradicional casa de shows portenha, lotada, dizendo que iria ousar cantar Carlos Gardel, e emendou, do repertório do tangueiro, "El Día que me Quieras", com perfeição.
No pique do aniversário dos 50 anos de carreira, em 2009, o cantor lança finalmente um CD de inéditas (o último é de 2005) em dezembro. Uma vitaminada turnê será parte das comemorações e incluirá Colômbia, Peru, Equador, Panamá, Porto Rico, Espanha, Itália, Canadá e EUA -Chicago, San Diego, Las Vegas, San Francisco, Atlanta, Orlando, Washington e outras.
O empresário Dody Sirena disse que o cantor se animou a viajar de novo porque, enfim, sentiu que a ferida aberta com a morte da mulher, Maria Rita, em 1999, está cicatrizando.