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GASTRONOMIA
Nove séculos separam Romanée-Conti da eleição
JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA
Considerado um dos melhores vinhos do planeta, o
Romanée-Conti conseguiu mais
uma proeza: fazer parte da campanha eleitoral, quando Duda
Mendonça, marqueteiro de Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), ofereceu
uma garrafa da safra 97 num jantar após o debate da Globo, antes
do primeiro turno, no Rio.
O famoso tinto é elaborado pelo
Domaine de La Romanée-Conti,
verdadeiro ícone da vitivinicultura francesa. A vinícola está encravada na Côte de Nuits, coração da
Borgonha, região localizada no
leste da França e reputada, muito
especialmente, pela qualidade dos
seus goles rubros, elaborados à
base de uva pinot noir.
O Domaine possui pouco mais
de 25 hectares de vinhedos, que se
estendem pelas melhores áreas de
cultivo do lugar, denominadas de
"grand cru" pelas características
privilegiadas de solo e clima.
Na área dos tintos, a casa é dona
da totalidade dos vinhedos de La
Romanée-Conti e La Tâche e possui parcelas em Richebourg,
Grands-Echézeaux, Echézaux e
Romanée-Saint-Vivant. Uma pequena faixa de terra em Montrachet nutre de uvas chardonnay o
único branco da vinícola.
As uvas de La Romanée-Conti
são o alicerce do seu mais cobiçado vinho. O pequeno vinhedo, de
1,81 hectare (menos de dois quarteirões), conhecido há muito pela
sua qualidade, trocou de mãos
nove vezes nos últimos nove séculos. Um dos seus proprietários, a
família Croonembourg, batiza-o
como Romanée no século 17, talvez como homenagem à influência romana na região. O dono seguinte, Louis François de Bourbon, o Príncipe de Conti, decide
adicionar seu nome, dando-lhe a
denominação atual.
Em 1869, La Romanée-Conti
muda de proprietário pela última
vez, quando Jacques-Marie Duvault-Blochet adquire o vinhedo,
criando a base do Domaine, comandado hoje por um dos seus
descendentes, Albert de Villaine.
Apenas alguns gramas de uvas
saem de cada videira de La Romanée-Conti. A baixa produtividade
permite aumentar a concentração
de aromas e sabores na fruta. A
colheita é feita manualmente e cada cacho passa por uma triagem
na adega, onde são removidos os
grãos que não estejam em perfeitas condições. Depois de realizada
a fermentação, o vinho é colocado
em barris novos de carvalho por
cerca de 15 a 20 meses. Os tonéis,
construídos especialmente para o
Domaine, numa pequena tanoaria da região, não são reutilizados.
Após abrigar uma única vez os vinhos da casa, são vendidos para
outros produtores.
US$ 1.900 a US$ 8.500
Apenas cerca de 6.000 garrafas
de Romanée-Conti nascem a cada
ano no Domaine. A baixa quantidade disponível para o planeta, o
que o torna raridade, faz com que
seu preço seja um dos mais altos
pagos por um vinho.
Os Romanée-Conti podem ser
comprados por valores que variam de US$ 1.900 (safra 1998) a
US$ 8.500 (safra 1985) e são encontrados na Expand (tel. 0/xx/
11/4613-3333), importadora exclusiva do vinho no Brasil (o dólar
atualmente utilizado na loja é de
R$ 3,18). A safra 1997, tomada pelo candidato Lula, custa US$ 2.200
(R$ 6.996) a garrafa.
Equilibrado e sedutor, é um dos
exemplos do nível que os da cepa
pinot noir podem alcançar na
Borgonha e no mundo (apesar de
que -confesso- prefiro o La
Tâche). É capaz de envelhecer por
muitos anos ganhando complexidade, motivo pelo qual, para muitos, não deve ser bebido jovem.
Pode ser, mas até nos primeiros
anos é um tinto delicioso.
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