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ARTIGO
Literatura polonesa é uma das glórias secretas da cultura européia
NELSON ASCHER
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A literatura polonesa, homenageada em Frankfurt, é
uma das glórias secretas da cultura européia. A barreira que a oculta do público internacional é, naturalmente, a língua de que se vale. O polonês, como, por exemplo,
o russo e o tcheco, é uma língua
eslava. Nesta família de idiomas,
porém, o único que dispõe de
uma literatura mais ou menos conhecida universalmente é o russo.
Ainda assim, os poloneses já haviam começado a produzir um
conjunto rico e variado de obras
quase três séculos antes de o fundador das letras russas, Aleksander Púchkin, nascer.
A divulgação dessas obras foi
seriamente prejudicada pelo
eclipse, ou melhor, pelos eclipses
políticos do país. Importante reino durante a Idade Média e a Renascença, a Polônia foi eliminada
do mapa por mais de cem anos
quando, no final do século 18,
seus vizinhos russos, prussianos e
austríacos repartiram e absorveram seu território.
O Estado polonês ressurgiu
após a Primeira Guerra Mundial,
mas sua existência difícil e conturbada foi abolida, a partir de
1939, primeiro por uma ocupação
alemã e russa; apenas alemã, em
seguida; e, finalmente, só russa,
esta última durando de fato até
1989. No entretempo, o país se
tornou palco de alguns dos combates mais pesados de duas guerras mundiais, de uma guerra com
os soviéticos, pouco depois da Revolução Russa, dos desmandos
sanguinários tanto de nazistas
quanto de comunistas, e da matança dos judeus, pois foi lá que os
alemães construíram seus campos de extermínio.
Como se poderia esperar, essa
história cheia de reveses tem despertado o interesse contínuo dos
escritores poloneses a partir, pelo
menos, do período romântico,
quando o poeta nacional Adam
Mickiewicz (1798-1855), autor do
poema narrativo "Pan Tadeusz",
não apenas deu voz em seus poemas ao desejo de independência
do país, como participou ativamente de movimentos, conspirações políticas e revoltas contra o
ocupante. O século 19 é, na Polônia, sobretudo uma época de
grande poesia; entre os poetas
merecem menção Juliusz Slowacki (1809-49), considerado o rival
de Mickiewicz; e Cyprian Kamil
Norwid (1821-83), um inovador
que, ignorado em vida, tornou-se,
após sua "redescoberta", um pioneiro da moderninade.
A poesia não deixou, desde então, de desempenhar um papel
central, e os dois poloneses contemplados com o prêmio Nobel
que estarão em Frankfurt, Czeslaw Milosz e Wislawa Szymborska são principalmente poetas, como também dois outros autores
famosos, Tadeusz Rozewicz e
Zbigniew Herbert, morto há pouco tempo. A obra desses quatro
representou, em seu conjunto,
um dos momentos mais influentes da poesia mundial na segunda
metade do século 20, um momento continuado por, entre outros,
Ryszard Krinicki, Adam Zagajewski e Stanislaw Baranczak.
As décadas entre duas guerras
mundiais testemunharam o crescimento e a maioridade da ficção
polonesa e a atuação de alguns de
seus maiores prosadores: S.I. Witkiewicz (1885-1939), que se suicidou quando a Polônia foi invadida; Witold Gombrowicz (1904-69), que estava na Argentina
quando estourou a guerra e acabou fixando residência por lá; e
Bruno Schulz (1893-1942), contista judeu assassinado por um
membro da Gestapo. Alguns dos
expoentes da prosa do pós-guerra
são Jerzy Andrzejewski, autor de
"Cinzas e Diamantes", obra filmada por Andrzej Wajda; o romancista Tadeusz Konwicki; e os
escritor de ficção científica Stanislaw Lem, cujo "Solaris" foi levado
à tela por A. Tarkovski. O teatro
polonês tem conquistado renome
graças ao trabalho de alguns dos
escritores mencionados (Witkiewicz, Rozewicz) e de diretores como Tadeusz Kantor e dramaturgos como Slawomir Mrozek.
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