São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

cinema

CRÍTICA DRAMA

Opulência de saga familiar lembra um parque temático

"Baarìa -A Porta do Vento", de Giuseppe Tornatore, é caro e oco

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Lembra da "cosmética da fome", expressão criada pela crítica e pesquisadora de cinema Ivana Bentes para definir filmes que espetacularizavam a miséria brasileira? Em "Baarìa -A Porta do Vento", Giuseppe Tornatore ("Cinema Paradiso") exibe a pobreza italiana como um comercial de TV: em cores vivas, com câmeras espetaculares que voam por cima de casebres e dão rasantes sobre camponeses miseráveis. O efeito é carnavalesco.
O filme é um épico sobre três gerações da família Torrenuova, camponeses da cidade siciliana de Bagheria ("Baarìa", no dialeto local). É uma produção cara, filmada principalmente na Tunísia, com inúmeras cenas de multidões e cenários suntuosos. Segundo a produção, o filme usou cerca de 35 mil figurantes.
"Baarìa -A Porta do Vento" começa nos anos 1930 e acompanha quase meio século de história do país. Em tom didático, o roteiro mostra a ascensão do fascismo, a Segunda Guerra e os anos pós-Mussolini.
A história é contada aos pulos, passando de uma época a outra sem conexão clara entre os tempos históricos. Mas o pior é o tom grandioso e sentimental que Tornatore imprime ao filme. Fica claro que ele ambicionava fazer o seu "Amarcord", o seu "1900", só para citar duas grandes sagas familiares do cinema italiano.
Mas o diretor parece tão absorto na exuberância de suas imagens que se esqueceu de um detalhe importante: histórias precisam de bons personagens, coisa que "Baarìa -A Porta do Vento" não tem.

BELEZA OCA
Como a maioria das superproduções, o filme tem qualidades técnicas indiscutíveis. Dá para ver na tela todo o capricho e dinheiro gastos nos cenários e figurinos. Mas é uma beleza oca.
Um exercício revelador é comparar a suntuosidade da recriação histórica de Tornatore com o uso de imagens de arquivo de outro recente filme italiano inspirado por fatos históricos: "Vincere", de Marco Bellochio.
Enquanto Tornatore gastou fortunas para reproduzir um "real" que, de tão espetacular, mais lembra um parque temático, Bellochio, usando sensibilidade e economia de recursos, deu a "Vincere" um tom documental que tornou a história ainda mais poderosa. Prova de que o real está nos olhos de quem vê. É, afinal, a diferença entre fazer espetáculo e fazer cinema.


BAARÌA - A PORTA DO VENTO

DIREÇÃO Giuseppe Tornatore
PRODUÇÃO Itália, 2009
COM Francesco Scianna, Margareth Madè e Monica Bellucci
ONDE nos cines Espaço Unibanco Augusta, Iguatemi Cinemark e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular




Texto Anterior: Folha.com
Próximo Texto: Raio-X: Giuseppe Tornatore
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.