São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Grupo quer reconquistar público antigo

DA REPORTAGEM LOCAL

Era para ser um encontro de Zé Celso com Renato Borghi, que fundou com ele o Oficina em 1958, e Pascoal da Conceição, ator revelado na rua Jaceguai nos anos 80 que deixou de se dedicar exclusivamente ao grupo, mas freqüentemente faz visitas e participações. Não foi, por conta de um daqueles atrasos proverbiais do diretor.
À espera de Zé, Pascoal lembra que foi apresentado ao Oficina em 1974, com "O Casamento do Pequeno Burguês", de Bertolt Brecht.
Oito anos depois, já na EAD (Escola de Arte Dramática da USP), escolheu a trupe como tema de um trabalho para a disciplina de teatro brasileiro. Pediu então a Zé que desse um workshop à sua classe: o resultado foi a apresentação de "Mistérios Gozosos", adaptação de poema de Oswald de Andrade em que um vendedor de santos se divide entre uma prostituta e a família.
Logo o ator largou os estudos e se juntou ao bando. "Não imaginava que o teatro pudesse ser tão contextualizado, desse abertura a tantos subtextos. Podia jogar meu universo ali", diz ele, que enfileirou "Ham-let", "Mistérios Gozosos" (agora no Oficina), "Bacantes" e outras antes de encerrar o vínculo permanente com o grupo, no fim dos anos 90.
Por que ele decidiu sair? "Foi meio natural, começaram a surgir outras oportunidades", desconversa, no momento em que Borghi chega e, já tomando pé da conversa, esfrega o dedo médio no polegar, sugerindo um motivo claro: "E dinheiro, claro", concede Pascoal.
Borghi, de seu lado, conta que se desligou em 73 porque se sentia "contrafeito nessa coisa de trazer a platéia, segurá-la, massageá-la", experiência que era fruto do intercâmbio com o coletivo americano Living Theatre:
"Achava o Living colonizador, com um olhar de [padre] Anchieta sobre os índios. O desbunde tomou conta das pessoas. Fiquei eu, o careta, contra 30 desbundados".
O acerto de contas do protagonista de "O Rei da Vela" e "Galileu Galilei" com o Oficina veio ao assistir "Ham-let", em 93. "Foi libertador. Ali, percebi que tinha ficado de bem com a linguagem do Zé."

Área VIP
Ficar de bem com o público da primeira fase do Oficina é o que pretende Zé Celso com "Os Bandidos" -ainda que seu discurso não poupe críticas:
"Era uma juventude pequeno-burguesa que, apaixonada por Che, queria se suicidar como classe e renascer revolucionária. Ao mesmo tempo, havia uma burguesia progressista. Mas essa minha geração ficou bundona, acreditou na besteira do Lennon de que o sonho acabou".
Como "a desculpa [para não ir ao Oficina] é que o teatro é desconfortável e as peças, longas", ele resolveu criar uma área VIP, que espera ver apadrinhada pela Casa do Saber [centro de cursos freqüentado pela elite de SP].
Quanto à duração, bem... "Vai ficar com quatro horas." O ensaio a que a reportagem assistiu, oito dias atrás, levou 6h30.
Para daqui a pouco, o diretor planeja montar "Senhora dos Afogados", de Nelson Rodrigues, e quem sabe levar "Bacantes" à Grécia. (LN)


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