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Ai! Weiwei
Importante artista e ativista da China fala à Folha sobre arte e política no país; chinês se recupera de cirurgia após apanhar da polícia
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O ativismo político do mais
famoso artista da China foi parar nesta semana em uma sala
de cirurgia na Alemanha.
Um mês após apanhar da polícia chinesa em um protesto e
sofrendo dores de cabeça, Ai
Weiwei, 52, precisou da intervenção do bisturi para conter
um sangramento interno.
Ai lançou uma campanha para dar nome às crianças vítimas
do terremoto do ano passado
em seu país, depois que o governo abafou o escândalo das
"escolas de areia".
Morreram em escolas de
construção precária 5.535
crianças.
O governo calou o protesto
dos pais das vítimas, que foi encampado pelo artista. Seu popular blog foi bloqueado em
maio. No Twitter, também bloqueado na China, ele postou fotos pré e pós-cirurgia, feita em
Munique.
O aumento do confronto verbal e físico entre Ai e as autoridades chinesas coincide com o
auge do reconhecimento de sua
obra. Ele foi para a Alemanha
abrir a exposição "So Sorry"
(sinto muito).
Até novembro, a maior retrospectiva de sua obra está em
cartaz no museu Mori, de Tóquio, com 26 trabalhos desenvolvidos entre 1994 e 2009. A
exposição apresenta os interesses múltiplos de Ai, da instalação e fotografia à provocação
política e arquitetura.
Ai é conhecido por ter participado na concepção do Estádio Olímpico de Pequim, convidado pelos arquitetos suíços
Herzog e De Meuron, o chamado "Ninho de Pássaro".
De sua prancheta saíram
mais de 50 construções, entre
edifícios comerciais, residências, restaurantes e até uma vila
de ateliês para amigos artistas,
no bairro de Caochangdi, em
Pequim.
Serpente e fadas
Em Tóquio, sua obra mais recente é uma longa serpente formada por centenas de mochilas
escolares e que dá voltas pelo
teto do museu.
"Depois do terremoto, havia
milhares de mochilas espalhadas, única lembrança das crianças. E a serpente, para os chineses, sempre indica o perigo que
está à espreita", disse Ai para a
Folha na semana passada,
quando já se queixava de dores
de cabeça.
Sua grande retrospectiva em
Tóquio, visitada pela reportagem, também apresenta vídeos
e fotos da performance que fez
na Documenta de Kassel, em
2007. Em "Conto de Fadas", ele
levou 1.001 chineses que nunca
tinham viajado ao exterior para
o evento artístico na Alemanha,
acompanhados de 1.001 cadeiras no estilo da dinastia Qing.
"Ocidente e Oriente precisam se encontrar, com o medo
e a curiosidade que isso implica", diz. "Acho que os participantes acham que aquela pequena cidade encantada alemã
é o Ocidente. Voltaram mais
confusos, o que é bom para a
imaginação e a fantasia", brinca
o artista.
As galerias da pequena Kassel tiveram seus dias de superpopulação com 1.001 chineses
de um lado para outro.
Várias obras tratam da nova
China. Duas grandes tigelas estão recheadas de pérolas cultivadas, como por venda a quilo.
"O luxo, quando em excesso, fica banal", diz. "A China de hoje
é obcecada em ficar rica e o Partido Comunista está cheio de
corruptos, que não sabem como gastar", diz.
Dificilmente a exposição será
apresentada em Pequim. "Para
a censura chinesa, arte só cabe
se for propaganda ou inofensiva", diz. "Mas sou otimista, algum dia vou exibir aqui."
Ele não se empolga com os 60
anos da chegada do comunismo
ao poder, que serão comemorados com pompa em 1º de outubro.
"Se eles não têm coragem de
concorrer em eleições, se os burocratas estão ricos, se nosso
povo é pobre, não há o que comemorar. Deveria ser tempo
de silêncio, de reflexão."
Ai só celebra o fim da bolha
da inflacionada arte chinesa,
graças à crise econômica internacional. "O mundo da arte como um todo precisava dessa
chacoalhada. É uma lição para
novos comportamentos; tomara que não só na arte."
No Twitter, ele disse ontem
que vai se recuperar logo. "Sou
um artista bem-sucedido, posso me tratar bem. Milhões recebem o mesmo tratamento da
polícia, mas sofrerão essas dores pelo resto da vida."
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