São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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GASTRONOMIA

Nove séculos separam Romanée-Conti da eleição

JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA

Considerado um dos melhores vinhos do planeta, o Romanée-Conti conseguiu mais uma proeza: fazer parte da campanha eleitoral, quando Duda Mendonça, marqueteiro de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ofereceu uma garrafa da safra 97 num jantar após o debate da Globo, antes do primeiro turno, no Rio.
O famoso tinto é elaborado pelo Domaine de La Romanée-Conti, verdadeiro ícone da vitivinicultura francesa. A vinícola está encravada na Côte de Nuits, coração da Borgonha, região localizada no leste da França e reputada, muito especialmente, pela qualidade dos seus goles rubros, elaborados à base de uva pinot noir.
O Domaine possui pouco mais de 25 hectares de vinhedos, que se estendem pelas melhores áreas de cultivo do lugar, denominadas de "grand cru" pelas características privilegiadas de solo e clima.
Na área dos tintos, a casa é dona da totalidade dos vinhedos de La Romanée-Conti e La Tâche e possui parcelas em Richebourg, Grands-Echézeaux, Echézaux e Romanée-Saint-Vivant. Uma pequena faixa de terra em Montrachet nutre de uvas chardonnay o único branco da vinícola.
As uvas de La Romanée-Conti são o alicerce do seu mais cobiçado vinho. O pequeno vinhedo, de 1,81 hectare (menos de dois quarteirões), conhecido há muito pela sua qualidade, trocou de mãos nove vezes nos últimos nove séculos. Um dos seus proprietários, a família Croonembourg, batiza-o como Romanée no século 17, talvez como homenagem à influência romana na região. O dono seguinte, Louis François de Bourbon, o Príncipe de Conti, decide adicionar seu nome, dando-lhe a denominação atual.
Em 1869, La Romanée-Conti muda de proprietário pela última vez, quando Jacques-Marie Duvault-Blochet adquire o vinhedo, criando a base do Domaine, comandado hoje por um dos seus descendentes, Albert de Villaine.
Apenas alguns gramas de uvas saem de cada videira de La Romanée-Conti. A baixa produtividade permite aumentar a concentração de aromas e sabores na fruta. A colheita é feita manualmente e cada cacho passa por uma triagem na adega, onde são removidos os grãos que não estejam em perfeitas condições. Depois de realizada a fermentação, o vinho é colocado em barris novos de carvalho por cerca de 15 a 20 meses. Os tonéis, construídos especialmente para o Domaine, numa pequena tanoaria da região, não são reutilizados. Após abrigar uma única vez os vinhos da casa, são vendidos para outros produtores.

US$ 1.900 a US$ 8.500
Apenas cerca de 6.000 garrafas de Romanée-Conti nascem a cada ano no Domaine. A baixa quantidade disponível para o planeta, o que o torna raridade, faz com que seu preço seja um dos mais altos pagos por um vinho.
Os Romanée-Conti podem ser comprados por valores que variam de US$ 1.900 (safra 1998) a US$ 8.500 (safra 1985) e são encontrados na Expand (tel. 0/xx/ 11/4613-3333), importadora exclusiva do vinho no Brasil (o dólar atualmente utilizado na loja é de R$ 3,18). A safra 1997, tomada pelo candidato Lula, custa US$ 2.200 (R$ 6.996) a garrafa.
Equilibrado e sedutor, é um dos exemplos do nível que os da cepa pinot noir podem alcançar na Borgonha e no mundo (apesar de que -confesso- prefiro o La Tâche). É capaz de envelhecer por muitos anos ganhando complexidade, motivo pelo qual, para muitos, não deve ser bebido jovem. Pode ser, mas até nos primeiros anos é um tinto delicioso.


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