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ERUDITO
Pianista russo apresenta no Cultura Artística peças de Schubert e Liszt em dois concertos; ingressos estão esgotados
Arcadi Volodos sobrepõe espírito à técnica
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O russo Arcadi Volodos, 33, é ao
piano um recente e eloqüente fenômeno. Depois de estudar seriamente o instrumento por apenas
dez anos, tornou-se solista das
principais orquestras européias e
norte-americanas. Apresenta-se
hoje e quarta-feira na temporada
da Sociedade de Cultura Artística
-os ingressos estão esgotados
para as duas sessões.
Volodos interpretará duas sonatas de Schubert, "Sonata em Mi
Maior, d. 157" e "Sonata em Fá
Menor, d. 625", e obras de Liszt,
como "Vallée d'Obermann Anos
de Peregrinação - Primeiro Ano"
e "Il Penseroso Anos de Peregrinação - Segundo Ano", além de
sua versão para "Rapsódia Húngara nš 13", deste último.
O russo é em muitos sentidos
um pianista de idéias heterodoxas. Acredita bem mais em compreensão espiritual do que em
técnica como forma de se aproximar do repertório. As pequenas
liberdades que ele toma com os
andamentos são irrelevantes
diante de uma espécie de familiaridade amorosa com as sonoridades que ele produz.
A Rússia nos deu recentemente
Evgeny Kissin. Volodos, um ano
mais jovem, segue um caminho
parecido, que nos surpreende e
nos deixa com uma felicidade impactante, boquiaberta.
A seguir, a entrevista que ele
concedeu à Folha.
Folha - Como explicar seu aprendizado tão rápido do piano?
Arcadi Volodos - Até os 16 anos
eu estudava para me tornar maestro de coral. Como era também
preciso aprender um instrumento, a partir dos nove anos passei a
fazer o piano. Mas era no conservatório uma cadeira suplementar.
Só aos 16 anos passei a estudar para me tornar pianista.
Folha - E a rapidez de sua ascensão, como explicá-la?
Volodos - Na verdade não senti
como se isso tenha sido um problema. Nunca pensei muito em
termos de técnica. Eu gostava de
música. Há pianistas que aos seis
anos já estudam intensamente.
Não foi o meu caso. Consegui viver uma infância normal. Brincava com meus amigos e tinha uma
rotina sem loucuras de estudo.
Folha - Quantas horas o sr. estuda
por dia hoje?
Volodos - Eu não tenho uma rotina. A rotina acaba matando nossas vontades. Quando tenho vontade, estudo bastante. Quando essa vontade não existe, não chego
perto do piano. Ao voltar de alguma longa turnê eu passo duas ou
três semanas sem estudar.
Folha - Mas depois de tantos dias
não é difícil o recomeço?
Volodos - É bastante fácil, porque me sinto refeito. O piano não
é algo que exija a cronometragem
das horas de trabalho. Bem mais
importante é a intensidade do estudo. Uma hora de alta concentração pode me deixar absolutamente exausto. Há também o perigo de me entregar ao instrumento por um número excessivo
de horas e perceber que minha espontaneidade foi prejudicada.
Folha - A expressão "escola russa
de interpretação" tem para o sr.
um significado preciso?
Volodos - Na verdade, não. Há
diferenças acentuadas entre os
pianistas normalmente classificados como integrantes dessa escola. Seria esquisito afirmar que
Glenn Gould, por ser canadense,
pertencia à escola canadense de
interpretação. Não creio que na
música haja uma especificidade
tão clara quanto na pintura, onde
se pode falar do barroco flamengo, com Rubens e Rembrandt.
Folha - Quais os pianistas que o
sr. mais escuta e admira?
Volodos - Tenho preferências
que independem da nacionalidade deles. Sempre gostei muito de
Rachmaninov, de Alfred Cortot,
Artur Schnabel, Walter Giezerking e, ainda, Arthur Friedheim.
Folha - O sr. gravou com apenas
28 anos o "Concerto nš 3" de Rachmaninov (Filarmônica de Berlim,
direção de James Levine). Durante
quantos anos o senhor estudou essa peça?
Volodos - Há uma falsa legenda
em torno desse concerto. É um
concerto muito pianístico. Ele é
fácil de ser interpretado. Rachmaninov foi um grande pianista, sabia escrever para piano. A dificuldade desse concerto é mais "espiritual", a de entrar em sua atmosfera. É um concerto muito intenso, muito dramático. Ele exige
muita energia espiritual e não necessariamente energia técnica.
Folha - Que compositores o sr.
considera tecnicamente difíceis?
Volodos - Acredito com sinceridade que questões técnicas são
próprias a computadores e aparelhos eletrônicos. Pode-se até falar
em técnica, mas como uma imagem, como uma metáfora musical. A música não é compatível
com a técnica.
Arcadi Volodos
Quando: hoje e quarta, às 21h
Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, região central, São Paulo,
tel. 0/xx/11/ 3258-3344)
Quanto: de R$ 80 a R$ 180 (R$ 10 para
estudantes com menos de 30 anos, meia
hora antes das récitas); ingressos
esgotados
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