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cinema
CRÍTICA DRAMA
Opulência de saga familiar lembra um parque temático
"Baarìa -A Porta do Vento", de
Giuseppe Tornatore, é caro e oco
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
Lembra da "cosmética da
fome", expressão criada pela
crítica e pesquisadora de cinema Ivana Bentes para definir filmes que espetacularizavam a miséria brasileira?
Em "Baarìa -A Porta do
Vento", Giuseppe Tornatore
("Cinema Paradiso") exibe a
pobreza italiana como um
comercial de TV: em cores vivas, com câmeras espetaculares que voam por cima de
casebres e dão rasantes sobre
camponeses miseráveis. O
efeito é carnavalesco.
O filme é um épico sobre
três gerações da família Torrenuova, camponeses da cidade siciliana de Bagheria
("Baarìa", no dialeto local).
É uma produção cara, filmada principalmente na Tunísia, com inúmeras cenas
de multidões e cenários suntuosos. Segundo a produção,
o filme usou cerca de 35 mil
figurantes.
"Baarìa -A Porta do Vento" começa nos anos 1930 e
acompanha quase meio século de história do país.
Em tom didático, o roteiro
mostra a ascensão do fascismo, a Segunda Guerra e os
anos pós-Mussolini.
A história é contada aos
pulos, passando de uma época a outra sem conexão clara
entre os tempos históricos.
Mas o pior é o tom grandioso e sentimental que Tornatore imprime ao filme.
Fica claro que ele ambicionava fazer o seu "Amarcord",
o seu "1900", só para citar
duas grandes sagas familiares do cinema italiano.
Mas o diretor parece tão
absorto na exuberância de
suas imagens que se esqueceu de um detalhe importante: histórias precisam de
bons personagens, coisa que
"Baarìa -A Porta do Vento"
não tem.
BELEZA OCA
Como a maioria das superproduções, o filme tem qualidades técnicas indiscutíveis.
Dá para ver na tela todo o capricho e dinheiro gastos nos
cenários e figurinos. Mas é
uma beleza oca.
Um exercício revelador é
comparar a suntuosidade da
recriação histórica de Tornatore com o uso de imagens de
arquivo de outro recente filme italiano inspirado por fatos históricos: "Vincere", de
Marco Bellochio.
Enquanto Tornatore gastou fortunas para reproduzir
um "real" que, de tão espetacular, mais lembra um parque temático, Bellochio,
usando sensibilidade e economia de recursos, deu a
"Vincere" um tom documental que tornou a história ainda mais poderosa.
Prova de que o real está
nos olhos de quem vê. É, afinal, a diferença entre fazer
espetáculo e fazer cinema.
BAARÌA -
A PORTA DO VENTO
DIREÇÃO Giuseppe Tornatore
PRODUÇÃO Itália, 2009
COM Francesco Scianna,
Margareth Madè e Monica Bellucci
ONDE nos cines Espaço Unibanco
Augusta, Iguatemi Cinemark e
circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular
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