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Grupo quer reconquistar público antigo
DA REPORTAGEM LOCAL
Era para ser um encontro de Zé Celso com Renato Borghi, que fundou com
ele o Oficina em 1958, e
Pascoal da Conceição, ator
revelado na rua Jaceguai
nos anos 80 que deixou de
se dedicar exclusivamente
ao grupo, mas freqüentemente faz visitas e participações. Não foi, por conta
de um daqueles atrasos
proverbiais do diretor.
À espera de Zé, Pascoal
lembra que foi apresentado ao Oficina em 1974,
com "O Casamento do
Pequeno Burguês", de
Bertolt Brecht.
Oito anos depois, já na
EAD (Escola de Arte Dramática da USP), escolheu a
trupe como tema de um
trabalho para a disciplina
de teatro brasileiro. Pediu
então a Zé que desse um
workshop à sua classe: o
resultado foi a apresentação de "Mistérios Gozosos", adaptação de poema
de Oswald de Andrade em
que um vendedor de santos se divide entre uma
prostituta e a família.
Logo o ator largou os estudos e se juntou ao bando. "Não imaginava que o
teatro pudesse ser tão contextualizado, desse abertura a tantos subtextos.
Podia jogar meu universo
ali", diz ele, que enfileirou
"Ham-let", "Mistérios Gozosos" (agora no Oficina),
"Bacantes" e outras antes
de encerrar o vínculo permanente com o grupo, no
fim dos anos 90.
Por que ele decidiu sair?
"Foi meio natural, começaram a surgir outras
oportunidades", desconversa, no momento em
que Borghi chega e, já tomando pé da conversa, esfrega o dedo médio no polegar, sugerindo um motivo claro: "E dinheiro, claro", concede Pascoal.
Borghi, de seu lado, conta que se desligou em 73
porque se sentia "contrafeito nessa coisa de trazer
a platéia, segurá-la, massageá-la", experiência que
era fruto do intercâmbio
com o coletivo americano
Living Theatre:
"Achava o Living colonizador, com um olhar de
[padre] Anchieta sobre os
índios. O desbunde tomou
conta das pessoas. Fiquei
eu, o careta, contra 30 desbundados".
O acerto de contas do
protagonista de "O Rei da
Vela" e "Galileu Galilei"
com o Oficina veio ao assistir "Ham-let", em 93.
"Foi libertador. Ali, percebi que tinha ficado de bem
com a linguagem do Zé."
Área VIP
Ficar de bem com o público da primeira fase do
Oficina é o que pretende
Zé Celso com "Os Bandidos" -ainda que seu discurso não poupe críticas:
"Era uma juventude pequeno-burguesa que, apaixonada por Che, queria se
suicidar como classe e renascer revolucionária. Ao
mesmo tempo, havia uma
burguesia progressista.
Mas essa minha geração
ficou bundona, acreditou
na besteira do Lennon de
que o sonho acabou".
Como "a desculpa [para
não ir ao Oficina] é que o
teatro é desconfortável e
as peças, longas", ele resolveu criar uma área VIP,
que espera ver apadrinhada pela Casa do Saber
[centro de cursos freqüentado pela elite de SP].
Quanto à duração,
bem... "Vai ficar com quatro horas." O ensaio a que a
reportagem assistiu, oito
dias atrás, levou 6h30.
Para daqui a pouco, o diretor planeja montar "Senhora dos Afogados", de
Nelson Rodrigues, e quem
sabe levar "Bacantes" à
Grécia.
(LN)
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