São Paulo, quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NINA HORTA

Entre saris, lassis e as águas do Ganges


Tomei gosto pela cozinha indiana com Meeta Ravindra; poderia viver de seus pães, curries e bolinhos


SOMOS DE uma ingratidão sem feitio. Mal acaba uma novela que toma conta do Brasil e que nos deixou falando, vestindo e dançando como os indianos, já vamos nos chegando à próxima que juramos não assistir.
Em menos de um mês estaremos grudados no folhetim da hora e teremos esquecido a curiosidade sadia de saber mais sobre a Índia. Não importa, valeu enquanto durou e podemos relembrar tanta pulseira, tanto sari lindo e matar a saudade comendo alguma coisa que eles comiam.
É que faziam as refeições longe de nós. A despensa ficava trancada, sua chave era sinal de status. E todos os mais velhos queriam tomar chá sem parar, para desespero das noras que os serviam. Cortavam muitos legumes, comiam doces nas festas e, de vez em quando, bebiam um lassi para refrescar.
Por qualquer desmaio, peripaque, pediam a água do Ganges, que já valeu muito por suas propriedades curativas. Agora, o Ganges está bastante poluído, mas já foi um rio limpo, com uma água letal contra germes como os de cólera. Bactericida. Os poluentes orgânicos jogados no rio foram removidos com muito mais facilidade do que em outros rios da Índia. Em laboratório, amostras do leito do rio destruíam completamente bactérias dentro de 15 dias.
Há alguns motivos para isso. A presença de vírus bactericidas, mortais para muitos organismos, como os mosquitos, por exemplo, que não conseguem viver nas águas do Ganges. Segundo, a presença de materiais pesados, também bactericidas, como a prata, o cobre, o ferro, o níquel. E a terceira razão da qualidade da água parece ser uma presença mínima de minerais radioativos.
(Não devem confiar em mim, mas furtei essas informações de um manual que tenho, muito bom, "Indian Food - An Historical Companion", da ed. Oxford, de K.T. Achaya.)
Mas, mesmo sem a água do Ganges, tão milagrosa, podemos ficar com o lassi. Aprendi com Meeta Ravindra, que canta e cozinha como uma deusa de muitos braços. Tomei gosto pela cozinha indiana com ela, poderia viver de seus pães, curries e bolinhos diariamente, sem enjoar, porque inclusive é bastante parecida com nossa comida baiana no modo de servir, nos caldos a encharcarem o arroz e muitas coisinhas mais.
Vai aqui uma receitinha preciosa da Meeta, de arroz, do melhor e mais fácil possível.

 

Para oito ou dez pessoas: 2 xícaras (chá) de arroz agulhinha; 1 xícara e 1/2 de água; 100 g de manteiga sem sal ou ghee (manteiga clarificada); 1 palito de canela; 1 folha de louro; 4 cravos-da-Índia; 6 pimentas-do-reino em grão. Preparo: 1) lave o arroz e deixe a água escorrer por completo; 2) esquente a panela de pressão e a manteiga ou ghee (manteiga clarificada); 3) junte a canela, o louro, o cravo e a pimenta-do-reino e frite por alguns segundos; 4) acrescente o arroz, o sal, a água, mexa com uma colher de pau e tampe -tire o pino da panela e espere o vapor sair; 6) saindo o vapor, coloque o pino e marque o tempo de sete minutos. Está pronto.
Muito bom para comer com um franguinho ensopado e umas fatias de manga crua. Ou banana.

 

Uma bebida refrescante e agradável é o lassi, que deveria ser obrigatória aqui nos nossos tristes trópicos.
Se não gostarem da primeira vez, não desistam, vai se tornar aditiva, com o tempo.
Preparo batendo iogurte com pedras de gelo no liquidificador até que a mistura esteja fina e muito gelada.
Junto uma sementinha de cardamomo descascada e bato mais para moê-la. Depois, uma pequena pitada de sal e outra de açúcar. As receitas de cada casa diferem nesta quantidade de sal e açúcar, para quem gosta quase sem doce, ou neutra. O ideal é, como sempre, o meio-termo.
Até a próxima novela.

ninahorta@uol.com.br

Texto Anterior: Empresário diz que cumpre legislação
Próximo Texto: Tentações
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.